31.8.09
Como explicar criatividade?
Um belo dia neste diminuto país onde tudo é feito por decreto, decidiram que precisavam ser criativos para poderem competir globalmente no mundo das idéias. Mas como se ensina criatividade? Por onde começar?
É claro que os alunos ainda estão à espera da minha lista de 10 passos à criatividade, coisa que nunca desenvolvi pois achei que fosse tarefa fútil. Mas se tivesse que fazer essa lista, seria assim.
1. Ver #2
2. Ver #3
3. Ver #4
4. Ver #5
5. Ver #6
6. Ver #7
7. Ver #8
8. Ver #9
9. Ver #10
10. Converse com uma nuvem.
5.8.09
Anyplace is Everyplace
Em junho visitei a Bienal de Veneza pela primeira vez. Há exposições pela cidade toda, em pavilhões especiais, dentro de pequenos castelos, nas ruas, onde quer que seja. A cidade é cheia de turistas em junho, e a arte se mistura à publicidade, aos pontos turísticos e a toda a parafernália de souvenires de mau-gosto que formam o kit básico do turistão. Algumas das intevenções artísticas são bem menos visíveis e penetram 'circuitos ideológicos', cruzam entre todas essas camadas sociais dessa cidade-ilha.
Vi os pavilhões dos Giardini, o Arsenale, e várias outras coisinhas. No final do dia, quando me reuni com o grupo, várias pessoas estavam mostrando cartões postais de Veneza hilários, completamente non-sense. Pouca gente suspeitou que fosse uma obra de arte em si, um 'circuito ideolológico. Eu achei estranho á primeira vista - os cartões eram tão bem feitos dentro daquela linguagem cartão-postal de ser, e todos retratavam ilhas, ou cenas que poderiam se passar em uma paisagem 'aquática'. Me lembrou muito o texto de Deleuze sobre ilhas desertas, e como este projeto casa bem com as idéias sobre ilhas e isolamento que Deleuze descreve.
Coincidentemente, estou lendo o Esferas 3: Espumas do Peter Sloterdijk, em que ele descreve vários tipos de ilhas (reais ou imaginárias) em um 'isolamento conectado'. De fato, Veneza é uma ilha imaginada, ela não é um ex-pedaço de continente nem resquício de erupção vulcânica submarina. Veneza é uma terceira categoria da ilha como pura invenção, pura técnica, puro comércio, uma ilha da fantasia, literalmente, uma cápsula totalizante e auto-referente. Quando se está lá, Veneza é impossível de ser evitada pelo olhar - o caráter da cidade penetra tudo, e a imagem de Veneza no subconsciente é indelével. Veneza É a sua imagem, vive dela, e sem ela, morreria.
Aleksandra Mir imprimiu um milhão de cartões postais a serem distribuidos gratuitamente neste projeto para a Bienal de Veneza. Ela subverte a noção de lugar e imagem dentro de uma linguagem gráfica esperada para o meio escolhido.
"VENEZIA (all places contain all others)
The project entails the design, printing and free distribution of one million postcards, to be given away to the general public during the 2009 Venice Biennale.
100 Originals x print run of 10.000 each = 1.000.000 total.
Full COLOUR front
B/W back
The 100 motifs depict a variety of WATERSCAPES from around the world, overlaid with a graphic that spells out ‘Venezia’ in a variety of typical postcard styles. The generic photographs are sourced from a commercial online image bank, and a graphic designer collaborated on the typeface.
The work also entails the installation of a real Poste Italiane mailbox and the selling of stamps in the exhibition area, to provide an immediate tool for the physical diffusion of the work by the public to their relations around the world.
Thus the canals of Venice extend out into the world’s oceans, rivers, lakes, ponds. Venice in every molecule of the rain. The idea of waterways as a supranational entity mirrors patterns of globalization: travel as a matter of course rather than exception, the erosion of the nation-state, and, conversely, its re-emergence as a brand to be marketed. Cultural identity emerges as an effect of global movement rather than static nationality.
Politics as pollution rather than border control."
