29.12.04

Susan Sontag: a mulher que deu sentido a fotografia

Abro o jornal de manhã e, além, das notícias cada vez mais devastadoras sobre o tsunami no Oceano Índico, leio a nota de obituário de Susan Sontag, grande ensaísta americana, que revolucionou o pensamento sobre a imagem fotográfica na era contemporânea (entre outras coisas), leitura obrigatória para estudantes de arte e cultura, artistas, e pessoas inteligentes e esclarecidas em geral...

Descobri Susan Sontag um pouco tarde, confesso. Mas o seu efeito sobre como penso sobre a "imagem" não é menos efetivo. Há alguns meses fiz um post sobre ela na ocasião de um artigo publicado por ela na New York TImes Magazine sobre as fotos de Abu-Ghraib. Ao mesmo estava lendo "On the Pain of Others", livro maravilhoso sobre questões de ética e imagem no fotojornalismo. Vale realmente a pena a leitura.

O mundo da cultura e das idéias perde uma mente brilhante...

Como homenagem, o BoH inclui abaixo um pequeno trecho do livro "On Photography", publicado pela primeira vez em 1977:

Humankind lingers unregenerately in Plato's cave, still reveling, its age-old habit, in mere images of the truth. But being educated by photographs is not like being educated by older, more artisanal images. For one thing, there are a great many more images around, claiming our attention. The inventory started in 1839 and since then just about everything has been photographed, or so it seems. This very insatiability of the photographing eye changes the terms of confinement in the cave, our world. In teaching us a new visual code, photographs alter and enlarge our notions of what is worth looking at and what we have a right to observe. They are a grammar and, even more importantly, an ethics of seeing. Finally, the most grandiose result of the photographic enterprise is to give us the sense that we can hold the whole world in our heads -- as an anthology of images.


To collect photographs is to collect the world. Movies and television programs light up walls, flicker, and go out; but with still photographs the image is also an object, lightweight, cheap to produce, easy to carry about, accumulate, store. In Godard's Les Carabiniers (1963), two sluggish lumpen-peasants are lured into joining the King's Army by the promise that they will be able to loot, rape, kill, or do whatever else they please to the enemy, and get rich. But the suitcase of booty that Michel-Ange and Ulysse triumphantly bring home, years later, to their wives turns out to contain only picture postcards, hundreds of them, of Monuments, Department Stores, Mammals, Wonders of Nature, Methods of Transport, Works of Art, and other classified treasures from around the globe. Godard's gag vividly parodies the equivocal magic of the photographic image., Photographs are perhaps the most mysterious of all the objects that make up, and thicken, the environment we recognize as modern. Photographs really are experience captured, and the camera is the ideal arm of consciousness in its acquisitive mood.


Continue reading....

25.12.04

Ano que Vem

Feliz 2005 para todos os que visitam o BoH regularmente e para todos os novos visitantes.

Ano que vem prometo muito mais intensidade nos debates pois estarei fazendo mestrado e produzindo muitos novos trabalhos.

Comentem, divulguem. O BoH em março fará um ano e planejo comemorações.

Um abraço a todos e Boas festas!!

17.12.04

Arte e Blogs

Há alguns meses, a Ana Lucia fez um post muito legal no blog Arte sobre artistas e blogs. Ela aponta, entre outras coisas, que um artista usa o blog como uma extensão de seu atelier, e é realmente verdade. O blog dá acesso à produção de um artistaque uma galeria jamais poderia dar. Aliás, as galerias e colecionadores são muito protetores de suas colecões e as mantém de difícil acesso para um reles mortal. Para mim, arte é um processo participativo e não necessariamente isolado, e os blogs fazem um trabalho excelente em disseminar o trabalho de um artista além de tornar a sua obra 100% participativa. Será que a obra de um artista consiste dos objetos que produz ou a obra de um artista é o seu processo? A resposta é: os dois.

A Ana citou o Book of Hours, quem vos escreve, o Loba Má, quem vos escreve novamente, e o blog do Dudi Maia Rosa, pintor paulista muito fera. O blog do Dudi é uma delícia, posta muitas imagens dos trabalhos em curso, o que nos dá uma perspectiva muito mais pessoal e completa do que uma gélida exposicão numa galeria qualquer. Não que o trabalho do Dudi seja gélido, muitíssimo pelo contrário, mas que numa galeria só vemos os resultados, não vemos a transformação da arte nem do artista. O blog nesse caso seria uma dimensão única de um artista possibilitada apenas através desta engenhoca maravilhosa que inventaram para fazer com que um computador falasse com o outro.

No meu caso, posso dizer que me preocupei em apresentar um projeto bastante coeso e consistente no meu fotolog, sem editar demais o material e ainda me beneficiei de todos os comentários dos visitantes. O contato com o público é tão mas tão importante, que me satisfaz muito mais postar no fotolog do que ver a reação das pessoas na galeria. Tenho tentado manter o Book of Hours como um blog sobre arte e não sobre as notícias do mundo ou do meu universo pessoal que realmente não é tão interessante assim e nem sempre contribui para o meu pensamento sobre arte e se é pessoal, são parábolas de idéias que tenho. Este é um espaço de pesquisa e de curiosidade e amor pela arte.

Acreditem, blogs e arte/artistas já virou tese de mestrado nos Estados Unidos. Acabou de acontecer nesta semana um debate promovido pelo Rhizome.org sobre esta questão e segundo o Tom Moody, minha mais recente descoberta, as pessoas-que-importam-no-mundo-da-arte compareceram em peso. Isto significa que um dos destinos da arte nessa era da informação é a internet, sem dúvida nenhuma, e mesmo os mais tradicionalistas estão começando a entender isto.

15.12.04

Macacos me Mordam!

Land of the Free, Home of the Brave. Façam o que quiserem, mas não ofendam o governo!
Todo mundo sabe que o déspota-usurpador americano se parece muito com um macaco. Mas Chris Savido, pintor americano de 23 anos, fez um retrato de Bush usando exatamente macacos para reconstituir o rosto do presidente americano e expôs o quadro numa exposição de arte cujas obras aparecem na revista "Animal Magazine".


Chris Savido
Bush Monkeys
Acrílica sobre tela
2004
foto:Reuters

Só que das 2000 pessoas que visitaram a mostra coletiva de novos artistas no Chelsea Market em NY na semana passada, um administrador do governo ficou putinho e mandou fechar a exposição, ameaçou o curador de prisão e processar o pintor.

Mas o curador transferiu essa obra e outras tantas para a sua Animal Gallery em outro canto da cidade. O que faz com que o Bush continue com a companhia de outros animais em um zoológico particular....Depois esses americanos vêm aqui nos criticar por sermos uma republiqueta das bananas com nossos pequenos caudilhos mortos-de-fome, enquanto a preciosa "freedom of speech" lhes é ameaçada por administradores pequeno-burgueses reacionários do seu próprio governo. Vão se catar macacada ianque!

Leia Mostra de arte em NY é fechada por causa de retrato de Bush

14.12.04

Porque nao existem grandes Net Artists

Em 1999 Steve Dietz escreveu sobre os paradoxos da Net Art. Este excelente artigo tenta colocar a Net Art no contexto da arte como nova mídia e traça paralelos com um artigo de Linda Nochlin "Why Have There Been No Great Women Artists?" escrito nos anos 60 sobre mulheres e arte cujo objetivo era responder, através da pergunta aparentemente boba do título, não sobre a qualidade da arte feita por mulheres mas sobre a noção da arte dentro do sistema patriarcal da arte. Dietz tenta fazer a mesma com a pergunta "Why Have There Been No Great Net Artists?"

trechos:

Just as in the 80s it was nearly impossible not to quote Walter Benjamin's "The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction," at the turn of the millennium, it is nearly impossible not to mention the millennium--or Marshall McLuhan's dictat that we always understand new media via old media: the horseless carriage, moving images, broadband or interactive TV.

For many of us, our formative education, our environment, the fishtank we unknowingly swam in, was television, photography, video, conceptual art, music, performance, even computers. Without wanting to claim that the only net artists who are under thirty have with the mojo to be great, it is not hard to imagine that someone who has been programming, whether it is levels of Doom or starlogo, since she was five; who has to go to a museum to know what a dial telephone is; who doesn't automatically equate a keyboard with clerical work; who thinks that chatting online is as real as chatting on the phone; it is not hard to imagine that such a person has had a different education, a different upbringing than those who currently manage the art world apparatus. It is not hard to imagine that she might do something different; something that may have a relation to old media, but which is not necessarily trying to make broadband TV or interactive video or digital photography or electronic music or computer art. It is hard to imagine what this will be; what it will look like; how it will act.

It is just possible that the failure is in our ability to imagine great net art, not in net art's ability to be imagined.


The "problem"... problem

The problem with net art is that it is so opaque.
The problem with net art is that it is so obvious.
The problem with net art is that not everyone can see it.
The problem with net art is that it takes too long.
The problem with net art is that it's ephemeral.
The problem with net art is that it's too expensive.
The problem with net art is that anyone can make it.
The problem with net art is no one supports it.
The problem with net art is that it is being usurped.
The problem with net art is that it's boring.
The problem with net art is that it's too challenging.
The problem with net art is all those plug-ins.
The problem with net art is that it is so reliant on industry standards.
The problem with net art is that it's old hat.
The problem with net art is that it's too new.
The problem is that there is no great net art.


Imagino o que ele diria sobre Net Art em 2005...

Mais sobre mictorios duchampianos

Só para desvendar os mistérios do mictório de Duchamp, a obra mais influente da arte moderna, a blogueira e crítica de arte Sheila Leirnerdá no post dela "Abacaxi" um scoop sobre a assinatura da obra, "R. Mutt".

"....obre o ready-made, ele me pergunta se penso que nos indagamos suficientemente sobre o significado da assinatura R. MUTT colocada sobre a Fonte da qual Alfred Stieglitz fêz a foto modêlo de 1917 para ilustrar The Richard Mutt Case. Para quem não sabe, este é o título da “carta aberta aos americanos” que Duchamp escreveu quando o urinol foi recusado pelo juri do Salão dos Independentes em Nova York e que foi publicada no primeiro número da revista O Homem Cego criada por ele e seus amigos. Um pouco assim como quando o júri do salão de Brasília recusou o famoso Porco de Nelson Leirner, que hoje está na Pinacoteca de São Paulo.

Richard Mutt é o nome de uma fábrica de aparelhos sanitários em Nova York, mas o professor Cornovitch avança uma outra hipótese. Segundo ele, “Mutt em inglês é um palavrão que significa “idiota, imbecil, cretino” (o que em francês moderno e corrente seria “sale con”). Ele pensa que aos olhos de um germanista como Duchamp, R. Mutt pode ser lido ainda como “Armut” que, em alemão significa “pobreza”, “indigência”, “penúria”, “incapacidade”. A frase “Geistige Armut” quer dizer “pobreza de espírito”. Em inglês, como em alemão, a palavra soa portanto pejorativa, mortificadora e humiliante, em acordo com o uso do objeto que, na sociedade moderna, serve à evacuação da urina. “Será que essa obra de Duchamp, pergunta o professor, não trataria também de um esvaziamento generalizado dos valores, servindo também como uma concha, uma bacia ou uma 'fonte' onde enxaguamos os olhos dos nossos preconceitos?”


