27.2.05

Segredos online

Um dos assuntos que mais me interessam nessa web maluca em que navegamos é a total anonimidade do autor. Você pode ser de qualquer cor, gênero e credo e tanto faz. O que vale é quem você diz que é e a informação que você introduz na rede. Porque se ater à verdade? Se você não gosta de si, cria uma persona na internet que representa o que você quer ser e ninguém vai te encher o saco. Mas vida de simulacro e simulação tem limite no nosso ser...Alguns sites e obras de arte online utilizam o aspecto confessional da web para mostrar a "verdade" escondida de cada um...sem identidade revelada você pode ser o mais autêntico que quiser ser, ou não. E quem se importa com a "verdade"? Os sites abaixo são deliciosos porque lidam exatamente com esse aspecto da "verdade" que nós seres humanos não conseguimos largar, e nem daquela prática cristã incômoda de "se confessar" como um modo de dividir o segredo com deus. Ou com um computador. Tanto faz...

Sugestões de projetos de arte online para aqueles que simplesmente não conseguem deixar de bisbilhotar na vida dos outros e também não conseguem manter segredos por muito tempo:

Grande sugestão de visita da maravilhosa DaniCast: POSTSECRET, projeto colaborativo onde pessoas mandam cartões postais com seus segredos ilustrados via correio para um endereço nos EUA e depois são postados nesse blog...E eu, que sou tarada por cartões postais que coleciono desde pequeninha e que compro em todos os sebos possíveis, obviamente me amarrei!!!

O site CONFESS permite que o usuário poste suas confissões.A cada confissão postada você tem direito a fazer uma resenha de uma outra confissão e assim "qualificar" e comentar a confissão de outro anônimo, para que "this little self destructive site keeps humming." É muito legal.

18.2.05

Relacionamento online

Recebi o seguinte comentário do H. , em resposta à pergunta: até que ponto o relacionamento virtual pode ser um subsituto para um relacionamento real, de corpo?

H. comentou:

Não substitui. Posso garantir.
Conheci minha ex-namorada em um chat e namoramos por três meses, me apixonei perdidamente por sua inteligência e experiênica de vida; mas quando conversávamos via msn era terrível. Sempre brigávamos e era insuportável mais que 15 minutos de conversa online. Ao vivo nos dávamos muito bem, tanto que o namoro terminou por outros motivos extras, mas online posso lhe dizer que era broxante.


Queria saber se vocês tem alguma história para compartillhar. Me fascina essa capacidade afetiva da internet, tenho visto isso em muitos sites de namoro, que são o alvo da minha pesquisa comportamental e visual de agora. Me pergunto se o amor através dessa mídia é diferente por causa da mídia, se a facilidade tecnológica dita um certo tipo de comportamento antes impossível. Ao mesmo tempo fico analisando os romances epistolares escritos desde que o mundo é mundo e acho que as versões online e instantâneas são uma versão eletrônica desse gênero literário. Aliás, boa pergunta, as pessoas se relacionam online porque procuram uma camada literária e romântica em suas vidas? Acredito que o cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano, e o relacionamento online, impulsionado por palavras atinge o cérebro antes do corpo. Mas até que ponto não precisamos de sinestesia? Até que ponto a culpa é da tecnologia?

Acho que esse meio de relacionamento vistual é uma espécie de purgatório do ser, um limbo do amor. Quando é que vocês decidiram que era a hora de "encontrar" o outro? Será que era só um relacionamento construído de palavras? E quando as palavras não bastaram, o que vocês fizeram?

Querem dividir histórias de sucesso? de derrota?

14.2.05

Quem nao tem cao, cassa com vibrador movel

Ultimamente tenho feito um intensivão sobre relacionamentos online. Este assunto há muito tempo me fascina, e a cada dia vou mais fundo na minha pesquisa. Já sou cadastrada em 7 serviços de namoro online com 7 personas diferentes que variam da romântica à profissional em busca de amor à dominatrix impiedosa. É divertidíssimo. As cartas que me escrevem e as fotos que recebo são hilárias e incríveis -- tema para uma nova série de trabalhos de arte todos calcados em cima dessa "nova economia da libido". Se há um uso para a internet, além das pentelhações corporativas com que tenho que lidar no meu dia-a-dia profissional, é esse: internet é o melhor lugar para o amor.

