No último mês tenho travado uma luta entre a minha mente, que quer parar de fumar, e o meu corpo, que não quer que eu pare de fumar. A mente sempre deve prevalecer, pois o bom senso suportados pela comunidade médica mundial e as estatísticas de morte por câncer de pulmão estão me dizendo, não, me convencendo, de que fumar mata. Sou uma pessoa razoavelmente inteligente, sei que faz mal mas mesmo assim o meu corpo clama por um cigarro a cada hora que passa. Às vezes a minha mente esquece de se lembrar de fumar, mas o meu corpo está lá rogando por aquele prazer.
Depois de ver O Informante, anos atrás, o filme me convenceu de que a culpa definitivamente não é minha. Sendo que metade das substâncias presentes no cigarro não estão escritas no rótulo, propositalmente ocultadas do público pelas companhias, não tenho como saber de antemão porque essa porcaria vai me viciar. Só sei que cresci numa casa em que meu pai fumava 3 maços por dia e isso já me fazia uma viciada desde a mais tenra idade. Tá explicado: a culpa também é do meu pai. Também sempre tive uma certa queda pelo homem de Marlboro. A culpa é dos bilhões de dólares gastos em propaganda que eu não pedi pra ver durante a novela das 8. Além disso sempre admirei a Marlene Dietrich envolta de fumaça, ela era tão sexy com aquele cigarro que sinalizava a sua independência e uma banana para as mulheres submissas. E eu queria ficar assim, independente. Me venderam uma imagem de dependência, isso sim. A culpa é da Marlene Dietrich.
A verdade é a seguinte: eu sou viciada em cigarro porque me permiti ficar viciada. Me recuso a submeter as minhas vontades ou decisões de consumo a fatores que não controlo, à mídia, ao lobby do fumo, ao meu pai, ou à Marlene Dietrich. Se eu escolhi a minha causa mortis precocemente, ninguém não tem nada a ver com isso. Não tenho como evitar um acidente de carro ou um assalto, mas morrer por causa de cigarro é de uma burrice extrema.
O Super Size Me, filme que vai estrear daqui a 3 semanas no Brasil, fala exatamente disso só que com o consumo de fast food. Será que as pessoas conseguem evitar de comer hamburger no McDonald's? Até que ponto a decisão de entrar na lanchonete é um ato induzido? Não seria a propaganda ostensiva do Ronald McDonald vendendo felicidade em forma de carne prensada (junto com um brinquedinho) a grande culpada pela obesidade e má saúde da população mundial? Será que somos tão "gado" que não conseguimos basear nossas escolhas de consumo em nossas próprias convicções ou precisamos de um sistema para legitimá-las? O pior é que McDonald's' vicia. O fígado do cara do documentário quase virou um purê depois de 30 dias comendo McD no café, almoço e jantar, e o médico que o acompanhou durante a experiência disse que nunca tinha visto coisa igual. Há crianças nos EUA com início de cirrose decorrente do consumo de fast food. Onde se começa a resolver o problema?
Só sei de uma coisa: fumar ou não fumar, comer hamburger ou não, depende inteiramente de mim. Não dá pra culpar o mundo, ou sair por aí botando disclaimers em todas as embalagens. "Olha, fumar mata, depois não diz que a gente não avisou. Olha, hamburger engorda, depois não sai por aí processando a gente, tá?". O pior é que essas empresas são mests em relações públicas e não avisam nada, ocultam os seus métodos de produção deixando a população de consumidores orfãos de informação sobre as quais basear suas escolhas. Você só pode basear escolhas em cima de conhecimento ou experiência, e se o seu conhecimento é baseado no que você vê na propaganda, coitado de você, problema seu. Eu só sei que nunca mais vou pisar num McDonald's porque não quero endossar aquela nojeira, sou uma consumidora em potencial a menos, o meu dinheiro eles não vão ver.
Já o cigarro, o estrago já está feito. O meu corpo continua patrocinando a Phillip Morris e a Souza Cruz embora minha mente me diz que essas não são as minhas convicções. Sei que comecei a fumar por causa de uma imagem, mas a culpa é minha por ter me apaixonado pela Marlene Dietrich. Antes tivesse me apaixonado por suas pernas, essas sim valeriam a pena imitar.
29.7.04
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Bebida e direção não combinam, todos sabem, certo?
ReplyDeleteMuito bem... Um cara entra num bar, bebe até ficar de porre, pega o carro, sai desgovernado e se arrebenta contra um poste.
1. Por que os paramédicos socorrem ele?
2. Se ele estava ciente dos riscos que corria ao beber e dirigir, por que gastar o dinehiro público socorrendo o imbecil?
A resposta para as perguntas acima talvez te ajudem a refletir sobre a questão do fumo e do McDonalds
Abraços
Marcelo Barros
http://para_muy_pocos.livejournal.com
Pois é, eu compartilho do seu drama. Fumo desde os 18 anos, e essa meleca vicia mesmo. Já considerei fazer um tratamento pra largar, com sei lá, patches de nicotina e anti-depressivos, o que o médico mandar. Meu cérebro não quer fumar, meu corpo pede desesperadamente pelo cigarro, com a mesma urgência que pede para eu ir ao banheiro ou comer. Impressionante. Quem nunca fumou não compreende isso.
ReplyDeleteE eu também penso que deveriam oferecer alternativas de tratamento e auxílio a quem quer parar de fumar, porque simplesmente dizer "então pare" não resolve nada.