Como sempre, mesmo depois de 100 anos, o puto continua atiçando a brasa. Duchamp é o único artista conceitual realmente original. O resto é tudo cópia.

Literatura e Novela pelo celular

"A literatura chegou à telefonia celular. Sem grande divulgação, o projeto Celuler (www.celuler.com.br) - um serviço de recebimento de textos de autores nacionais e internacionais em celular - está há um mês ganhando adeptos na base do boca a boca. Atualmente, conta com cerca 220 celulares cadastrados, mas a meta é atingir a marca dos 3.500 até fevereiro, adianta seu idealizador Luiz Mendonça, dono de uma empresa de telecomunicações responsável pelo desenvolvimento e administração do projeto. ''A idéia é formar leitores, as pessoas que lêem sabem que o gosto vem do hábito'', comenta Mendonça. ''Além disso, para o autor publicar um livro é caro, demorado e, como no projeto ele está comprometido a escrever, acaba formando uma obra e pode reuni-la em livro. Outro objetivo nosso é dar apoio a novos autores.' "

Escritores, blogueiros, noveleiros, infiltrem-se no celular da galera!!!

13.12.04

Julian Opie

Desculpem se estou promovendo os ingleses ultimamente, mas é que eles são os melhores do mundo hoje em dia.

Vejam site de Julian Opie, original até o último pixel. A interface do site tem tudo a ver com as simulações eletrônicas das paisagens que pinta. Perfeita expressão para aqueles, que, como eu, cresceram jogando Atari e Nintendo. É óbvio que a estética computacional iria provocar a imaginação de alguém da minha geração.....

Obito.

Sei de muita gente que diz que a pintura morreu.

Mas não conheço ninguém que tenha ido ao enterro.

11.12.04

Vencedor do Turner Prize 2003: Grayson Perry.



Olhem a figura que está na foto. Um travesti? Um praticante de sadô-masô? É o artista plástico e ceramista Grayson Perry que acaba de ganhar o Turner Prize, o prêmio de artes plásticas mais importante da Inglaterra, e um dos mais importantes do mundo. Ganhou o Turner ano passado, virou lenda.

Este artista é antes de tudo um ceramista. Faz ânforas, vasos, potes de todos os tamanhos. Até aí nada demais, até reparar nos desenhos que estão nos vasos. Cenas da vida contemporânea como modelos entediadas, comentários sobre o world trade center, etc...Gosto de seu trabalho porque é absolutamente pessoal e fácil de assimilar. É como se os potes e urnas fossem seu diário pessoal. O suporte seja a cerâmica ou o bordado, ou a ilustração, suportes geralmente não associados com a Alta Arte aliados a um requinte de técnica impressionante transformam esses desenhos, inicialmente banais, em algo universal, podendo ser apreciados como obra de arte, e, agora, entre as melhores produções do mundo. Gosto principalmente de como ele descreve suas obras.


Dolls at Dungeness, September, 11th 2001

"Immediately after the attack on the twin towers, the media seemed to be full of reports of prejudice and anger from all sides.  In this pot the toys are just as much the bigots and aggressors as the war planes flying overhead, both are inanimate objects on to which we project our feelings.  My father helped to build Dungeness Nuclear Power Station."

E este é um dos meus favoritos. Porque tem tudo a ver com algo que escrevi aqui.


Video Installation (1999)

"Here are listed ten sorts of work that I feel have become clichés in contemporary art. The novel soon becomes orthodox." 25cms

E por último, outro trabalho cujo conteúdo tem tudo a ver com o meu trabalho, o dos Espaços do Tédio...




Boring Cool People (1999)

"I'd been to see the Patrick Caulfield exhibition at the Hayward Gallery and I was thinking how contemporary the paintings looked. I've placed a collection of stylish young trendies in a 1950's modern interior. They all look bored and are boring because they are scared of making a mistake. They wear the right kind of clothes, have the right kind of ideas. They are not creative."
60 cm

9.12.04

Leilao de Fotografia no Rio de Janeiro

A minha obra está hoje na capa do Fotosite, anunciando o leilão de fotos do Ateliê da Imagem que ocorrerá no dia 17 de dezembro no Atelie Da Imagem, no rio de Janeiro. É uma oportunidade de adquirir obras de grandes fotógrafos a preços muito muito pequenos, e o meu trabalho está lá também. Procurem por Isabel Löfgren, e aumentem o lance inicial da minha obra aqui. Os lances podem ser dados online, e você aparece no leilão, arremata, e ainda leva uma linda obra de arte para casa. Muitos jovens profissionais com amor à arte iniciam suas coleções privadas de arte desta forma, comprando obras de artistas jovens e consagrados por valore muito abaixo do mercado. É uma excelente oportunidade

Essa minha obra está sendo com lance mínimo de R$50,00 e alguém já prescreveu por R$80,00.



Isabel Löfgren
[search: "pink" filetype:jpg] mostrando 1,380 de 87,456 resultados
Impresão digital fotográfica
60 x 35 cm
2004

Quanto mais alto for o lance inicial, mais chances terei de vender esse trabalho por um preço bom, podendo custar R$200 ou R$ 250, ou seja, bem abaixo do preço de mercado. Façam seus lances!

E como o trabalho é uma impressão digital, ainda leva um CD com o arquivo para reimprimir caso alguma coisa aconteça com a obra e mais um certificado de autenticidade assinado por mim.

8.12.04

O novo Moma e a nova historia da arte

Tenho lido muito sobre a inauguração do novo Moma, uma abertura polêmica por vários motivos. Primeiro o prédio antigo, que era um ícone da arquitetura moderna, foi substituído por um edifício lindo de morrer com uma circulação completamente diferente. Mudança de estilo, mudança de estratégia.



O Moma foi a primeira instituição criada para abrigar e dar nexo à produção moderna, que, em 1928, quando foi inaugurado o Moma original, ainda estava em plena ebulição. Como juntar cubistas, fauvistas, surrealistas, dadaistas, futuristas, expressionistas e metafísicos debaixo de um mesmo teto? Existe realmente uma ligação entre cada um? É possível estabelecer uma cronologia entre todas essas vertentes? Como contar a história de uma arte (ou de uma época) que veio como uma explosão? Por onde começamos, quem vem depois de quem, ou deve ser visto junto de quem? No antigo prédio, a coleção começava com um Cézanne. E até hoje, Cézanne era tido como o pai do modernismo, o primeiro a deslocar o olhar de um classicismo latente para a modernidade. Ele simplificou a representação da natureza e do espaço pictórico em termos de cones, cilindros, e esferas, uma espécie de mote de construção para suas paisagens e uma pesquisa intensa na construção da imagem. A arte se tornara científica, com consciência. A vitória da razão e da ética, e o final do ilusionismo.


Paul Cézanne. The Bather. c. 1885. Oil on canvas, 50 x 38 1/8" (127 x 96.8 cm). Lillie P. Bliss Collection


Mas hoje, isso mudou. Na entrada do novo MOMA, reinaugurado depois de 7 anos de reformas, houve mudanças estratégicas em como as peças da coleção do museu foram dispostas, o que, consequentemente, muda a história da arte tal como estudávamos e apreciávamos até hoje. Entra o lado Pop como determinante da cultura moderna e contemporânea, entra a questão da imagem, entra o individualismo pós-moderno, saem a forma, a estética, e as linhas modernas.


Paul Signac
Against the Enamel of a Background Rythmic with Beats and Angels, Tones and Colors, Portrait of Félix Fénéon
1890

Esta imagem de Paul Signac, um pintor menor em sua época, substitui o pai do modernismo, Cézanne, com os seus "Banhistas", na entrada da coleção de pintura. Segundo o trecho do artigo, o diretor do Moma Glenn Lowry, não considera mais Cézanne como o pai do modernismo, mas como um pintor clássico rebelde,. Ele acredita que é necessário "... to keep up with what is happening today and be willing to go back to historical moments, identify what gaps there are and then pursue them with a relentless commitment."

No lugar dele, bem na entrada da exposição botou um Signac, pintor pointilista (um movimento quase isolado) que considero de pouca genialidade e profundamente chato, como um precursor da vertente pop e da exaltação da "celebridade", reforçado por um punhado de Warhols mais tarde na mesma exposição. Ele quis exaltar um impressionismo-pop que nunca existiu como tal para justificar a santificação de Warhol, em detrimento ao grande expressionista abstrato Pollock, que antes ocupava o trono de artista americano mais importante. (Mas ouvi boatos de pessoas que pagaram os $20 dolares de entrada que tem um punhado de Cézannes pequenininhos na primeira sala, pertinho do Signac, mas não é a mesma coisa).

Saem Cézanne e Pollock, entram Signac e Warhol. Ok, ainda estou digerindo esse Signac pois o Warhol já é sagrado, o artista mais importante da segunda metade do século 20. Mas me pergunto porque não puseram um Duchamp como frontispício? Ele tem muito mais a ver com o Warhol e cia. do que um Signac medíocre. Mas a história é escrita pelos vencedores, sempre.

E um oportunismo que muda as coisas não só em nível da instituição, mas em nível de mercado também. O Moma dá o passo para a leitura da arte do momento. Quem expõe no Moma entra no pantheon das artes e o estilo do artista passa a virar tendência, movimento, etc. Os Signacs serão leiloados a preços recordes, enquanto outros pintores serão desvalorizados.


Phillip Taaffe


Beatriz Milhazes


Franz Ackermann

No entanto, não me surpreende a escolha desse quadro porque me lembrou muito os quadros de alguns artistas contemporâneos como Beatriz Milhazes, do americano Phillip Taffe, e do alemão Franz Ackermann. Digamos que possam pertencer à mesma genealogia. Conhecendo esses pintores contemporâneos e sabendo que cada um tem uma legião de seguidores além de serem muito valorizados no mercado internacional, não me surpreende que este Signac tenha sido escolhido para fazer o link entre uma vertente da pintura contemporânea e as raízes do modernismo. Mesmo sabendo que o Moma tem como uma de suas diretrizes principais mostrar a história do modernismo, detonar um Cézanne assim por uma obra tão fraca como essa do Signac é de doer. Esse quadro do Signac tem uma visualidade tão específica que quase exclui todo o resto. E os 3 pintores citados acima são apenas 3 de um universo de imagens gigantesco. Porque afunilar a visão? Ter Cézanne como pai tornava tudo mais flexível.

Ao mesmo tempo, me pergunto: quem foi mesmo que determinou que Cézanne foi o pai do modernismo, e sob qual ponto de vista, para favorecer a quem? Eu sou daquelas para quem Cézanne reina absoluto, é fora de questão rebaixá-lo por causa de uma "moda" do início do milênio, mas talvez por vários historiadores pensarem assim é que congelaram Cézanne no topo quando talvez outros pintores da mesma época tivessem contribuições tão importantes quanto a dele. Claro, Monet, Manet, Gauguin, Renoir (argh!), todos foram geniais. Mas Signac?

