Chega de moldura, frete, montagem, e encheção de saco na hora de montar exposição e na hora de entregar o trabalho na casa do colecionador.
Hoje em dia, os artistas que trabalham com mídias digitais podem ficar descansados e nutrir seus sonhos de ficarem ricos. Você vende um certificado de autenticidade e um CD-Rom com a sua obra de arte. E o comprador produz a obra como quiser, no tamanho que quiser para caber naquela parede da sala.
Este artigo conta como um brasileiro chamado Eli Sudbrack fez fortuna vendendo suas obras instalativas em formato de CD para os compradores. Ele produz desenhos, decalques, murais, tudo num estilo meio kitsch, meio pucci, o que eu não achei nada lá dessas coisas. A inovação fica por conta do modo de venda, um arquivo illustrator gravado em CD, e das instalações, que, além dos painéis, conta com música e vídeos contendo imagens das mais díspares possíveis. Eli Sudbrack, aka Assume Vivid Astro Focus virou milionário. Arrecadou quase 1 milhão de dólares na sua exposição na Bienal do Whitney Museum em NY.
A questão não reside mais na obra de arte e sua integridade, e sim na sua distribuição e proliferação. O Assume Vivid Astro Focus põe o Walter Benjamin, autor de "A obra de arte na era da reprodução mecânica" no saco. Nada de "aura" da obra de arte, nada de perda de sentido na reprodução em série. O futuro da arte reside em um simples CD-Rom.
Obviamente este novo modo de "vender" e "adquirir" arte contemporânea requer um olhar profundo sobre a circulação da arte e a permanência da própria. Como lidar com uma arte que não é mais um "objeto", e sim um punhado de pixels? Como tornar um projeto processual, ou um software um ítem de colecionador, único? Como manter a autenticidade de uma obra de arte que pode ser muito facilmente reprodutível e modificável, inclusive podendo ser forjado o seu certificado de autenticidade?
Is this madness? That's debatable. But the sales model definitely reflects a fundamental change in how art can be produced and sold. Purely digital art—sold as software or access to online environments—has been creeping into the art market over the last decade, but it still remains very much marginalized. What sets Sudbrack apart is that his model is a hybrid, safely within the object-oriented paradigm of classical collecting yet exploiting digital production's advantages. (In the broadband age, the CD with the piece's image is really just a prop, after all.)
Tenho um amigo fotógrafo que fez 8 cópias de uma fotografia e depois destruiu o fotograma. Ele dizia que não fazia sentido manter o fotograma "vivo" pois era justamente a edição limitadíssima de cópias que garantia a autenticidade da obra e a cobiça em cima das poucas cópias existentes. Com esse gesto ele queria manter a sua autoria intacta, já que o fato do fotograma inexsistir era uma prova de sua autenticidade.
Mas vejo esse gesto como sendo anacrônico. Nos anos 70, o artista minimalista americano Sol Le Witt simplesmente enviava as instruções detalhadas para a feitura de sua obra para a galeria, que por sua vez contratava uma equipe especializada que executava a obra. No final o Sol Le Witt aparecia só para inspecionar o resultado. O que ele queria com isso era provar que a "mão" do artista era irrelevante para a obra de arte, que agora era reduzida a uma série de instruções. É um gesto essencialmente mecanicista em um meio onde imperava, até então, e com o Expressionismo Abstrato que precedeu imediatamente o minimalismo/conceitualismo, o virtuosismo do artista e a inspiração divina. O artista não é mais um herói, ele é apenas um servo de uma sociedade que reduziu a criação a um parâmetro técnico e banal.
Mas Sol Le Witt nos fez pensar sobre o que é ou o que não é arte. Assim como Eli Sudbrack. Não é mais a imagem que conta e sim como e por quem ela é realizada. Tirando o artista fora da questão, a arte torna-se de todos. Até que o mercado subverta essa noção novamente.
25.11.04
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não acho que vc tenha entendido direito. o artista não precisa tocar na obra não por ser servo de uma sociedade mecanicista, mas pq o que interessa para ele é a idéia, portanto, o objeto não precisa ser construído por ele, desde que o resultado seja o que ele determinou. E se o artista ter tocado a obra não é a questão, não há sentido em querer manter um modelo "original", afinal, o artista quer que sua obra seja "vivenciada" por outros, embora nem sempre a faça pensando em como comunicar uma idéia fixa, mas a obra como um campo amplo de possibilidades.
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