Passei a semana passada na Patagônia, aos pés de um dos muitos vulcões ativos naquela região. Fiquei impressionada com o fato da terra lá ser negra assim como a areia dos leitos de rios e dos lagos. Linda a paisagem do extremo sul do continente, deserta, até um pouco monótona por ser muito homogênea devido à pouca vegetação, mas não menos dramática. O vulcão ficava cuspindo fumaça todos os dias, e eu desejando que aquele vulcão entrasse em erupção só para ver aquela língua de lava lambendo as encostas, e quem sabe, me petrificando junto, como se fosse uma Pompéia.
Levei apenas um livro para ler durante a viagem "A interpretação dos sonhos" de Freud e mais um sketchbook, mas não consegui levantar o lápis para desenhar uma linha sequer. Freud vê o vulcão como uma metáfora do sexo, e mais precisamente, da libido que é a origem da energia psíquica que consequentemente é utilizada para a realização das coisas na vida. Para Freud sexo é metáfora para tudo. Adoro essa idéia porque é uma generalização incrível, e gosto de generalizações acertadas, ao invés de precisões sem significado.
A metáfora da energia psíquica (libido) como um VULCÃO subconsciente cheio da energia obscura do instinto se refere a estruturas de pensamento que determinam nossos sentimentos e comportamentos em um estágio muito primitivo, onde os instintos mais básicos são exercidos: fome, agressão, territorialidade. Um vulcão em atividade, mas não em erupção significaria então que todos esses sentimentos ou instintos estão ativos porém latentes, e Freud chamaria um vulcão em atividade de libido reprimida, dado que ela seria liberada quando o vulcão entrasse em erupção.
Ou seja, a erupção do vulcão significaria um orgasmo do planeta. Lindo essa imagem, da Terra tendo orgasmos, gozando pedra quente e destruindo tudo em volta com um suspiro fulminante. Mas eu fiquei só vendo a fumacinha, quem sabe de um foreplay muito bem feito lá nas profundidades do cortex do planeta. De qualquer maneira, tomei banho nas águas termais, naturalmente aquecidas, como orgasminhos planetários, e eu ali no meio cozinhando feito um pastel gyoza, me refestelando na libido da Terra e esperando que essa libido me contagiasse também.
Freud pode ter vários problemas nas suas teorias, mas acho maravilhoso poder ler sobre a libido e como ela é a metáfora da vida, do processo da vida, daquele tempo entre nascimento e morte, e das pequenas (ou grandes) erupções vulcânicas que acontecem no meio disso tudo...
7.9.04
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Eu que tenho um normal pavor à generalização gostei de tua frase. Estas multi-facetas da realidade me deixam louco, mas reealmente é melhor uma generalização acertada que definições fora do foco. Abraços.
ReplyDeleteReginaldo www.mblog.com/singrando
Olá,
ReplyDeleteMe deculpe a total ignorância, mas me interessou bastante a metáfora que você conta, sobre o vulcão e a libido. Você poderia me passar o nome do livro em que você a encontrou?
Obrigado,
Cadu
(cadu_riccioppo@yahoo.com.br)