Um trecho do ensaio The Tomb of Modernity publicado na Axess, por Mark Irving:

"...Astute visitors, however, will pay particular attention to the way Moma has now reopened the story of the modern. Instead of Rodin's St John the Baptist Preaching, which used to stand outside the galleries, pointing to Cézanne's The Bathers, Lowry has decided to start the collection with Signac's 1890 Portrait of Félix Feneon. This, he says, is "a great magical gesture that essentially raises the curtain on the very idea of modernity. It is Signac's greatest picture, though he's not the artist you'd usually pick." Dispensing with the Cézanne (Lowry claims it is a "rétardaire picture, still wrestling with Poussin") and highlighting instead Feneon—the Parisian critic, collector, impresario and anarchist—is a telling move.

"It's about showmanship, the masses, about a fundamentally different moment," he continues. "It's almost the same date as The Bathers, but it's about the curtain coming up on popular culture, breaking through the screen of avant-garde art. It pinpoints the notion of celebrity and offers us references to Warhol later in the hang."

This, then, is how Moma has recast the history of modern art as seen from our times, with showmanship and celebrity culture the dominant thread. Each generation retells history its own way, but is this really where the march of progress has taken us? It risks appearing as just a repackaging of those features of modern art that conveniently mimic our current, transitory obsessions. But for Lowry, the story of modern art is not complete without the canonisation of Andy Warhol, the original media-savvy, celebrity-driven artist. "Of the giants of this period, he is the guy," says Lowry. "Pollock is already over." "

7.12.04

Subversao com o Google

E a galera pirando com o Search Art, arte feita com mecanismos de busca, como o eterno Google -- uma das modalidades de Net Art preferida, I wonder why. Muitos e muitos artistas usam o Google como fornecedor de matéria-prima para imagens que irão fazer parte das suas obras, outros, infiltram-se pelo mecanismo de busca através das palavras-chave, e outros através dos anúncios. Certamente os criadores do Google, ou de qualquer mecanismo e busca não imaginariam que vários artistas, como eu, focassem suas obras nas buscas, aparentemente banais, utilitárias, sem nenhum sentido aparente. Olhem novamente, prestem atenção na confluência de palavras e imagens, na ordem dos links, nos múltiplos significados de uma única palavra, e começa a semiótica, a web semântica, etc, etc, etc. Search and you shall see.....

"The Google AdWords Happening

by Christophe Bruno, April 2002
Ubenhagen
Iterature

How to lose money with your art

At the beginning of April, a debate took place on rhizome.org mailing list, about how to earn money with net art. It suggested to me an answer to an easier problem : how to spend money with my art (if you understand everything on how to spend money, you should in principle understand also how to earn money, because of conservation laws...)

I decided to launch a happening on the web, consisting in a poetry advertisement campaign on Google AdWords . I opened an account for $5 and began to buy some keywords. For each keyword you can write a little ad and, instead of the usual ad, I decided to write little "poems", non-sensical or funny or a bit provocative.

I began with the keyword "symptom". The first ad I wrote was :

[Words aren't free anymore
bicornuate-bicervical uterus
one-eyed hemi-vagina
www.unbehagen.com ]

As soon as the campaign was launched, I was able to see the results. Every time somebody was looking for the word "symptom" in Google, they could see my ad in the top right corner of the page.

My first satisfaction occured when somebody who had typed "hemorroid symptom" on Google arrived on my website, after having clicked on my ad.

I decided to explore this new world and to launch several campaigns. Each of them was to be a targeted poetic happening of a new kind."


Conheça melhor este projeto...

6.12.04

Quem elegeu o mictorio???

Respondendo à dúvida da Cinthia do Precious Illusions no post que ela fez sobre as obras mais influentes da arte moderna:
Quem participou da pesquisa?

Um público especializado de galeristas, curadores, artistas que votaram baseados em quais obras achavam que tiveram maior influência sobre o desenvolvimento da arte no século 20. Não era um pesquisa sobre "qual é a sua obra de arte preferida", mas sim "qual a obra de arte mais influente" portanto completamente desvencilhada de gosto ou opinião, mas sim de importância histórica. É como se Ulysses de James Joyce tivesse sido eleito a obra de literatura mais influente do século 20, incontestável, né? Mas eu nunca li Joyce, e não sei se vou entender ou gostar, mas reconheço seus méritos por uma perspectiva histórica.

Este artigo do Independent mata a charada:

Fountain' most influential piece of modern artBy Louise Jury, Arts Correspondent
02 December 2004

>

It was A sculpture that tore through the very notion of art and shook the cultural establishment to its foundations.

Now, 87 years after he created it, Marcel Duchamp's white urinal, Fountain , was named yesterday as the most influential piece of modern art in a survey of leading figures of the art world.

With one simple act - taking an everyday object, signing it, naming it and proclaiming it a work of art - Duchamp ripped up all received notions and paved the way for artists such as Tracey Emin to present her unmade bed and Damien Hirst to unveil his shark.

In a poll conducted for Gordon's Gin as sponsors of this year's Turner Prize, a large majority of the leading artists, dealers, critics and curators named it as the work of art that has had the most impact on art today.

The 1917 original is now lost, although a replica is on view at Tate Modern, which also owns the third most influential work on the list - the Marilyn Diptych by Andy Warhol, one of the famous screenprint paintings he made after the actress's death in 1962.

In second place was Pablo Picasso's Les Demoiselles d'Avignon, which has been long regarded by many as the first great piece of modern art and might have been expected to top the poll.

Picasso's astonishing indictment of war, Guernica , was also named, as was Henri Matisse's The Red Studio , in which he developed the idea of art being about pure colour in its own right. However, the different categories among the 500 experts polled differed in their opinions. The artists voted overwhelmingly for Duchamp but also rated Donald Judd and Joseph Beuys. None of them voted for Matisse.

Simon Wilson, an independent curator and author who used to work for the Tate, said the results of the research were absolutely fascinating.

"The choice of Duchamp's Fountain as the most influential work of modern art, ahead of works by Picasso and Matisse, comes as a bit of a shock, but is not surprising," he said.

"It reflects the dynamic nature of art today and the idea that the creative process that goes into a work of art is the most important thing, and that the work itself can be made of anything and can take any form. The fact that none of the artists voted for Matisse is also quite unexpected. My guess is that his art is seen by artists as too lacking in edge and engagement with the real world."

The research was done by talking to 500 experts and devising a list of 20 major works. The respondents were asked to pick their top three. The aim was to identify key art pieces to help the public understand more about the inspiration and creative process."

5.12.04

Book of Hours :: Reloaded

Na última semana tenho dado um trato no Book of Hours, o que não fazia desde que abri o blog no final de março de 2004.

Só Arte

Em termos "editoriais" o Book of Hours continua sendo um blog dedicado exclusivamente à arte, à arte com novas mídias, ao processo criativo, a jovens artistas, e à minha arte (quadros, instalações, e desenhos). Nada de diário pessoal nem clipping de notícias do mundo em geral. O B.o.H. é para aficcionados da arte e de seus desdobramentos no mundo contemporâneo, como eu.

Visual

Criei um header novo, mudei o template, porque não acredito em manter o mesmo visual por muito tempo, e o template do blogger que escolhi antes era um pouco branco demais. Minimalismo tem limite. MAS, preciso da ajuda de alguém que entenda de XML para eliminar o espaço branco em volta da imagem do header, e o espaço vazio logo acima da coluna de links para que o visual fique como quero, sem lacunas no header. Infelizmente, não entendo de XML o suficiente sem estragar o código todo. Para me ajudar, é só baixar o código da página no "view source" e me ensinar como fazer.

Coluna de Links

Em um palestra que dei em 23/09/2004 sobre o meu trabalho de arte usando Google, o projeto Imagem-Código, um dos espectadores me perguntou se existia algum site na internet que resumisse para um leigo esse universo da arte digital, ou net-art, ou arte com novas mídias. Disse que existia uma multitude de sites, blogs, projetos online, portfolios de artistas, e até hotsites de museus e instituições e de exposições que lidam especificamente desta questão. A função do Book of Hours também é esta, apresentar um panorama da arte na internet. Os novos links estão na coluna ao lado, divididos em categorias.

Portfolios

Se você é artista, músico, video-artista, ou coisa parecida e quer divulgar seu site no B.o.H, deixe um comentário com o seu link e uma breve descrição do seu trabalho que ele vira post poucos dias depois e ainda ganha um link na coluna esquerda!

Se você, leitor deste blog tiver algum link interessante, acha que está faltando alguma coisa, ou gostaria de ter o seu portfólio online divulgado aqui, deixem suas URLs nos comentários.

Obrigada!

Furo de Reportagem

O No Escribo para Pocos cantou, o LLLredirecionou, e Book of Hours publicou o post sobre as 5 obras de arte moderna mais influentes que só saiu hoje no Segundo Caderno do jornal O Globo. Claro que isso saiu na imprensa esta semana, mas nenhum carioca não-blogueiro estava sabendo.

Book of Hours também é utilidade pública.

Obrigado LLL e No escribo para pocos!


4.12.04

Chirsto no Central park

Quando eu era estudante de arte nos anos 90, a minha grande paixão era a confluência da arte com a arquitetura. Queria ser uma Land Artist, e devorava qualquer publicação sobre o assunto, especialmente as obras de Christo, aquele que empacota edifícios pelo mundo afora.



Em parceria com a mulher, Jeanne-Claude, a dupla já empacotou o Pont Neuf em Paris, o Reichstag em berlim, além de criar a obra "Running Fence", uma cerca de pano de centenas de quilômetros de comprimento no estado da California, terminando com um mergulh dentro do Pacifico. Entre uma obra realizada e outra, produzem vários desenhos/colagens/gravuras de ilustrações dos projetos e ganham uma nota. É assim que os land artists se mantêm vivos, enquanto não entra uma comissão, vendem prints em galerias e assim também ganham visibilidade.



A Ana Lúcia do Arte diz:

Ele já empacotou o Museu de arte contemporânea de Chicago, a Pont Neuf em Paris e também monumentos em Roma e Milão. Em 1995, eu assisti ao começo dos trabalhos de « empacotamento » do Reichstag em Berlim, projeto que começou nos anos 70 e se concretizou apenas depois da queda do muro. Na época, vi o resultado virtual através de cartoes postais e o resultado « real », eu vi somente através de fotografias.

Pois a partir da semana que vem a equipe de Christo e de sua colega Jeanne-Claude começam a trabalhar em um novo projeto no Central Park em Nova Iorque, que consiste em instalar no parque 7 500 portões de aço cobertos de tecido. O projeto estará pronto em fevereiro do ano que vem.

Sad, but True

Comentário colhido no Canal Contemporâneo sobre uma competição de bolsas de arte por um ano:


Jovens pintores, pintores desconhecidos, pintores tardiamente reconhecidos ou não, nada de ódio, revolta ou ilusão. vocês não terão chance!!
Nesta jovem arte moderna, concreta, neoconcreta, contemporânea, (SEM CHANCE) neste país, do terceiro mundo com a idade da monalisa, onde críticos, curadores e outros pensam e agem como a cinquenta anos atrás eles odeiam pintura e pintores, tirem retratos eles vão adorar. Não gastem seu dinheiro com potifólios.

Enviado por : JOSÉ BERNNÔ em outubro 28, 2004 04:19 PM

3.12.04

Ranking das obras de arte moderna mais influentes

5 gênios tiveram suas obras apontadas como as mais influentes do século 20.