O Galo Falante
O Talking Cock não fala inglês, fala Singlish, para o qual desenvolveu o Coxford Singlish Dictionary, que é o idioma que eu uso para falar com taxistas, camelôs e as velhinhas simpáticas que fazem faxina lá no escritório. É muito útil também para me comunicar com meus alunos, pois muitas vezes as redações que eu peço para eles escreverem são redigidas na mais fina versão desse patuá, mistura de malaio e inglês com pronúncia chinesa.
O governo e os esnobes daqui são uns baita puxa-saco da China e dos Estados-Unidos, porque sabem que país-anão tem que saber flertar com os gigantes. Abominam essa língua dos "camponeses" e lançam campanhas de serviço público como "Speak Mandarin" e "Speak Good English" para que a populácea saiba se comunicar em algum tipo de idioma de negócios. Não se atentam ao fato de que a maioria chinesa aqui fala Hokkien e não Mandarim, pois a maioria esmagadora da população imigrou da extrema pobreza no sul da China em busca de trabalhos em fábricas daqui. O inglês daqui parece mais com o ingrêis que se usa ao cantar em 'embromation' do que aquilo que se fala em Oxford. Aliás, a frase "Speak Good English" já contém erros de gramática - mas esse eu deixo para vocês descobrirem.
Nesta edição do Talking Cock, um edição voltada inteiramente às comemorações de los 40 años de la Revolución asian-style, com bastante pimenta, para ser comida de pauzinho.
25.7.09
Primeiros parágrafos de um livro que nunca escreverei
Primeiras frases de livros que nunca escreverei II
23.7.09
Primeiras frases de livros que nunca escreverei I
21.7.09
Candelária - 16 anos depois
Dezesseis anos depois, o projeto que ela criou e dirige, Projeto Uerê, dá ensino supra-escolar para 500 crianças na Favela da Maré, e o método de ensino criado por ela, a metodologia Uerê-Mello, já está sendo implementada pelo Estado do Rio de Janeiro como pedagogia para alunos que estudam em zonas de risco. A metodologia é focada em crianças e adolescentes que demonstram problemas de aprendizado em zonas de risco, traumas decorrentes da exposição à violência. A metodologia é inteiramente voltada para a recuperação da habilidade de aprender e busca reduzir o abismo intelectual que separa as classes sociais no Brasil. Se a mudança tiver que começar por algum lugar, que comece pelo intelecto - e depois será mais fácil derrubar as outras barreiras que um jovem pobre tem de enfrentar na sociedade brasileira.
O artigo abaixo foi enviado para a seção de opinião de O Globo, a ser publicado em breve.
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21 de julho de 2009
Não aprendemos nada!
Yvonne Bezerra de Mello, Coordenadora do Projeto Uerê
Há dezesseis anos atrás o mundo se estarreceu diante do assassinato de crianças e adolescentes no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Brasil, naquela ocasião, bem que tentou explicar porque o Estatuto da Criança e do Adolescente não foi implementado de fato, porque crianças são abandonadas e negligenciadas, porque a corrupção endêmica e epidêmica continuava nas suas instituições e porque não se investia corretamente em educação e saúde. Discutiu-se muito o futuro das novas gerações e de uma nova consciência cívica, um novo procedimento responsável e a restauração ética dos poderes constituídos. Pensei que finalmente a dívida social e moral do Brasil com seus cidadãos pudesse ser resgatada. Pensei que finalmente a discussão em torno do assassinato dos meninos nos levasse a aprimorar um processo de democracia e de liberdade consciente de todos os brasileiros frente à aquele trágico acontecimento.
Pensei e desejei que assim fosse. Não foi. Apagados os holofotes da mídia nacional e internacional, esfriados os acalorados debates políticos com explicações vazias sobre o não cumprimento das leis, a vida da cidade voltou ao normal com suas mazelas, com a continuidade de hordas de crianças nas ruas, com a violência aumentando, com os cidadãos cada vez mais sitiados e amedrontados. Fico pensando e tentando achar uma explicação que justifique a razão desse povo ordeiro organizado e trabalhador não sair às ruas e exigir uma mudança na estrutura da sociedade brasileira.
