19.9.05

Derrida-da

Achei esse comentário do Horvallis hilário, em resposta ao meu post sobre o situacionismo.

O mais engraçado, é que essas teoria francesas não pegaram aqui, em França.
Elas estão voltando somente agora como moda americana.
Nunca ouvi uma só vez o nome de Derrida quando estudei a arte ! Conheci ele através dos sites americanos !
De fato, acho os livros de Derrida totalmente ilegíveis - o que me faz pensar que os tradutores devem ter feito milagres.


Outro dia me encontrei com uma curadora francesa que ficou muito bem impressionada com a arte contemporânea brasileira. Acho que nós temos um frescor necessário aos tempos de hoje e que os artistas jovens da Europa têm dificuldades de se libertar das tradições, além do fato de que a maioria deles, segundo ela, iniciam os estudos de arte sem nunca ter posto os pés no Louvre. E ela estava falando de alunos de história da arte que vivem em Paris. Acho isso curioso porque é justamente no Brasil, onde temos relativamente pouco acesso a textos em tradução e falta bibliotecas especializadas em arte, que damos maior importância a esse tipo de estudo teórico. Talvez os franceses acham que o Louvre é coisa de turista, ou sendo que está tudo tão acessível, não percebem o valor do patrimônio que têm em mãos... Conheço artistas aqui no Brasil que dariam um braço para ver um Picasso em carne e osso.

É sabido que as teorias francesas tiveram muito melhor aceitação nos Estados Unidos no final dos anos 70 e início dos 80 do que na própria Europa, os textos tendo sido traduzidos e publicados e espalhados feito incêndio na floresta pelos meios acadêmicos e artísticos. Como no meu mestrado o que eu mais leio, pasmem, é sobre teoria da arte européia e americana (nunca me foi recomendado nenhum texto do Mário Pedrosa e o manifesto neo-concreto do Ferreira Gullar passa longe das bibliografias), tenho que ficar muito atenta a o que estes franceses malucos escreveram e como o governo brasileiro me paga um salário de pesquisadora, me sinto na obrigação de absorver tudo isso. Mesmo que seja só para dizer que não passa tudo de uma grande besteira.

Eu adoro ler coisas que eu mal entendo simplesmente pelo esporte de "filosofar", mas depois de um tempo passo a compreender certas questões que adicionam mais camadas ao meu próprio trabalho e quando isso acontece é uma delícia. Não que o trabalho tenha que ser uma ilustração de uma idéia de outra pessoa, longe disso, mas o prazer de saber que o meu trabalho possa ter reverberações fora de mim, ressonâncias com o mundo externo. É bom saber que a gente faz parte de alguma coisa além de si, mesmo que esta coisa seja apenas uma bonita frase perdida em meio a textos complicados. Comecei a ler o Mil Platôs do Deleuze/Guattari e é muito bom. No fundo você tira da filosofia e/ou teoria o que você precisar. Ou joga tudo fora e dá uma bela de uma banana.

It's up to you.