1 - The Fountain, Marcel Duchamp, 1917
2 - Les Demoiselles D'Avignon, Pablo Picasso, 1906
3 - Marilyn, Andy Warhol, 1961
4 - Guernica, Pablo Picaso 1937
5 - O quarto vermelho, Henri Matisse

"Urinol de Duchamp influenciou mais que "Guernica", diz pesquisa,"

LONDRES (Reuters) - Um urinol branco com uma assinatura em preto ficou na frente de duas famosas pinturas de Pablo Picasso em uma pesquisa britânica para descobrir as cinco obras de arte moderna mais influentes do mundo.

"Fountain", o urinol criado por Marcel Duchamp em 1917, ficou em primeiro lugar, superando "Les Demoiselles d'Avignon" e "Guernica", de Picasso, que ficaram em segundo e quarto lugar, respectivamente, na pesquisa com 500 trabalhos de arte moderna considerados importantes.

Em terceiro lugar, na enquete realizada pelo organizador do Prêmio Turner e pelo fabricante de gim Gordon, ficou a obra "Marilyn Diptych", de Andy Warhol, e em quinto, "The Red Studio", de Henri Matisse."




Duchamp foi eleito o primeiro porque ele foi quem possibilitou toda a arte da segunda metada do século 20, que é quase inteiramente conceitual, ou derivada de conceitualismos. Ganhou a obra mais não-formal, uma obra que alia a alta e a baixa cultura justificando boa parte dos movimentos artísticos americanos como a arte pop e seus derivados na arte contemporânea, cuja grande questão é justamente o conflito da origem da imagem. Duchamp fio um daqueles poucos que redefiniu a arte e abriu novas possibidades.



Picasso, em segundo lugar, foi responsável pela revolução da forma com o cubismo. Demoiselles D'Avignon é importante por vários motivos, promoveu a quebra total do plano e iniciou a quebra da representação, trouxe elementos não-ocidentais como máscaras africanas como elementos pictóricos e com isso criou uma verdadeira revolução do olhar.



Warhol não foi o primeiro a aliar a alta e a baixa cultura, mas foi o que melhor o fez. Apropriou imagens de revistas e jornais, deu à sopa enlatada status de obra de arte, iniciou a imagem serial, incluiu a fotografia como um fazer da arte e não como algo separado e mergulhou fundo no mundo das celebridades inclusive criando a si próprio como tal. Até hoje é difícil pensar em fazer apropriação de imagens sem considerar que ele foi o melhor.



Picasso, novamente, com Guernica é a única obra que não concordo estar entre as 5 mais. É um quadro importante, sem dúvida, mas é um cubismo, digamos assim, popular. Não chega aos pés do Demoiselles D'Avignon em termos de revolução do olhar que ele, ainda garoto, conseguiu fazer. São muitas as obras importantes de Picasso, mas de todas o Demoiselles D'Avignon é definitivamente o único que mereceria estar aqui no topo.



E por último veio a genialidade da cor com um dos melhores quadros de Matisse, O Quarto Vermelho. Tem aspecto formal, com certeza, mas essa não é a questão do quadro. Matisse reinventou a cor dentro da arte moderna, e, nesse domínio é insuperável, e possivelmente o melhor colorista de todos os tempos.



Eu definitivamente incluiria Mondrian nessa lista, ao invés de Guernica. Mondrian resumiu todas as tendências construtivas do início do século em sua obra, e abriu caminhos para toda a arte geométrica que veio depois. Para o Brasil, a presença de Mondrian nessa lista seria fundamental, dado que a nossa arte moderna tem uma característica concreta e construtiva muito forte.

Do LLL via No Escribo Para Pocos. Obrigada!

1.12.04

Choose your own color

Tem uma faceta do mundo da arte que é detestável, aquela arte que o comprador adquire só para combinar com a cor da parede e com o sofá. Quer dizer, a obra de arte só é comprada por um mérito decorativo e em geral esse tipo de arte é horrorosamente realista e cafona.

Para facilitar a vida daqueles-que-compram-arte-para-combinar-com-o-sofá o site da galeria Artyx oferece um modo de visualizar os quadros de acordo com o fundo da sua parede para que você não cometa o crime hediondo de comprar um quadro que não "combine" com sua parede lilás, laranja, amarelo-canário, verde-bandeira, gêlo, etc. E além disso, você pode visualizar o tipo de moldura para não errar de jeito nenhum. Chiquérrimo, não?

(puke!)

29.11.04

Do-It-Yourself Art

Se você sempre quis ser um colecionador de arte e nunca teve grana para adquirir obras de grandes artistas, seus problemas acabaram.

Com o "Arte Generator Doméstico Tabajara" você pode seguir instruções de um grande artista e possuir uma obra assinada por ele a custo zero! Basta acessar este site e seguir as instruções da tela. É tão fácil que até seu macaco de estimação faria.

Exemplo: Você é um grande admirador do escultor cubano Felix Gonzalez-Torres mas nunca teve grana para adquirir nem a ponta do cinzel que ele usava. O próprio dá as instruções de como executar uma obra sua:

- "Sem Título" - Felix Gonzalez-Torres ( - 1996)

Compre 100 quilos de balas (candy) envoltas de papel e despeje em um canto qualquer.



- "Sangue Bom" - Lygia Pape (1929-2004)

Duas pessoas sentam numa cadeira, uma em frente à outra.
As duas pessoas devem sentar-se segurando um cubo de gelo vermelho (devem fazer um cubo de gelo com tinta vermelha).
Depois de um tempo, o gelo de uma das 2 pessoas terá derretido antes da outra.
Essa pessoa é o sangue bom.


Tá esperando o quê? Vá correndo acessar o Arte Generator Doméstico Tabajara e tenha você também uma obra de arte contemporânea em casa!

Chris Ashley: Look, See

Descobri um novo blog de artista, de Chris Ashley, americano. Faz uma série entitulada de "HTML Drawings", usando código de hipertexto para criar composições de cores. Lembra arte concreta mas com um twist contemporâneo.

Fui tentar copiar uma imagem de seu blog para postar aqui, mas não consegui, só deu pra ver o código-fonte. Então é verdade, ele cria imagens com html puro. Linda idéia.

Uma resenha sobre seu trabalho:

Chris Ashley's pictures, illumined images on a flatscreen surface that cross over from inner-vision to realization via keyboard and code, not brush-stroke and paint, are surprisingly embodied. These are "table drawings" created using HTML—hypertext markup language, the programming code that enables the World Wide Web. Individual pictures appear as part of a series or set, with the sets accumulating over days, months and years at Ashley's website. That's the practicum, the result is a body of work that interrogates color, and in the bargain, investigations of arranged space interrogate time. These discrete events, going past as daily images, gather and grow together, becoming a metamorphosis . . . which is, after all, an embodiment of time..

Sou particularmente fã de artistas que criam arte-objeto (um quadro, ou uma escultura no sentido tradicional) usando o meio eletrônico como matéria.

Sou fã porque sou dessa turma e vejo que mais e mais existem artistas que estão reinterpretando a pintura tradicional em termos eletrônicos sem ter "cara" de arte eletrônica. Isso nos faz questionar a origem de uma imagem, que por trás da imagem não existe apenas um monte de tinta sobre um pedaço de lona. Atrás da imagem está uma codificação complexa, um sistema, que nos faz repensar a definição dos termos "imagen" e "pintura". É por esse caminho que estou trilhando....

25.11.04

Arte na era da banda larga

Chega de moldura, frete, montagem, e encheção de saco na hora de montar exposição e na hora de entregar o trabalho na casa do colecionador.

Hoje em dia, os artistas que trabalham com mídias digitais podem ficar descansados e nutrir seus sonhos de ficarem ricos. Você vende um certificado de autenticidade e um CD-Rom com a sua obra de arte. E o comprador produz a obra como quiser, no tamanho que quiser para caber naquela parede da sala.

Este artigo conta como um brasileiro chamado Eli Sudbrack fez fortuna vendendo suas obras instalativas em formato de CD para os compradores. Ele produz desenhos, decalques, murais, tudo num estilo meio kitsch, meio pucci, o que eu não achei nada lá dessas coisas. A inovação fica por conta do modo de venda, um arquivo illustrator gravado em CD, e das instalações, que, além dos painéis, conta com música e vídeos contendo imagens das mais díspares possíveis. Eli Sudbrack, aka Assume Vivid Astro Focus virou milionário. Arrecadou quase 1 milhão de dólares na sua exposição na Bienal do Whitney Museum em NY.



A questão não reside mais na obra de arte e sua integridade, e sim na sua distribuição e proliferação. O Assume Vivid Astro Focus põe o Walter Benjamin, autor de "A obra de arte na era da reprodução mecânica" no saco. Nada de "aura" da obra de arte, nada de perda de sentido na reprodução em série. O futuro da arte reside em um simples CD-Rom.

Obviamente este novo modo de "vender" e "adquirir" arte contemporânea requer um olhar profundo sobre a circulação da arte e a permanência da própria. Como lidar com uma arte que não é mais um "objeto", e sim um punhado de pixels? Como tornar um projeto processual, ou um software um ítem de colecionador, único? Como manter a autenticidade de uma obra de arte que pode ser muito facilmente reprodutível e modificável, inclusive podendo ser forjado o seu certificado de autenticidade?

Is this madness? That's debatable. But the sales model definitely reflects a fundamental change in how art can be produced and sold. Purely digital art—sold as software or access to online environments—has been creeping into the art market over the last decade, but it still remains very much marginalized. What sets Sudbrack apart is that his model is a hybrid, safely within the object-oriented paradigm of classical collecting yet exploiting digital production's advantages. (In the broadband age, the CD with the piece's image is really just a prop, after all.)

Tenho um amigo fotógrafo que fez 8 cópias de uma fotografia e depois destruiu o fotograma. Ele dizia que não fazia sentido manter o fotograma "vivo" pois era justamente a edição limitadíssima de cópias que garantia a autenticidade da obra e a cobiça em cima das poucas cópias existentes. Com esse gesto ele queria manter a sua autoria intacta, já que o fato do fotograma inexsistir era uma prova de sua autenticidade.

Mas vejo esse gesto como sendo anacrônico. Nos anos 70, o artista minimalista americano Sol Le Witt simplesmente enviava as instruções detalhadas para a feitura de sua obra para a galeria, que por sua vez contratava uma equipe especializada que executava a obra. No final o Sol Le Witt aparecia só para inspecionar o resultado. O que ele queria com isso era provar que a "mão" do artista era irrelevante para a obra de arte, que agora era reduzida a uma série de instruções. É um gesto essencialmente mecanicista em um meio onde imperava, até então, e com o Expressionismo Abstrato que precedeu imediatamente o minimalismo/conceitualismo, o virtuosismo do artista e a inspiração divina. O artista não é mais um herói, ele é apenas um servo de uma sociedade que reduziu a criação a um parâmetro técnico e banal.

Mas Sol Le Witt nos fez pensar sobre o que é ou o que não é arte. Assim como Eli Sudbrack. Não é mais a imagem que conta e sim como e por quem ela é realizada. Tirando o artista fora da questão, a arte torna-se de todos. Até que o mercado subverta essa noção novamente.

Ministro da Cultura Argentino renuncia

Argentinian Minister of Culture Resigns

"BUENOS AIRES, ARGENTINA.- The Minister of Culture of Argentina Torcuato Di Tella resigned. He had been at the post since May 2003. Miguel Nuñez, an official spokesperson requested the minister to resign. He was also the one that invited him to the post.

