29.4.07

Elogio a Alex Castro

Este é um post de retribuição à bela homenagem que o meu melhor amigo, Alex Castro, vulgo LLL, escreveu sobre mim. Fico lisongeada.

E aqui vai uma resposta.

Ninguém me entende mais do que o Alexandre. Nos conhecemos na Escola Americana há meia vida atrás, parece que foi ontem.

Enquanto nossos amigos eram riquinhos (na época também éramos, hoje somos novos-pobres) e só pensavam em carreiras no mercado financeiro, nós dois bravamente queríamos ser artistas. Ele, editor do jornalzinho da EA, o Binóculo, e eu, a ilustradora. Ele, escritor desde pequenininho, e eu já metendo a mão nas tintas. Fomos juntos à Bolívia e ao Chile para fazer uma coisa bem nerd, mas muito divertida: participar do Knowledge Bowl, jogo de perguntas e respostas de cultura geral. Metidos-pra-caramba. Na Bolívia, ficamos desfalcados de um participante e contratamos um japonês anti-social pra resolver as perguntas de matemática além de botarmos um dinossauro de pelúcia para as perguntas de ciência. Claro que chegamos em último lugar, mas em grande estilo.

Já na faculdade, eu nos EUA e ele no Brasil, um dia recebi uma carta muito triste, que dividiu a turma de amigos para sempre. Alex me mandou uma lista enorme de todas as idiotices de adolescente que eu tinha feito, e na sua habilidade com palavras, fiquei desconcertada sem saber o que fazer. O resto da turma que também tinha lido a carta , ironicamente, aproveitou para brigar comigo também. Não entendi aquilo muito bem, foi difícil, mas mereci de alguma forma. Dois anos depois fizemos as pazes após horas de conversas, eu entendi os seus motivos e ele também entendeu os meus. Desde então somos melhores amigos. Mas com o resto da turma não falo há um década. Alex, aliás, acabou me fazendo um enorme favor. Triunfamos.

Vida vai, vida vem, retorno ao Brasil depois de uma temporada nos EUA e Alex era meu único amigo. Encaramos a bolha da Internet juntos e até hoje formamos uma bela parceria. Sempre que precisava de uma terceira opinião no Sobresites, eu ia lá dar uma força. Sempre que alguém precisava de um redator profissa, indicava ele. Até que, depois de nossas falidas e breves incursões pontocom, Alex teve a brilhante idéia da Usabilidade para podermos nos alimentar sem ter que abrir daquilo que realmente importa: a arte. E assim foi.

Claro que eu fui sempre umas das primeiras leitoras de todos os contos, e sempre disse o que eu achava. Se estava ruim ou chato eu dizia na lata, pois a primeira intuição é o que conta. Fiz por amizade, claro, mas também por princípio. Não vou deixar um amigo meu com um trabalho meia-bomba. Se importar com alguém é também se importar pelo seu trabalho. Se eu souber como consertar ou melhorar, eu falo e pronto. Eu estava detestando o Mulher de Um Homem Só...Alex não tinha decidido a voz do livro. Depois de terminado, dei uma brochada no final....porque raios a Júlia era artista? Aquilo tinha que ser relevante... Na arte é preciso justificar nossas escolhas...Eu sempre achei a arte é um processo colaborativo e lindo. Talentos têm que ser alimentados (literal e figurativamente). E quero que todo mundo também seja sincero comigo.

Casamos e nos descasamos e nos consolamos. Nossos relacionamentos falharam porque nossos parceiros eram incorrigíveis, e nós, sempre tentando segurar a onda. Claro que falhamos também, mas uma coisa é certa: tanto eu quanto ele vivemos os casamentos intensamente, "tudo o tempo todo". Nada como um amigo homem para me fazer entender o que se passa na cabeça de um bípede do tipo masculino. (Pra quem tem alguma dúvida, tenho os pés grandes, ossudos e feios, e também sou branca demais para o seu gosto. Eu acho que ele come carboidrato demais, e sempre que passo fim-de-semana com ele, acabo engordando 2 kg. Não daria certo nunca, ele é muito fresco e ainda é dono de um poodle infernal! Argh!)

Em inícios de 2003, Alex encontrava-se numa crise criativa. Estava trabalhando muito, levando o casamento à frente, e sem ânimo de escrever. Perguntei o que tinha acontecido, e percebi que o problema era disciplinar e que também precisava de atenção, de público, de troca. Sugeri que abrisse o blog para forçá-lo a escrever diariamente, mas ele resisitiu dizendo, como sempre, "que coisa ridícula!". Olha só no que deu. Esse blog até rendeu um mestrado nos EUA, mil mulheres, fãs, viagens e mais forro para os futuros romances.

