9.8.04

Arte feminina

Ah sim, sobre a discussão de arte e política, lembrei que já fui feminista. Mas não dessas feministas imbecis que dão bolsada nos homens que lhes abrem a porta, que não raspam o suvaco ou que confundem feminismo com lesbianismo. Eu era feminista do tipo que acredita que mulheres devem ter direitos iguais aos dos homens perante a lei, igualdade de salários, de oportunidade, das licenças-maternidade, etc.

Há tempos que os curadores descobriram nas mulheres um eixo curatorial. Tanto faz se as meninas fazem escultura, gravura, pintura ou colagem; o que as une sob o mesmo guarda-chuva é o fato de terem nascido mulheres. É como se expusessem todos os artistas gays na mesma exposição e chamassem de "Gay Art", ou todos os negros ("Black Art"), ou todos os hispânico-americanos ("Latino Art"), ou todos os cachorros ("Dog Art"), ou seja, todos pertencem ao mesmo grupo étnico ou social. Os curadores norte-americanos e europeus são especialmente afeitos a esse tipo de categorização, para deixar à margem todos aqueles que não são homens, nem brancos e nem anglo-saxões.

Será que existe algo como arte feminina? Seria possível uma arte que só uma mulher (ou gay, ou negro, ou favelado) poderia fazer? Existiriam temas, ou estilos, que nenhum homen branco anglo-saxão poderia tratar? Historicamente, as mulheres artistas sempre ficaram em segundo plano, mas não por causa do seu talento ou conhecimento, mas porque a história privilegiou os homens, como sempre. E as mulheres, para estes homens privilegiados, não passavam de modelos-vivos para quadros eróticos. Mas isso mudou com o tempo. Agora as mulheres usam o próprio corpo nu como elemento de um ato performático para servir ao seu propósito e não mais subserviente ao homem.

Se existe uma visualidade particularmente feminina, não sei. Só sei que as mulheres, diferente dos homens, trouxeram a esfera privada, doméstica, uterina, para dentro da arte. Se antes a costura era uma atividade exclusivamente feminina, por exemplo, hoje ela é usada na arte para justamente subverter esse paradigma. Tenho um amigo que insiste em dizer que não dá pra olhar a arte feita por uma mulher se não for pelo prisma freudiano, querendo dizer, que tudo na mulher recai sobre o seu corpo e sua capacidade de geracão e na ausência do falo. Whatever.

Aí eu volto ao meu ex-ser feminista e respondo: existe uma arte particularmente masculina?

2 comments:

  1. Olá Isabel, td legal contigo?
    descobri o teu blog através de um post da Ana Lucia, do Canadá. Gostei daqui, adoro blogs "inquietos".
    Achei muito legal o "conselho" do post anterior. E não sei se existe uma arte essencialmente "masculina", "feminina" ou "gay". acho q a arte eterna existe por si mesma, completamente desvinculada do criador. bem, sempre q possível vou passando por aqui. beijos.

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  2. Hi Isabel, Dudu over…

    Não creio que haja uma arte feminina, e ver a arte sob prisma freudiano é meio demais. Ficar nesta tecla da diferença pra justificar as diferenças não cabe mais, ao menos na minha humilde opinião. Ser mulher, homem, ou todos os módulos agregáveis, acabam por interferir na subjetividade tanto do artista quando do espectador. A percepção é variável sempre… não creio que dê pra caracteriza arte “gay” ou o que quer seja sob este aspecto.

    :)

    Dudu.

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