Di Tella was not able to control his mouth. He stated his department was a ‘circus’where the beasts ate each other. He stated that he was sexually aroused by the press stories that mention his name. He once said that he says what he wants without worrying about the form.

Some said the president laughed when Di Tella talked."

Só argentino mesmo.

23.11.04

Se deter no tempo eh luxo soh



Essa foto do Henri Cartier-Bresson tirada em 1932 em Paris é uma daquelas imagens incríveis em que há mais a ser dito e visto do que o artista poderia ter imaginado.

Tem jogo de espelhos com os reflexos das figuras sobre a água, existe um prenúncio da arte minimalista e arte conceitual dos anos 70 (os elementos circulares que estão sobre a poça d'água, a escada que leva para o nada), e que, para a arte fotográfica, representa um daqueles raros momentos em que a realidade, por um instante, se torna uma ficção. Essa fotografia é para mim um daqueles momentos improváveis que o olhar de um reles mortal não perceberia. Só o olhar atento de um artista como ele seria capaz de perceber, captar, um momento desses. É uma imagem com raro potencial de vida, daquelas que nascem vivas e assim permanecerão para todo sempre. Esse homem parece continuar andando na corda bamba invisível 70 anos depois. Lindo, lindo.

Aos 80 anos, depois de ter fotografado através de quase todos os eventos importantes do século 20, e ter feito retratos de quase todo mundo que importa na história, além de famosos anônimos, Cartier-Bresson largou a fotografia e começou a desenhar e pintar. Ele dizia que "se deter no tempo é um privilégio de poucos", e encontrou no desenho a melhor maneira de contemplar o tempo no final de sua vida, longe do tempo instantâneo da fotografia.

Vi essa imagem numa edição comemorativa na revista Photo e mais infos sobre o HCB na Fondation Henri Cartier-Bresson

12.11.04

Coletivo Mineiro

A galera da arte contemporânea está dando uma banana para o mundo institucionalizado e mandando ver na coletividade à base da guerrilha. É só prestar atenção nas ruas da cidade, nos tapumes e nos muros de ruas abandonadas e lá está uma obra de arte, assim, escondida, mas não menos presente.

O Grupo Poro de BH é um desses grupos que faz arte por aí.

Muito Maneiro

Fotos do artista paulista Alexandre Órion, misturando ficção e realidade. Um barato.
MetaBiotics

Angustia (bocejos)

Do meu melhor amigo e uber-blogueiro LLL, que fala de literatura e recebe, de vez em quando recebe contos de outros autores jovens. Tudo o que ele respondeu a este jovem autor pode ser aplicado para a arte, se substituirmos os termos referentes à escrita por aqueles da arte. Vai muito de encontro aos Clichês da Arte Contemporânea, um post meu antigo e linkado aí do lado. Alexandre e eu concordamos, e é quase um pacto nas nossas vidas e com a nossa arte ( aliteratura dele e aminha pintura), que a arte é um ato de construção consciente.

Faço minhas as suas palavras, lembrando Rilke, bem de longe, em Cartas a Jovem Poeta:

"Coisas que Fluem

Estava conversando hoje com um jovem artista plástico que fez a bobagem de me mostrar um desenho. Eu não gostei. Achei um amontoado de lugares-comuns. Tive a impressão de já ter visto aquele mesmo desneho mil vezes.

(...)

Enfim, meu jovem artista disse que o importante no seu desenho era a angústia: "Eu tenho milhares de momentos... esse foi um momento de angústia."

E eu pensei, cá com meus pincéis, mais um angustiado, meu deus!

Eu me lembro da época em que a pintura falava da verdade, da moral, do ciúme, da culpa, da redenção. Mas, a partir do século XX, sabe-se lá por quê, a pintura passou a só falar de angústia e seus temas correlatos: o vazio da vida contemporânea, a efemeridade das relações humanas, etc etc, blá blá bleargh.

Naturalmente, é uma relação parasitária: quando mais a pintura torna-se repetitiva e monotemática, mais angustiados ficam os pobres espectadores e produtores de quadros. Resultados: mais quadros sobre angústia.

Não é nem que eu não tenha momentos de angústia, mas eu teria vergonha de desenhar sobre eles, e ser mais um nessa multidão de artistas plásticos angustiados.

Continuou o meu jovem artista: "Quando estou com qualquer sentimento fora do comum preciso pintar para me libertar... Os desenhos fluem somente."

E eu suspirei: meu amigo, eu disse, com vontade de bater em seu ombro, o que flui é a sua urina quando mija. Arte é uma construção consciente.

E ele: "Não disse que não estava inconsciente... Mas quando pega-se o papel e as formas começam a sair, você tem de deixá-las..."

Essa é a questão. Eu e meu jovem artista temos concepções algo diferentes do que é pintura. Não que isso seja problema. Muita gente chamada de genial pelos cadernos especializados também pensa diferente de mim e isso não impede de serem convidados a todos os coquetéis.

Há uma diferença enorme entre desenhar um diário e fazer pintura. Os seus grandes momentos dão grandes páginas do seu diário: não, necessariamente, pintura.

No primeiro rascunho, concordo, não se contenha, não se reprima, não pense muito e nem se analise. Deixe fluir tudo de dentro de você - mas com higiene, por favor. Mas, logo depois, é hora de rever com consciência crítica. Corrigir, apagar, por mais doloroso que seja. Principalmente, é hora de decidir se você fez pintura (ou algo que pode tornar-sepintura) ou só mais uma página do seu diário.

Nem tudo o que sai de você é pintura."

11.11.04

Farinha do mesmo saco

É impressão minha, ou uma grande parte das fotos dos orgulhosos republicanos do We're Not Sorry segurando e apontando armas têm o orgulho de aparecer como se fossem eles os próprios terroristas? Além de usarem suas criancinhas e seus animais de estimação para justificar as suas preferências eleitorais.

Vejam em primeira mão quem é que está decidindo o futuro do planeta. E por que meios.

10.11.04

Galinhas de lente de contato poem mais ovos

Incrível:

What happens when chickens see red?

A company* that markets red contact lenses for chickens (at 20 cents a pair), points to medical studies showing that chickens wearing red-tinted contact lenses behave differently from birds that don't. They eat less, produce more and don't fight as much. Perhaps everything looks red and they cannot distinguish combs, wattles, or blood. This decreases aggressive tendencies and birds are less likely to peck at each other causing injury. A spokesman said the lenses will improve world egg-laying productivity by $600 million a year.


Leia o artigo

9.11.04

Nao quero ser nada

Cansei.

Cansei de provar para o mundo a que vim. Cansei de procurar explicações. Cansei de tentar ser alguma coisa, estou farta das definições e teorias da arte e do artista.

Tem "coletivo" fazendo despacho pra francês na praia de Ipanema, tem gente botando sombrinha amarela na cinelândia pra ver o que o povo vai dizer (imagine, uma sombrinha amarela, que coisa esquisita!!), gente desenhando bomba no caderno e mostrando o próprio clitóris (ou da avó de 90 anos) ampliado na galeria.

Meu mentor quer ser heremita, meu colega quer a revolução da classe média , os artistas querem dinheiro mas não querem se organizar, e eu só quero ficar olhando pro céu.

Não dá pra descansar, pois mesmo dormindo as imagens permanecem. Quem faz música pode desligar o som, meter algodão no ouvido e não ouvir nada. Silêncio. Basta abrir os olhos e começa a enxurrada visual. Cansa. Quero Paz, escuridão, ou clarividência. Taí, uma tela branca, silenciosa. Ah, não sei.

A teoria da pós-modernidade aplicada ao nosso ser contemporâneo fragmentado explora a sensorialidade das grandes cidades que por sua vez....ih, me perdi. Quer saber?

Que se dane.

Não quero ser nada. Quero que o mundo me deixe em paz.

(mas não esqueça de dar uma passadinha na minha exposição, alright?)

8.11.04

Mostra o Seu que Eu Mostro o Meu

Acontece, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, a mostra coletiva "Mostra o Seu que Eu Mostro o Meu". Estou com um trabalho lá. Só até 28/11.

Stunned!

Excelente blog sobre arte e artista contemporâneos, o Stunned Net Art Open. A cada post um artista e uma obra diferente. Obras feitas com ou na Internet, é claro.

2.11.04

A Vila

Vi A Vila de Shyamalan-banlangandan e odiei o filme, mas todo à minha volta adorou. Por já conhecer o diretor, dava pra sacar que o plot ia ter uma virada no final. Mas não me surpreendi tanto assim. Fui pegando as pistas ao longo do filme, coisas sutis, mínimas, talvez coisas que tenha pego só porque já trabalhei em cinema na parte de cenografia, o que me faz perceber muito atentamente todos os elementos de um cenário.

No começo do filme, já tinha achado estranhíssimo que as tais criaturas pudessem vestir capas idênticas às do povo da vila e fiquei pensando como é que criaturas com unhas grandes poderiam jamais ter a destreza de costurar algo tão bem. Não só de ter costurado, mas como criaturas não-humanóides podem mesmo andar vestidas. Depois a tinta com que pintaram as portas das casas, de um vermelho industrial, já que o sangue fica marrom quando seco, e nada vermelho. O último detalhe que para mim foi mortal foi a casa de vidro onde ocorreu o casamento da filha de Walker. Como é que, numa sociedade agrária e estilo século 18, poderiam ser fabricadas enormes lâminas de vidro sobre estrutura metálica, uma verdadeira estufa moderna apenas possível depois da revolução industrial? Foi aí que o filme morreu pra mim, dali em diante, virou uma mistura de senhor dos anéis com o Bigfoot e contei os minutos até terminar o filme enquanto a platéia inteira saía maravilhada da sala, sem dúvida achando que esse é o melhor filme jamais feito, e que o shyamalamam é um gênio incomparável.

Mas mesmo assim, continuo pensando no raio do filme. Por mais tosco que seja, tem um comentário americano forte. Descontando o moralismo infernal do tipo "o dinheiro é o grande vilão" (bocejos), tem a questão da paranóia e da criação do mito como auto-preservação que é importante. E é exatamente esse tipo de criação do medo que é a grande questão da eleição americana hoje.

As pistas das mentiras do Bush estão aí para quem quiser ver, mas quem quiser acreditar no mito do sonho americano vai ter todos os argumentos a favor. Se a mentira é só o que você conhece, então ela passa a ser verdade. Pode-se lembrar também a analogia da caverna de Platão, em que os entes acorrentados que só conhecem o mundo através das sombras projetadas no fundo da caverna.

O que me deprime é que a estabilidade mundial dependa exclusivamente do que acontecerá hoje. Nunca fomos tão bem informados, ao contrário do povo da Vila, e nunca fomos tão manipulados por uma força hegemônica (tal qual A Vila). Quais seriam os nossos instrumentos de resistência?

Os revolucionários de '68 desconstruiram o mundo em busca de um novo sentido, mas o que acontece quase 40 anos depois, é que precisamos novamente de uma revolução ideológica e, no entanto, não temos lastro nenhum seja teórico ou prático porque já está tudo fragmentado.