Os gritos das organizações em defesa dos direitos do homem parecem ladainhas sem fim, gente percorrendo os mesmos caminhos nas passeatas em prol da vida, sempre as mesmas ao longo dos anos, os mesmos cartazes, as mesmas frases. Eu tenho a sensação de que paramos no espaço, perdidos nos traumas do cotidiano que nos fazem perder a noção do tempo. Só acordamos dessa letargia quando um cidadão brasileiro perde a sua vida com as balas perdidas, com os autos de resistência sem explicação lógica, com a dor das famílias atônitas com a violência gratuita fruto da ineficácia das políticas públicas.
Para mim a morte daquelas crianças não foi em vão. Na noite da chacina, com todas elas à minha volta tomei a decisão de dedicar meus dias à procura de soluções para a infância brasileira. E assim nasceu o Projeto Uerê e sua metodologia, a Uerê-Mello, especializada em crianças com problemas de aprendizado devido a violência. Eu abracei, naquela praça ao lado dos cadáveres, a causa de transformar esses pequenos seres com tantos problemas em grandes brasileiros eliminando as barreiras intelectuais que os separam das classes mais favorecidas.
O Brasil avançou um pouco na erradicação da pobreza porém continua engatinhando na verdadeira igualdade entre homens que é a qualidade da informação igual para todos. É aí que reside a nossa maior pobreza, é aí onde as nossas diferenças são mais gritantes, é aí onde reside o afunilamento para o nosso desenvolvimento atual e no futuro. As crianças nas ruas e aquelas vivendo nos guetos das cidades são o lado ainda obscuro da nossa sociedade. Os toleramos mas ainda não os queremos ver. É o lado doente do Brasil, doente de fato com uma população infantil e juvenil desenvolvendo doenças psicossomáticas importantes que se traduzem em problemas de aprendizado e pobre desempenho escolar que vão afetar toda a sua futura vida de trabalho.
Dezesseis anos se passaram desde a Chacina da Candelária e aquela cena dos meninos mortos em frente à Igreja ainda não se apagou da minha memória. Ainda não perdi totalmente a esperança de ver um país se educando, todos iguais, com mesmas oportunidades e com a mesma informação. Sem esse ajuste estrutural não teremos desenvolvimento social de verdade.
Mas como não aprendemos nada, mais uma vez como todos os anos faremos as mesmas coisas, reivindicaremos as mesmas políticas públicas que não saem das boas intenções, faremos as mesmas reflexões rápidas depois de ouvir a mídia do dia achando que isso basta para se ter uma sociedade mais justa. Não basta!
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16.7.09
A coisa está realmente ficando preta
"Dear Ms. Isabel Löfgren, M.F.A.,
Several university art museums or their school administrations have recently sold, or have attempted to sell, artworks and objects in their collections to offset operating costs. In response to this, CAA has joined a task force supporting the educational importance of preserving collections at university museums and galleries. The task force—which includes representatives from the American Association of Museums, the Association of Art Museum Directors, the Association of College and University Museums and Galleries, and the Samuel H. Kress Foundation—has established a two-pronged effort: 1) to recognize museums as integral educational resources in the university accreditation process; and 2) to heighten public awareness of the educational value of art museum collections.
Members of the task force are meeting with accreditation organizations throughout the country to enlist their support for the recognition of art museums as integral educational resources.
A petition has been prepared that reaffirms the integrity and value of university and college museums. (...)"
15.7.09
O príncipe
É proibido comprar
Artista vive em crise financeira constante!
E por esse gostinho de não-crise, continuo trabalhando em Singapura (onde é isso mesmo ,heim?) onde não há crise porque o governo censurou (aparentemente os índices de declínio das bolsas pareciam pornográficos demais e foram detidos na imigração).
Aqui também teoricamente não se fala de religião (pra ninguém xingar o(s) deus(es) dos outros) ou política (numa utopia, discutir política pra que, pra derrubar ditador? tão achando que isso aqui é a tailândia?), mas praticamente só se fala de comida e ir ao shopping (parece São Paulo). Porque consumir é preciso, para comer e para fazer o dinheiro circular - o que seria da cosmologia singapuriana , se além de não poder mascar chiclete, fosse proibido comprar?
