14.12.04

Mais sobre mictorios duchampianos

Só para desvendar os mistérios do mictório de Duchamp, a obra mais influente da arte moderna, a blogueira e crítica de arte Sheila Leirnerdá no post dela "Abacaxi" um scoop sobre a assinatura da obra, "R. Mutt".

"....obre o ready-made, ele me pergunta se penso que nos indagamos suficientemente sobre o significado da assinatura R. MUTT colocada sobre a Fonte da qual Alfred Stieglitz fêz a foto modêlo de 1917 para ilustrar The Richard Mutt Case. Para quem não sabe, este é o título da “carta aberta aos americanos” que Duchamp escreveu quando o urinol foi recusado pelo juri do Salão dos Independentes em Nova York e que foi publicada no primeiro número da revista O Homem Cego criada por ele e seus amigos. Um pouco assim como quando o júri do salão de Brasília recusou o famoso Porco de Nelson Leirner, que hoje está na Pinacoteca de São Paulo.

Richard Mutt é o nome de uma fábrica de aparelhos sanitários em Nova York, mas o professor Cornovitch avança uma outra hipótese. Segundo ele, “Mutt em inglês é um palavrão que significa “idiota, imbecil, cretino” (o que em francês moderno e corrente seria “sale con”). Ele pensa que aos olhos de um germanista como Duchamp, R. Mutt pode ser lido ainda como “Armut” que, em alemão significa “pobreza”, “indigência”, “penúria”, “incapacidade”. A frase “Geistige Armut” quer dizer “pobreza de espírito”. Em inglês, como em alemão, a palavra soa portanto pejorativa, mortificadora e humiliante, em acordo com o uso do objeto que, na sociedade moderna, serve à evacuação da urina. “Será que essa obra de Duchamp, pergunta o professor, não trataria também de um esvaziamento generalizado dos valores, servindo também como uma concha, uma bacia ou uma 'fonte' onde enxaguamos os olhos dos nossos preconceitos?”


Como sempre, mesmo depois de 100 anos, o puto continua atiçando a brasa. Duchamp é o único artista conceitual realmente original. O resto é tudo cópia.