Seria um "retorno à ordem" a única solução viável? Ou seria esse desejo de ordem uma regressão a um autoritarismo datado? Quem seria sacrificado para manter o segredo de A Vila? Será que é preciso manter o mito do medo para assegurar a paz, ou seja, encobrir a verdade por uma causa coletiva, ou desvelar tudo e começar de novo?

A sorte está lançada.

Pressagios

Não sei não, mas acho que essa semana vai acontecer alguma coisa. Além das eleições dos EUA, é claro. E exatamente por causa delas.

1.11.04

O Brasil e o Software Livre

Há algumas semanas assino a newsletter do DigitoFagia, um festival que surgiu de uma lista de discussão do qual pariticipma um grupo de artistas/músicos/videomakers e galera contemporânea jovem liderado por giseli vasconcelos, lucas bambozzi, pixel, ricardo ruiz, sandra terumi, tatiana well que militam pelo software livre. Acabaram de fazer um evento no Rio e São Paulo reunindo música, arte, debates sobre rádios livres e estação de cópia de CDs, entre outros temas.

Este é um dos grupos que milita pelo software livre cá nos trópicos, porque essa conversa já está no governo federal faz tempo. A conversa vai muito além de uma simples questão de copyright ou licenciamento de software e se estende até a música e outras questões de "propriedade" intelectual. O Gilberto Gil acha que o que está acontecendo é um certo tropicalismo da era das comunicações onde tudo se apropria, tudo se consome, como uma espécie de antropofagia dos nossos tempos.

O nosso antropofagismo já se tornou lugar-comum na nossa cultura, mas vale entender melhor até onde vai essa prática, ou atitude, cultural e o que ela representa para o Brasil de hoje. O que temos? Um patrimônio cultural (música, arte, literatura, etc...) que ainda é permeável apenas para poucos através do poder de compra, mas que tem vontade de se popularizar através de preços permissíveis, ou simplesmente através do "download". Como vemos na nossa pirataria galopante, o povo tem sede de conhecimento e de diversão e desenvolve seus próprios meios para atingir esse desejo. A cultura, como diz o governo, é patrimônio de todos, mas não está ainda ao alcance de todos. Tropicalizar a cultura, a inteligência, a pesquisa, o conhecimento, a educação é o caminho que o Brasil deve seguir. Ou não?

O nosso ministro e o governo já estão empenhados nisso. Começou com a quebra das patentes dos remédios para a Aids na era FHC, e o caminho é que essa mesma ação se espalhe para outros campos de nosso interesse, e o governo Lula parece empenhado nessa questão. A começar pela adoção do Linux como plataforma para toda a tecnologia de informação do governo. Por incrível que pareça essa é uma media anti-feudalista da nossa cultura ainda bastante feudal (olhem os termos: "propriedade" intelectual, "direito" de uso de imagem, etc...) e se pararmos para pensar, os modelos de negócios da cultura, como a música, por exemplo, estão perdendo milhões só por resistirem a abertura da informação (música) através da rede.

Foi participando dessa lista do Digitofagia que recebi uma indicação para ler este artigo na Wired, que descreve muito melhor do que eu, a situação do software livre e outras militâncias no Brasil atual: We Pledge Allegiance to the Penguin 

28.10.04

Nova serie de desenhos no meu fotolog

Acabo de inaugurar uma nova série de desenhos no meu fotolog. A série chama-se FlowerBomb e trata-se de uma série de desenhos feitos a nanquim sobre papel sobre um emblema que criei: a flor-bomba ou a bomba-flor. Esse símbolo reúne características minhas, ora doce e inocente e pura como flor, ora uma terrorista incendiária como uma bomba. Juntar os dois numa coisa só descreve umas das minhas múltiplas personalidades.

A flor-bomba ora é bomba ora é flor, pode estar na minha cabeça numa paisagem ou vem junto com um detonador. A flor-bomba está dentro de todos nós.

A flor-bomba nasceu durante uma conversa de telefone, não porque estava conversando sobre ela no telefone, mas surgiu de um desenhinho do tédio, daqueles pequenos desenhos inconscientes que surgem durante conversas de telefone quando se tem papel e caneta na mão. O rabisco foi tomando forma, foi tomando vida, e aí está, uma série inteira que inclui poemas, situações, personagens, ou ela mesma sozinha, pura, prestes a explodir.

Para quem já conhece o meu fotolog com as colagens de espaços do tédio (salas de espera, repartições públicas, aeroportos, estações de metrô, etc...) já sacou que o meu lance é a explosão do espaço a partir de seus fragmentos, que se materializam em foto-colagens. A flor-bomba, digamos é o elemento que detona esse espaço.



24.10.04

Figura 7

Acontece no Rio de Janeiro, hoje, na Rua Theodor Herzl 42/401, Botafogo, das 17 às 22h, o Figura 7 mais uma edição do Projeto Figura comandado pelas fotógrafas cariocas Cláudia Tavares e Dani Soter. São exposições de 1 dia em locais não-institucionais exibindo novos artistas, uma forma de driblar a rigidez do circuito de arte institucional. Nesta edição, Silvio Tavares, Rachel Korman, Julia Traub, Chico Fernandes, Claudia Bakker, e Marcos Bonisson.

Eu já exibi trabalhos em dois Figuras ( o 3 e 4, em 2003) , e a minha página está aqui.

22.10.04

Bienal : love it or leave it

Ainda não fui à Bienal.

Mas ouvi dizer de algumas pessoas que está muito ruim.

Que a pintura não está com nada.

Que as instalações são péssimas.

Que o que salva são as fotografias e os vídeos.

Alguém já foi?

O que vocês acharam?

18.10.04

isto e arte?

O leitor Marcelo Barros postou um comentário no último post com perguntas muito pertinentes:

1. Você não acha que a arte pode ter códigos baixos (para ser apreciada por pessoas comuns) e códigos altos (que serão apreciados por pessoas com conhecimentos mais profundos de arte)? Arte, pra ser boa, precisa ser hermética?

Isso é o que o Clement Greenberg dizia. Ele teorizou que uma obra de arte tem vários níveis de percepção, a primeira impressão é a da surpresa onde o gosto do espectador é o que define se ele vai continuar decifrando a obra ou não. Se passar pela barreira do gosto, o segundo nível de percepção é o da projeção, ou seja, o espectador projeta na obra algo que lhe é familiar porque isso auxilia na compreensão do que está vendo, ou sentindo, e por isso sente empatia pela obra. Depois, os graus mais abaixo são os de identificação cultural, histórica, etc., que é o grau onde os especialistas atuam. Um especialista vai invariavelmente colocar o trabalho dentro de um contexto cultural e histórico e daí avaliar se a obra tem maior ou menor relevância dentro do contexto da própria arte, e depois para o mundo em geral.

Isso é o que Greenberg diz, a grosso modo. Camadas de significado para cada tipo de público.

Marcelo, eu acho perfeitamente possível uma obra se comunicar com um público especializado ou leigo. Só que não sei até que ponto um artista busca essa comunicação tão estreita com o público. O que eu vejo geralmente é a necessidade do artista em agradar os críticos e curadores, figuras que contêm uma vasta informação e acesso sobre as "tendências" da arte contemporânea. Para um artista jovem, ser contemplado para expor numa grande exposição é maravilhoso, porque a carreira de um artista se faz através da visibilidade da obra, e quanto mais visibilidade mais chances de vender, quanto mais vende, mais possível se torna a vida de um artista sem ter que recorrer aos "day jobs". Então, uma arte hermética pra crítico ver torna se arte "boa" só porque é reconhecida e legitimada pelo meio especializado.

Agora, isso não quer dizer que uma arte "boa" para crítico seja uma arte "boa" para o público-geral. O crítico/curador busca alguma coisa na obra que remeta a alguma questão da própria arte e que tenha relevância histórica e cultural, o público geralmente é bem menos exigente, quer mesmo é que a arte proporcione uma "good experience". O artista sempre oscila entre esses dois extremos, como fazer uma arte que seja uma "good experience" e que tenha ao mesmo tempo um significado maior do que a própria obra? Como conciliar em uma instalação, video, fotografia, pintura ou desenho, o significado pessoal, com o histórico, com o cultural, com o dito "fenomenológico"? Há obras que tocam em um desses aspectos, outras em outros. Mas em todos esses anos que estudei e olhei arte nunca ninguém me convenceu que arte tinha que ser hermética para ser boa. Existe arte hermética boa e ruim, como existe arte popular boa e ruim.

2. Retomando uma discussão que já rolou por aqui, transcrevo abaixo os comentários de alguns dos visitantes da 26ª Bienal de Artes de SP... Pessoas comuns que foram lá apreciar arte:

Obra: Vital Brasil.
Artista: Thiago Bortolozzo.
O que é: Uma estrutura de ripas de madeira, idêntica àquelas que os pedreiros usam em construções.
Comentário: "Será que isso é uma obra de arte ou a reforma do pavilhão? Tem muita coisa louca, fica difícil saber o que é instalação." (Teresa Brito, dona-de-casa)

Obra: The Field II
Artista: Ingrid Book e Carina Hedén
O que é: Pilhas de jornais com notícias do campo.
Comentário: "Para mim, é um monte de jornal empilhado, mas vai saber... Será que é arte ou pode pegar?" (Anderson Izidoro, caseiro)

Isso é arte?


Porque não seria?

Quer dizer, pra entender essa arte tem que ser especialista no assunto?

Não. Basta ter um pouco de senso de humor. O bom da arte contemporânea é que tem um pouco para todo mundo. É um exercício de tolerância.

Uma instalação é uma obra em aberto. Não é mais necessário uma definição de dicionário para pintura, escultura, desenho, etc. Tudo é possível, separadamente ou em conjunto. Mas concordo que a dona-de-casa possa ter se sentido perdida, ela obviamente não encontrou ali nada que pudesse reconhecer como "arte", não viu nada ilusório nem emoldurado. Acho que essa obra do Thiago fez com que ela avaliasse o que ela define como sendo arte, o que ela percebe como sendo arte. Esse é o mesmo questionamento que o própria artista se faz: o que é arte? o que pode ser arte? quais são os limites da arte? como posso transmitir, através da minha obra, uma nova definição ou possibilidade de arte?

Mas adorei o caseiro. Se fosse arte ele não poderia pegar no jornal? Só pelo fato desses jornais estarem expostos em um museu durante a bienal de arte já torna aquilo arte e dever ser elogiado, criticado, julgado como arte. Caso contrário, o que fariam esses jornais ali? Será que algum entregador da Folha de São Paulo resolveu dar uma soneca dentro do Ibirapuera durante o serviço? Arte contemporânea também é uma arte que pode não ter "cara" de arte, mas que, se estiver dentro de um espaço de arte, é arte e ponto final. Daí a proliferação de museus de arte contemporânea em qualquer cidadezinha de terceira mundo afora. O museu não é mais só para a arte antiga dos mortos, é também um espaço que legitima qualquer criação atual abrigada por ela. Agora, se pode pegar o jornal ou não é uma decisão dos artistas. Em alguns casos poderia, porque não?

Não é possível uma arte que se comunique tanto com uma dona-de-casa e com um caseiro num nível e com um professor de história da arte em outro nível?

