12.11.06

Exposição: Fake




Na Galeria 90 na Gávea Rio de Janeiro, está em cartaz a exposição FAKE, organizada pelo coletivo carioca Grupo DOC, do qual faço parte junto com os artistas plásticos cariocas Patricia Gouvêa, Mauro Bandeira e Marco Antonio Portela. A exposição fica até 10 de dezembro de 2006.

A proposta da exposição é explorar a questão da autoria e da cópia na arte, na vida, no mundo.

O convite para os artistas incluiu uma lista de definições do FAKE para que tivessem um ponto de partida para abordar o tema. Fake pode ser paródia, cópia, plágio, pirataria, falsificação, entre várias outras definições.

Os artistas convidados são: Grupo DOC, Hapax, Claudia Hersz, Simone Michelin, Yuri Firmeza, Lau Caminha, André Parente, Walton Hoffman, Heleno Bernardi, Marcos Bonisson, Camille Kachani e Hilal Sami Hilal. Estes artistas trabalham numa grande variedade de mídias e vêm de vários estados brasileiros. Procuramos oferecer, junto com a proposta, uma variedade de artistas e de linguagens que abrange desde sound art, vídeo, fotografia, escultura, pintura e desenho e instalação.

Abaixo, o texto escrito pelo curador Nino Tavares para a exposição:

""O mundo de verdade foi abolido. Que mundo nos restou?" - Nietzsche

O talento brasileiro muitas vezes se define pela habilidade de driblar as regras do sistema. No futebol, o astuto jogador passa, dribla, chuta a bola por entre as pernas do adversário rumo ao gol. Na política, sente-se o (des)engano de contas fraudadas, funcionários-fantasma e testemunhos falsos diante de flagrante corrupção. Na beleza, os seios siliconados das jovens mulheres criam uma sociedade de cyborgs (a)palpavelmente reais.

O verbo "to fake it" em inglês significa simular um chute, um passe, enganar para vencer. Como uma partida de futebol, a seqüência de passos falsos feitos com a bola, que carrega toda a verdade do jogo, cumpre o seu desejo do gol - o resultado verdadeiro, real e palpável dos falseamentos exercidos dentro de um campo de potencialidades real. Em meio a estas forças antagônicas - a prática do falso e o desejo do real e verdadeiro - surge uma atitude de enfrentamento dos jovens artistas á ordem estabelecida e ao cansaço da replicação de gêneros já sedimentados.

Já foi dito que a arte contemporânea, a arte da segunda metade do século XX, é uma arte do simulacro. No entanto, ela parece hoje ultrapassar o simulacro ao questionar um modelo de verdade que parece afirmar o falso, onde o artista passa a ser um falsário, um charlatão, um mensageiro da verdade velada. Em Nietzsche, a abolição de um “mundo-verdade” e o fim do sistema de julgamento nos deixa a sós com uma relação entre forças. O mundo passa a ser visto por dentro, sem mediações, nem essência nem aparências - o fim do dualismo platônico entre o modelo ideal e a cópia degenerada, e além disso, saber distinguir as boas da más cópias, os bons dos maus pretendentes, o puro do impuro.

Ao levantar esta potência do falso, os artistas aqui expostos oferecem leituras diferentes de uma consciência da imagem que deixa de ser meramente simulacro ou cópia ou plágio. O que se deve atestar a partir dessas investigações é aceitar que não há mais verdade a referenciar ou mimetizar. Sendo assim, cada artista cria o seu próprio campo de relações poéticas sem, contudo, alienar-se da realidade. Ao contrário, se antes a arte se julgava alheia ao restante das atividades culturais e mercantis, hoje ela se dissimula em meio a todo o resto.

Hoje, a hibridez na arte é real, e a pureza, falsa, utópica, ilusória, enganosa. Estes artistas do "fake" transformam o falso, o irreal e o construído em verdade-potência, uma verdade que, como no Édipo Rei, termina por nos cegar. Cabe a nós, como Nietzsche propõe, distinguir o bom modelo da má cópia (ou vice-versa) ou chegar á conclusão de que tudo o que ocorre não precisa de uma dialética ou ponto referencial: o "fake" simplesmente é."

Confiram.