22.7.08
Janela da Alma
Gostaria de pedir uma ajuda. Não sei se anunciei aqui oficialmente, mas em 2007 virei "Lecturer", ou, Professora, de Communication Design no Lasalle College of the Arts em Singapura. É uma tremenda oportunidade, e estou em cargo de delinear todo o programa de história e teoria da comunicação visual. Logo eu, que reclamei tanto de escrever tese de mestrado, e que falei tão mal do Deleuze há meses atrás! Pois é, e agora que eu estou escrevendo tese de doutorado (porque sofrimento acadêmico eu gosto e é bom), estou in love with Deleuze. Não me critiquem, é que eu sou teoricamente volúvel mesmo - a cada vez que leio um autor novo, me entrego de corpo e alma, sem o menor respeito com todos os outros a quem me entreguei antes. Ainda bem que estão todos os mortos!
Bem, a vida tem suas ironias. Tenho que agora ensinar isso tudo para 300 alunos de Singapura e de alhures.
Como parte de uma aula sobre o olhar, gostaria de mostrar o filme/documentário "Janela da Alma". Alguém tem cópia legendada? É uma das melhores fontes que eu encontrei sobre o olhar. Alguém tem link? Pode rippar de algum DVD?
Agradeço.
3.8.07
17.5.07
Crítica do Fake
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Fake
Acho que ninguém mais pensa a sério em conceitos como verdade, pureza, início. Daí a curiosidade com uma exposição chamada Fake, do Grupo DOC, na Galeria 90. Se existe um fake, é porque existe alguma coisa que não seja.
Resta um aspecto que tem mais a ver com o vocabulário literário do que com o das artes visuais e que é o da metáfora.
A metáfora traz uma questão de complementaridade, seja como paralelismo ou oposição, entre os campos diegético e extradiegético.
(Agravada aqui pela virtualidade de um e outro: a exposição é de fotos, vídeos.)
O caso é que o Fake do Grupo DOC tem o fake e seu abismo de espelhos, e tem também um desejo de referência, ainda que metafórica, já que referência “toute courte” é uma impossibilidade filosófica. Há um universo, se não verdadeiro, puro ou inicial, pelo menos posto em paralelo - e incessantemente reabsorvido. E isso dá uma impressão de unidade composta por diferenças - que é a própria definição do que seja uma metáfora.
Assim é nas notas de dinheiro com ídolos pop, na cabeça romana feita de espuma, ou no irônico vídeo sobre história da arte.
Mas metáforas e outras construções de linguagem se completam na cabeça de quem as vê/lê. E, para isso, é preciso supor uma cultura uniformizada, comum, que compartilhe valores e símbolos, o que é mais uma dificuldade em época de pulverização de tribos, de agudo ressurgimento de grupos.
Existe um outro tipo de conceituação de construções artísticas, sem referentes ou metáforas. É o orgânico. Nasceu no período romântico do Século XIX mas o exemplo mais citado é o de James Joyce. O artista partiria de um núcleo - fragmento de memória ou experiência - que incha e cresce segundo critérios estéticos, como o som das palavras ou a textura da tinta. O defeito dessa teoria é a idéia de que há um conteúdo inicial sem forma (o fragmento de memória) que conquistará sua forma à medida que se afaste desse conteúdo inicial. Uma tautologia das boas, ausente, que bom, dessa exposição.
Então, recapitulando: o fake é fake assumido, em um mundo sem referências, onde também não há organicidades fechadas em suas peles; esse fake usa a metáfora como um simulacro de exterioridade, sendo que metáforas, infelizmente, também são uma construção e, pior, sujeitas a um compartilhamento cultural cada vez mais raro. O humor - porque tudo isso é feito com humor - se dá no nanossegundo em que você percebe isso.
E aí, que remédio, só rindo.
6.5.07
E foi só....
Já entendi que tem que mostrar carne e pele pra vocês se interessarem.
o IDCard ainda vive!
O projeto ainda está vivo. Se você ainda tem a sua conta no Fotolog, escaneia a foto rapidinho, e manda!
Obrigada.