Sim. Mas conseguir agradar a pluralidade dos espectadores da bienal é uma tarefa dantesca. O que um artista deve conseguir atingir em ambos públicos é fazer o espectador ver a arte sob uma nova ótica, uma nova possibilidade. E quando a arte é boa, o caseiro e o curadro vêem da mesma forma.

11.10.04

O melhor artista-pate

O meu querídissimo amigo LLL está fazendo uma semana de textos comemorativos da morte de Jacques Derrida, um filósofo francês da geração de 68.

Na semana passada passei no concurso para o Mestrado em Linguagens Visuais da UFRJ, com direito a bolsa e tudo, e para isso passei o último mês forrando a minha mente com os últimos 150 anos de história da arte, incluindo aí todos os textos pós-modernos que incluem Derrida, Foucault, Deleuze, etc...Parecia até que eu estava estudando para o mestrado em filosofia, mas não, era para o mestrado de arte mesmo.

Fazer mestrado em arte significa criar um discurso cheio de notas de rodapé para agradar o pessoal da banca. Com o mestrado vou poder dar aulas em universidade e fazer com os alunos exatamente o que eles vão fazer comigo: estufar o pobres coitados de fiflosofia da arte inintelígivel como se estufa um ganso para que dele saia o melhor pâté, ou a malhor arte-pâté.

Quem acha que mestrado em arte no Brasil é só aprender a ter mais consistência nas pinceladas está muitíssimo enganado. Porque hoje em dia, depois do papo pós-moderno/estruturalista, dizer que a pincelada tenha valor intrínseco em si é quse um crime inafiançável. Nada mais pode ser como lhe parece. E com esse modus operandi, todo o romantismo que um artista tem em relação ao seu trabalho escorre para o ralo. O resultado é arte carreirista, aquela arte que o cara sabe que vai ser aceita por todos os críticos e teóricos, mas que o público olha e faz cara de quem chupou um limão azedo. Quer dizer, quanto menos popular, melhor é, porque arte é coisa para especialistas, quase como a física para os físicos, tem importância para a própria disciplina, mas não diz nada para um ser humano qualquer. Não que eu seja a favor de uma arte de fácil aceitação, porque quem faz isso no fundo é um decorador de interiores frustrado, mas que o artista, no mínimo, tenha um compromisso com a sua própria sintaxe, seja ela fundamentada pela escola de Frankfurt, pelos franceses de 68 ou por qualquer outro pensamento construído a priori. quando isso acontece, vê-se a arte que é ilustração de conceito e que morre por aí, ou seja, existem muitos artistas que adoram parir fetos nati-mortos.

O desafio para mim, ou qualquer um que entre para a academia é manter a sua própria liberdade. POrque a "corja francesa" está aí, de tesoura na mão, para cortar as asas dos mais astutos. Só surta quem achar que a teoria está além da sua obra, quando geralmente é o oposto. Não há teoria capaz de dar conta da obra de um artista. As críticas e os historicismos são apenas construções para tentar derrubar qualquer indício de vida e inteligência na arte.

30.9.04

Pin Me Up



Atenção fãs de pinups, fetichistas e adoradores de mulheres más em geral: Miss Jaya (foto acima) acaba de lançar o site PinMeUp, site com fotos de pinups fotologueiras e rainhas da cena gotico-erótica. O site tem área para membros com direito a visualizar todos as fotos dos ensaios e ainda abrem espaço para colunistas que entendam do assunto mulher má como ninguém.

O termo "pinups" têm origem na segunda guerra mundial quando os soldados botavam fotos das estrelas de hollywood nas paredes do submarinos com tachinhas ou "pins" para matar a saudade da presença feminina na triste vida de soldado. Frequentemente haviam fotos das grandes divas do cinema e no meio delas fotos da mamãe e da namorada. Mas a idéia da pinup é o erotismo sensual da mulher que interpreta alguma persona sexy, frequentemente jogando com a questão do fetiche. É um jogo de sensualidade que enlouquece os homens e estimula as mulheres.

Gostou do sapato vermelho? tá esperando o quê?

25.9.04

Arte de portas Abertas

Pra quem mora no Rio de Janeiro, começa hoje o Santa Teresa de Portas Abertas. São 48 ateliês de artistas abertos ao público das 11h às 20h no sábado 24 e domingo 25. Recomendo os ateliês dos artistas Regina Marconi, Renan Cepeda, Julio Castro, Nadam Guerra, Jean-Baptiste, o Espaço Bananeiras com Leonardo Videla, todas as obras dos coletivos de artistas que estarão nas ruas, e a exposição coletiva que está no Casarão da UNEI, da qual estou participando, que fica na Rua Monte Alegre 294.

Veja a programação inteira do evento e o novo site da Associação dos Artistas Visuais de Santa Teresa - a Chave Mestra

21.9.04

Campanha eleitoral

Fui a um vernissage ontem, e saí de lá com mais santinho de campanha na mão do que arte na cabeça.

Projeção/Debate

Para quem mora no Rio e se interessa por arte e por Internet, quinta-feira farei uma projeção do meu trabalho "Imagem-Código" que vocês podem conhecer aqui.

A Joana Mazza, interneteira e fotógrafa também fará uma projeção do projeto "Válvula" que foi concebido a partir de uma lista de discussão que ela participa há anos.

Nós duas lidamos com a questão das relações na internet e como transformamos isso em arte. É bem interessante, vale a pena ir. Abaixo, o convite:



16.9.04

Código da Vinci censurado

Já foi um absurdo o Irã ter censurado o livro do Salman Rushdie anos atrás, mas o governo do Líbano ter mandado recolher o Código da Vinci das livrarias é demais. Dizem que os católicos de lá ficaram ofendidíssimos com o livro porque o autor diz que Jesus não era virgem e que tinha tido filhos com Maria Madalena.

Eles alegam: "São coisas difíceis de aceitar para nós, mesmo que se suponha que seja ficção. O Líbano é um país que tem muitas comunidades religiosas diferentes, e ainda há leis que proíbem artigos que ofendam às diferentes comunidades religiosas."

Até aí o Brasil também ter diversidade religiosa, mas não tem nenhum conselho de segurança dentro do governo que proíbe a publicação de livros de qualquer espécie. "Uma fonte do setor de segurança disse que o Líbano, onde convivem muçulmanos, cristãos e drusos, há anos pede conselhos às autoridades religiosas sobre livros potencialmente perturbadores."

(O Código da Vinci, perturbador?)

Mas o Líbano tem uma história de libertarismo se comparado aos seus vizinhos mais fundamentalistas no Oriente Médio, e antes da guerra civil, era um oásis no meio de todo aquele conflito, livre desse tipo de intolerância. Concordo que deve ser um desafio ter 3 grupos religiosos diferentes (cristãos, muçulmanos e drusos) convivendo em um país micro em zona de conflito, mas dá um tempo. Pelo menos os muçulmanos sabem que Maomé tinha um harém, e que a mulher dele, Fátima tem um papel importantíssima na fundação do islã. Não sei em que os drusos acreditam, afinal quem são eles?, mas tomara que os drusos não sejam tão hipócritas quanto os cristãos. Eu, particularmente, fiquei aliviada de saber que Jesus teve relações sexuais. Seria muito estranho se um homem tão genial fosse um asceta ou um celibatário. Aliás, o celibato foi inventado no século 9 para garantir que a propriedade da Igreja não pudesse ser transferida de mãos através de heranças. Controla-se o pinto do padre e o patrimônio sagrado esta garantido.

Mas aquela parte do mundo não tem jeito mesmo. Desde o tempo de Jesus era assim, até as Cruzadas, e até hoje ninguém sabe em que acreditar ali. Aliás, Jesus morreu por justamente esse tipo de intolerância, e aí 2000 depois vem um governo idiota cometer os mesmos erros. Às vezes me pergunto se existe evolução dentro da nossa espécie, mas sei que no cristianismo certamente não há.

Leia o artigo todo

11.9.04

portfolio

Estou entrevada no computador há dias preparando o portfolio para a seleção de mestrado para aquela universidade localizada na ilha mais fétida do Brasil. Ano passado me classifiquei mas as vagas eram poucas e optaram por outros fétidos candidatos. Mas esse ano, I will not take no for an answer.

Estou vendo o saldo de 2 anos de trabalho bastante satisfeita, tenho 3 ou 4 vertentes que não têm nada a ver uma com a outra. São foto-montagens, pinturas, desenhos, sketchbook, projetos em rede, arte com Google, e mais um zilhão de idéias que não cessam de brotar. O desafio é juntar tudo isso num pacote coerente. Ou não.

Acho que vou mostrar que eu sou esquizofrênica mesmo, um caso psicanalítico sem solução. Se eles quiserem linearidade e caretice, melhor escolher um homem ou um CDF que pinta por números, porque linearidade e absoluta coerência eles nunca vão poder cobrar de mim, porque simplesmente não tenho essas qualidades. Mas em toda loucura há método. O método consiste em sempre fazer uma coisa achando que é outra: arte feita com imagens do Google que mais se parecem pinturas, foto-montagens que ecoam desenhos analíticos de arquitetura, projetos em rede que são estudos antropológicos. Nada é o que parece ser, e tudo também pode ser outra coisa, ou nada, e foda-se. Essa sou eu, pulo de galho em galho, sem compromisso nenhum com uma mídia ou questão específica, mas me dedicando profundamente a esse processo de mudar de um lado pro outro. Se eles estão achando que a academia é uma espécie de reformatório para artistas confusos, estão enganados. O lance é que a academia é só um trampolim para o resto do mundo. O resto é você quem faz.

Dessa vez, eles vão ter que me engolir!!!

8.9.04

500 anos mas com corpinho de 15

Hoje o David de Michelangelo, sua escultura mais famosa, completa 500 anos desde a sua inauguração em Florença em 1504. Nesse ano, o Brasil ainda nem era país e ainda havia muitos índios por aqui.

Mas cá entre nós, esse David pode ter meio milênio de existência, mas que tem um corpinho de 15 tem. Olhem só essa vista.

7.9.04

Freud e o Vulcão

Passei a semana passada na Patagônia, aos pés de um dos muitos vulcões ativos naquela região. Fiquei impressionada com o fato da terra lá ser negra assim como a areia dos leitos de rios e dos lagos. Linda a paisagem do extremo sul do continente, deserta, até um pouco monótona por ser muito homogênea devido à pouca vegetação, mas não menos dramática. O vulcão ficava cuspindo fumaça todos os dias, e eu desejando que aquele vulcão entrasse em erupção só para ver aquela língua de lava lambendo as encostas, e quem sabe, me petrificando junto, como se fosse uma Pompéia.

Levei apenas um livro para ler durante a viagem "A interpretação dos sonhos" de Freud e mais um sketchbook, mas não consegui levantar o lápis para desenhar uma linha sequer. Freud vê o vulcão como uma metáfora do sexo, e mais precisamente, da libido que é a origem da energia psíquica que consequentemente é utilizada para a realização das coisas na vida. Para Freud sexo é metáfora para tudo. Adoro essa idéia porque é uma generalização incrível, e gosto de generalizações acertadas, ao invés de precisões sem significado.