Reparem como tudo online toma um tom amigável...pessoas que nunca te encontraram mas que religiosamente lêem seus blogs são tão afetuosos que parece que você os conhece desde pequenininhos. Amizades online sem cara sem cor nem credo são uma delícia porque não têm o embaraço do "momento". Você lê, posta no seu fotolog, comenta no blog do outro, cata um amigo distante por MSN. É tudo lindo. Pois no lado do amor, o cenário é feroz. Quem nunca ouviu falar de um amigo que encontrou o amor da sua vida online? Quem de vocês nunca viu ou buscou por um videozinho pornô? Quantas de vocês são "cam-girls" (estrelas pornô de webcam)? Quem de vocês não participa de clubinhos virtuais de sadô-masô, ou busca pelos seus fetiches mais insólitos na surdina do seu computador?

A economia da incompletude (incompletion) é gigantesca. Aqui somos todos voyeurs uns dos outros, mandando fotos pra lá, recebendo vídeos pra cá, e firme na masturbação. Depois...o vazio...Mas nem sempre é assim...Ouvi dizer de um amigo em Nova York, que a galera que trabalha (e que consequentemente não tem tempo pra nada) começa as preliminares online, marca o lugar de encontro quando a conversa começa a ficar apimentada, e meia hora depois já estão rolando na cama. Os círculos literários, ouvi dizer também, começam as intelectualidades via messenger e depois se encontram em cafés para fechar negócios ou continuar o papo-cabeça. Se terminam na cama ou não, aí já não sei.

É tudo muito romântico, como deve ser. A colunista Regina Lynn da Wired Magazine escreve regularmente sobre sexo e tecnologia. Foi lá que eu descobri que para se tornar uma cam-girl basta montar um site no My Adult Site e começar a faturar uma grana, pagável via PayPal. Ou então, para as garotas mais pudicas mas não menos sacanas pode-se obter um prazer enorme, e na surdina, com um telefone celular, o VibraFun, aliás, um aparelhinho que já vem testado com usabilidade e tudo. Esse vibrador-fone é como modess, fininho e não deixa mancha.

Mas será que dá pra substituir o corpo com essa tecnologia toda?

10.2.05

30 anos, missoes de vida, arte e sobre ser um animal solitario ou nao

conversas com o meu querido amigo LLL. desculpem o inglês intermitente, mas sério, caguei.

Eu:...alex, para de ser morto-de-fome. se o cara te der uma grana, bota a mufa na literatura. menos distrações. eu largaria os frilas amanhã se eu não precisasse. Queria usar a web por motivos puramente artísticos. e só.

alex: Arte pura vicia, bel...é irreal...trust me: interacting with the humans, having them as clientes, etc, keeps us human in a way you wouldn't understand....engraçado como tem coisas que só saem em ingles, né?

eu: é.....a arte nunca é só pura. quero tempo pra pensar, pra divagar, pra me educar direito (a minha faculdade foi uma bosta nesse sentido). arte tem muita vida prática também, não é só viajar na maionese...

alex: é como dar aulas, controlar os teens...

eu: verdade. o mestrado é para eu poder dar aula... em qualquer lugar do mundo. só te dão um certo respeito com a porra do título "M.F.A.". não para expôr, mas se quiser seguir carreira acadêmica, até PhD tem que ter.

alex: ...eu tenho medo de que, se na fossem os clientes e as aulas, eu estaria tão apartado do mundo que já nao conseguiria funcionar...e aí com um mestrado e, quem sabe, doutorado, eu posso dar aulas de literatura anywhere in the world, ser realmente livre...

Eu: e comer muita mulherzinh!...pra mim, quanto mais apartado melhor. só assim eu posso retornar ao mundo. Tudo pra mim é dividido: meu amor, meu trabalho. em algum lugar eu tenho que estar inteira, e esse lugar é o trabalho, mas me conhecendo, faço sempre o que aparece, está na minha natureza de ser múltipla...

Alex: Você sabe porque o [Guimarães] Rosa não fez um segundo grande sertao? pq ele teve um mild heart attack enquanto escrevia o livro e ficou em pânico de não acabar depois, nunca mais tentou nada de envergadura, só contos...

Eu: Estava  com medo de morrer?

alex: Pq tinha medo de morrer e deixar inacabado...Ele trabalhou dez anos em Grande Sertão Veredas...tinha medo de trabalhar 9 anos, morrer no nono, e desperdiçar seus ultimos 9 anos. Mas é self-defeating porque ele viveu 10 anos depois de GSV. O Verissimo vem tendo heart attacks há 20 anos e continua aí! o que quero dizer é, e vale pra nós dois....

eu: E por isso é foda. Eu falei na minha entrevista no fundão que não tinha pressa nenhuma para mandar trabalhos para galerias e o que mais importante para mim agora era explorar o máximo de possibilidade sem pressão de mercado. Porque queria garantir que teria trabalho por mais 50 anos.

alex : A idade de começar a empreender seus grandes projetos é justamente aos 30, quando ainda há tempo. A gente não sabe quanto tempo ainda vai ter...