Alex me educa. Tudo o que sei sobre literatura, pés, e casas de swing devo a ele.

Sempre que nos vemos, fazemos o clássico: andar pelo Centro do Rio, na Lapa ou qualquer outro lugar, por um dia inteiro, sentamos em uma mesa de café, olhamos a cidade e falamos sobre tudo.

E quando estou lá em Singapura, meio de saco cheio dos chineses ou do meu gringo, basta abrir o LLL "for a sense of home". Thanks for being my home.

17.4.07

Anônimo, porém legítimo

“É arte ou não é?”
- Chacricha, post-mortem

"Digital Stadium" é um programa de televisão (...) cujo objetivo é um ser uma revista de talentos e inovação em imagens computadorizadas, mostrando o que é considerado o melhor em uma forma de arte em constante mutação.”

Nem todo artista digital se conforma com a anonimidade da rede, e até se esconde atrás de uma farsa para atingir qualquer grau de legitimidade e reconhecimento. Um programa de TV da rede japonesa NHK chamado “Digital Stadium”, que convida o público a submeter obras digitais, e fomenta e descobre muitos jovens talentos promissores” , mostrava dois jovens apresentadores com um “artista digital” convidado a apresentar sua obra digital para os telespectadores.

A obra do primeiro artista convidado era uma animação interativa que exibia o desenho de uma figura cujo nariz crescia de acordo com a intensidade e volume do som cantarolado por um coral de 50 participantes presentes no palco. A intenção da artista era criar uma obra de arte interatva que reagisse às vozes do coral, mas o resultado era cômico, beirando o ridículo. Para complementar a performance, os apresentadores chamaram dois “curadores” ao palco para avaliar a obra com comentários e críticas de lugar-comum, elogios, adjetivando a obra como “interessante e inspiradora”.

O segundo participante era um homem de 30 anos vestindo um uniforme escolar, um símbolo de fetiche na cultura japonesa, e uma mochila com um monitor de com uma câmera na mão. A imagem do vídeo era uma cena de alunos reais fazendo chacota do seu estranho aparato televisivo, vista nas suas costas. Na câmera, a filmagem de um novo pequeno poema filmado, geralmente vídeos que registram a reação de estranhos à estranha instalação.

O programa representa um oportunismo da televisão na cooptação de algo que “está na moda”. A presença de “curadores profissionais” que “aconselham, comentam e criticam as obras digitais submetidas ao programa” é significativa para dar uma chancela de seriedade ao programa, mas em nenhum momento a identidade desses curadores é revelada. Os artistas são anônimos e amadores, mas a avaliação de um especialista do sistema de arte, neste caso, é mais importante do que a audiência do programa. Alguém tinha que dar o aval para que a obra fosse levada a sério perante o sistema, da superestrutura institucional da cultura. O programa de TV propôs uma inversão da relação entre o centro e a periferia: o sistema de superestrutura da cultura representado em um sistema periférico da comunicação de massa, banal.

O programa, ao final, é refrescante porque mostra que a arte, sob qualquer forma, não é apenas tema para especialistas e nem deve ser “contida” dentro de museus ou lugares especializados de acesso – a arte é do povo e como Joseph Beuys disse, “cada homem é um artista.” Mas a ironia está no fato que mesmo assim, eram necessários os dois curadores.

O formato quase circense do programa de televisão, quando visto como um modo de representação, parece uma crítica ao sistema de arte e dos seus sistemas de legitimação através de curadorias e concursos. Ele põe em evidência a cultura do espetáculo em torno do zeitgeist das mídias digitais levado ao extremo, como em um programa de auditório, uma espécie de Chacrinha da arte digital. Poderíamos até imaginar o Velho Guerreiro perguntando ao seu público exultante: “É arte ou não é?” (e jogando um bacalhau ao mesmo tempo.)

“Na era digital, o computador se tornou numa mídia essencial de expressão:
É uma ferramenta para manifestar nossos pensamentos e sentimentos. Talvez o que nos espera é uma Utopia luminosa, ou uma distopia, onde nosso mundo é governado por máquinas".

5.4.07

Imagens da Índia


India
Originally uploaded by flowerbomb.
Minha viagem a Bombay.