A metáfora da energia psíquica (libido) como um VULCÃO subconsciente cheio da energia obscura do instinto se refere a estruturas de pensamento que determinam nossos sentimentos e comportamentos em um estágio muito primitivo, onde os instintos mais básicos são exercidos: fome, agressão, territorialidade. Um vulcão em atividade, mas não em erupção significaria então que todos esses sentimentos ou instintos estão ativos porém latentes, e Freud chamaria um vulcão em atividade de libido reprimida, dado que ela seria liberada quando o vulcão entrasse em erupção.

Ou seja, a erupção do vulcão significaria um orgasmo do planeta. Lindo essa imagem, da Terra tendo orgasmos, gozando pedra quente e destruindo tudo em volta com um suspiro fulminante. Mas eu fiquei só vendo a fumacinha, quem sabe de um foreplay muito bem feito lá nas profundidades do cortex do planeta. De qualquer maneira, tomei banho nas águas termais, naturalmente aquecidas, como orgasminhos planetários, e eu ali no meio cozinhando feito um pastel gyoza, me refestelando na libido da Terra e esperando que essa libido me contagiasse também.

Freud pode ter vários problemas nas suas teorias, mas acho maravilhoso poder ler sobre a libido e como ela é a metáfora da vida, do processo da vida, daquele tempo entre nascimento e morte, e das pequenas (ou grandes) erupções vulcânicas que acontecem no meio disso tudo...

26.8.04

Viajando

Prezados Leitores,

Eu sou de sumir da face da terra sem avisar.

Mas desta vez, já vou avisando, estou viajando e volto daqui a uma semana.

Dia 7/09 abro exposição em Córdoba, na Argentina. Vou mostrar o mesmo material que expus em abril em Buenos Aires. Para saber mais sobre a exposição, leiam este artigo do meu amigo LLL que escreveu uma excelente resenha sobre o meu trabalho" Isabel Löfgren: Identidade e Privacidade na Internet".

Para ver os trabalhos da exposição, a série começa aqui lá no meu fotolog.

Até a volta!!

25.8.04

No rabo do cometa

Vou entrar na onda do meu amigo LLL, vou apelar.

Vocês que visitam o meu blog de vez em quando e entram dentro do meu universo artístico-imagético deveriam ser os primeiros em me apoiar nas minhas iniciativas artísticas, ou seja, meus projetos. Para que eu possa continunar sendo artista e não me prostituir em um emprego burocrático qualquer é fundamental que eu possa exercer a minha arte, sob pena de nunca mais poder contribuir com nada para vocês. Não fazer arte significaria terminar o blog e qualquer atividade relacionada à arte. Em suma, seria a minha morte. Vejam bem, não estou pedindo dinheiro, só estou pedindo uma foto boba.

Mas porque peço a ajuda de vocês? Porque um dos meus projetos só pode ser concretizado se vocês participarem maciçamente. O projeto depende exclusivamente da participação de usuários de internet. Tenho um fotolog de grupo, o idcard, cujo objetivo é juntar fotos de identidade das pessoas que navegam no fotolog. O intuito é fazer um retrato dessa galera que navega freneticamente pela internet, meio que revelando a sua identidade a partir do documento que legitima a minha/sua existência perante o mundo: a foto de identidade. O interessante é que eu não sei a verdadeira identidade de ninguém ali, já que quase todo mundo usa um pseudônimo, e assim se cria uma contradição, uma ambiguidade que eu acho maneiríssima e interessante do ponto de vista de uma arte que é feita em rede, como uma colaboração. Para que um artista usaria a internet no seu trabalho se não fosse para isso?



Poucos dos que navegam aqui foram lá e postaram. Pois bem, convoco todo mundo a tirar 5 minutos para escanear a sua foto de passaporte, identidade, carteira de motorista, o que for, e postar . Se você não é membro do fotolog, envie a sua foto para idcard_project@yahoo.com que eu postarei por você. Penso que se vocês têm o trabalho de postar fotos suas no Orkut, Multiply, etc, porque não postar fotos para algo que seja realmente útil? Toma muito menos tempo e o retorno é muito maior. Garanto.

(E já que vocês vão parar no fotolog, continuem acessando o meu fotolog não-colaborativo, ou seja, pessoal, para ver os espaços do tédio. A cada ida minha a uma sala de espera ou lugar burocrático, aparece uma nova foto-montagem. Elas estão ficando cada vez mais sofisticadas, e para quem mora no Rio de Janeiro, em breve estarei expondo essas fotos em alguns lugares.)

Aqui vai o texto que introduz o projeto IDCARD lá no fotolog:

A maioria das pessoas se acha muito feia nas fotos de seus documentos. E é verdade.

IDCARD, diferente de todos os outros fotologs de grupo, não é um concurso de beleza. É um lugar onde os fotologgers postam suas fotos de identidade para que se possa atrelar um rosto ao pseudônimo usado nesta comunidade. A sua foto de identidade é o que faz de você uma pessoa aos olhos das autoridades, o que faz com que essa foto seja uma expressão do que você é, ou do que você representa. Sem ela, você não é ninguém, pelo menos não para a sociedade moderna que vigia seus cidadãos das maneiras mais diversas. Este projeto é, de certa forma, uma crítica à cultura de vigilância em que vivemos.

Para realizar este projeto, só o que eu preciso é a sua foto de identidade. Não quero saber nenhuma outra informação além da foto, pois o seu número de identificacão é completamente irrelevante. Seja criativo, poste uma foto com um penteado estranho, uma em que os olhos estão fechados, ou a foto de identidade da carteira militar do seu avô que serviu na segunda guerra mundial. Uma participante postou fotos de identidade de todas as etapas de sua vida, gostei muito.

*RULES/Regras:
1. Não envie fotos se vc não quer participar do projeto. Se uma foto for enviada ela será usada e você estará dando total permissão de uso. O seu nome ou username será inteiramente preservado do conhecimento do público.

2. Se você está escaneando a sua carteira de identidade ou qualquer outro documento de identificação mande somente a foto, não o nome, número de identidade ou endereço. Escaneie em uma qualidade razoável.

3. Você pode enviar qualquer foto de qualquer documento de identificação (identidade, passaporte, carteira de motorista, etc.)

Muita gente que quer participar não está postando fotos porque não tem scanner. Não faz mal. Pode tirar uma foto da sua identidade, da mesma maneira que vcs tiram as fotos que vcs postam nos próprios fotologs. Só garantam que a foto esteja em foco com qualidade razoável. Tirem as fotos da ID a 90 graus do cartão para ter o menos distorção possível.



SOBRE O PROJETO

ID_card é um projeto colaborativo de artes plásticas iniciado pela artista plástica Isabel Löfgren. "Colaborativo" significa que o projeto se faz através dos esforços de uma comunidade empenhada para cumprir os objetivos do projeto onde a presença da artista se faz através da criação da idéia.

O objetivo do projeto é montar um projeto de artes visuais com fotos enviadas pelos usuários deste mecanismo. É uma extensão da minha pesquisa sobre relações virtuais na internet a partir das imagens que são inseridas na rede, e o resultado será uma espécie de "retrato" desta comunidade.

Se quiser postar uma foto, fica avisado que a artista automaticamente terá total liberdade de uso das imagens na confecção de obras de arte que serão posteriormente exibidas em exposições coletivas.

Sua foto não será manipulada ou distorcida, as fotos individuais não serão comercializadas pois somente serão usadas para o projeto de arte, e sua identidade será preservada, pois não interessa ao projeto o seu nome verdadeiro ou endereço.


OBRIGADA!

______

Captaram? Então, mãos à obra!!!



23.8.04

Onde foi parar o meu Grito?

O Grito de Munch foi roubado junto com a Melancolia na Noruega. Numa terra tão plácida e pacífica onde acontece um assassinato a cada 10 anos, nem os trolls e gnomos conseguiram descobrir quem foram os ladrões, que chegaram armados até os dentes num museu com segurança precaríssima.(Aliás, imagino esses caras com roupas pretas ninja, equipamentos super hi-tech, armas com silenciador, mandados ali por algum magnata mau-caráter)

Até agora só acharam a moldura. Achei muito estranho os ladrões se desfazerem da moldura assim tão perto do museu. O quadro foi pintado sobre madeira, e retirá-lo da moldura seria inútil pois o quadro não poderia mesmo ser desentelado para ser enrolado dentro de um canudo e assim retirado do país sem ninguém perceber. Que ladrões burros. Deram sorte que o quadro não é muito grande (90x60 cm aproximadamente, mas imbecis de qualquer maneira.

E isso confirma a minha teoria sobre ladrões. Ladrões gostam de dizer que roubam, e fazem questão de deixar todas as pistas do roubo. É como se dissessem "mamãe, olha como eu sei roubar bem!". Porque não tem graça nenhuma roubar uma coisa e não contar pra ninguém, e pior, não ser pego. Metade da graça de ser ladrão, acho eu, deve ser a adrenalina da perseguição.

Quem sabe amanhã aparece outra pista? Espero que encontrem o Grito. Senão eu grito.

13.8.04

9.8.04

Arte feminina

Ah sim, sobre a discussão de arte e política, lembrei que já fui feminista. Mas não dessas feministas imbecis que dão bolsada nos homens que lhes abrem a porta, que não raspam o suvaco ou que confundem feminismo com lesbianismo. Eu era feminista do tipo que acredita que mulheres devem ter direitos iguais aos dos homens perante a lei, igualdade de salários, de oportunidade, das licenças-maternidade, etc.

Há tempos que os curadores descobriram nas mulheres um eixo curatorial. Tanto faz se as meninas fazem escultura, gravura, pintura ou colagem; o que as une sob o mesmo guarda-chuva é o fato de terem nascido mulheres. É como se expusessem todos os artistas gays na mesma exposição e chamassem de "Gay Art", ou todos os negros ("Black Art"), ou todos os hispânico-americanos ("Latino Art"), ou todos os cachorros ("Dog Art"), ou seja, todos pertencem ao mesmo grupo étnico ou social. Os curadores norte-americanos e europeus são especialmente afeitos a esse tipo de categorização, para deixar à margem todos aqueles que não são homens, nem brancos e nem anglo-saxões.

Será que existe algo como arte feminina? Seria possível uma arte que só uma mulher (ou gay, ou negro, ou favelado) poderia fazer? Existiriam temas, ou estilos, que nenhum homen branco anglo-saxão poderia tratar? Historicamente, as mulheres artistas sempre ficaram em segundo plano, mas não por causa do seu talento ou conhecimento, mas porque a história privilegiou os homens, como sempre. E as mulheres, para estes homens privilegiados, não passavam de modelos-vivos para quadros eróticos. Mas isso mudou com o tempo. Agora as mulheres usam o próprio corpo nu como elemento de um ato performático para servir ao seu propósito e não mais subserviente ao homem.

Se existe uma visualidade particularmente feminina, não sei. Só sei que as mulheres, diferente dos homens, trouxeram a esfera privada, doméstica, uterina, para dentro da arte. Se antes a costura era uma atividade exclusivamente feminina, por exemplo, hoje ela é usada na arte para justamente subverter esse paradigma. Tenho um amigo que insiste em dizer que não dá pra olhar a arte feita por uma mulher se não for pelo prisma freudiano, querendo dizer, que tudo na mulher recai sobre o seu corpo e sua capacidade de geracão e na ausência do falo. Whatever.

Aí eu volto ao meu ex-ser feminista e respondo: existe uma arte particularmente masculina?