23.11.04
Se deter no tempo eh luxo soh
Essa foto do Henri Cartier-Bresson tirada em 1932 em Paris é uma daquelas imagens incríveis em que há mais a ser dito e visto do que o artista poderia ter imaginado.
Tem jogo de espelhos com os reflexos das figuras sobre a água, existe um prenúncio da arte minimalista e arte conceitual dos anos 70 (os elementos circulares que estão sobre a poça d'água, a escada que leva para o nada), e que, para a arte fotográfica, representa um daqueles raros momentos em que a realidade, por um instante, se torna uma ficção. Essa fotografia é para mim um daqueles momentos improváveis que o olhar de um reles mortal não perceberia. Só o olhar atento de um artista como ele seria capaz de perceber, captar, um momento desses. É uma imagem com raro potencial de vida, daquelas que nascem vivas e assim permanecerão para todo sempre. Esse homem parece continuar andando na corda bamba invisível 70 anos depois. Lindo, lindo.
Aos 80 anos, depois de ter fotografado através de quase todos os eventos importantes do século 20, e ter feito retratos de quase todo mundo que importa na história, além de famosos anônimos, Cartier-Bresson largou a fotografia e começou a desenhar e pintar. Ele dizia que "se deter no tempo é um privilégio de poucos", e encontrou no desenho a melhor maneira de contemplar o tempo no final de sua vida, longe do tempo instantâneo da fotografia.
Vi essa imagem numa edição comemorativa na revista Photo e mais infos sobre o HCB na Fondation Henri Cartier-Bresson
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