Eu: É isso aí. i feel it coming. O mundo é tão complexo que aos 20 não dá tempo de apreender tudo.

Alex: ...a pressão não é do mercado...

Eu:Tem artistas por aí que estão estourando aos 25 anos. E daí? Prefiro ir devagar porque quando estourar vai ser uma explosão. Não tenho pressa de fama, tenho pressa de vida (e de algum dinheiro)...só dá pra publicar/expor quando a coisa está pronta. e a coisa pronta precisa de um tempo. eu acho que vc vai publicar o segundo romance. Vc vai me odiar por isso, mas acho o "Mulher de um Homem Só" o melhor trial run que você poderia ter.

alex: Não tem chance do meu romance não ser publicado...

eu: O que quero dizer é que o seu segundo romance será muito superior ao primeiro e assim por diante. É melhor começar com força total, com mais maturidade..

alex: Assim espero...

Eu: O que eu fico bolada é que em outros tempos passados, nós seríamos referências nos nossos campos aos 30. As grandes obras de literatura e arte foram feitas por garotada como a gente. Picasso revolucionou o olhar com o cubismo aos 22 anos!

alex: Só dá pra viver no agora...

eu: Claro.  Eu queria tanto encontrar a minha grande questão. Mas não sei se estou olhando nos lugares certos. Estou infeliz também, não ajuda. Será que é melhor give up pra não sofrer depois. mas o que vou fazer? abrir uma loja de cosméticos? virar burocrata? as alternativas são péssimas, e não tem nada que eu goste mais do que arte. só não sei se sou boa. E provavelmente nunca irei saber....o artista está condenado a não saber se auto-avaliar direito. talvez seja isso que faça com que ele não pare de criar, só para se superar....não era a essa a dúvida de Cézanne? se tinha "conseguido"? morreu sem saber...

alex: Algumas das pessoas que você admira desisitiram?  Did they face greater odds than you?

Eu: If they did i wouldn't admire them...

alex:Do you wanna be worthy of them or not?

Eu: I don't think i face any odds. i have all the dominant characteristics, i have nothing to strive for. Question is: do i care that much?

alex:  That's up to you....Lembra a historia do eu daria a minha vida pra tocar assim?

eu: Não

alex;Começa com o artur moreira lima, (mas poderia ser picasso ou machado de assis) aí chega o chato, vê ele trabalhando e diz "puxa, eu daria a minha vida pra tocar/pintar/escrever assim", e o outro: " pois eu dei"

Eu: Bom, muito bom.

alex: But they cared, if they didn't they couldn't have pulled it off... jura que eu nunca te contei essa?

Eu: Juro.

Eu: Eu acho tudo muito overwhelming. Tem muita gente entrando na arte com pouca qualidade e eu fico puta quando alguém faz arte ruim, porque estraga essa coisa que eu gosto tanto...

alex: Eu já até postei essa história no blog

eu: Não lembro, sorry...mas também não sei qual seria a minha grande contribuição. tenho visto que arte ou literatura não pode ser só uma questão de expressão pessoal, tem que ser isso+consciência histórica+visão de futuro. Senão não vinga, não sobrevive o tempo...

alex: Nao aprende arte com marxista não, eles só falam merda. Puta, não acredito que tive que ouvir isso antes de dormir...de onde vem o dinheiro desses artistas revolucionários que moram na praia?

eu: Vendendo quadro pra forrar parede de gente rica, ué! ...só dá pra fazer pintura boa com tinta de qualidade.... e é por isso que eles são valorizados. Premium ideas made with premium materials. Mas tem arte feita com pedaço de pau que vale muito mais que uma tela qualquer, então foda-se a tinta importada... Internet é uma maneira de fazer arte realtivamente cost-free. Mas ainda acredito no "objeto" de arte. acho que arte é algo físico, por mais que o Duchamp & cia. digam que arte é apenas uma idéia. Mas mesmo o duchamp precisou de um objeto para mostrar isso. o mictorio é isso. Duchamp era na realidade um puta dandy. só isso. Dizem que meu trabalho é muito de agora. isso é bom e ruim: bom porque mostra que é algo novo. ruim porque não tem nada de eterno à primeira vista. Boa arte dialoga com os dois. é isso que impulsiona a criação....é tanto yadda yadda yadda pra coisas tão simples

alex: Don't fall into that yourself

Eu: o problema é que acho arte brasileira semi-ruim. Acho tudo cópia mas quando é original é ótimo, a melhor do mundo. mas as geracões subsequentes copiam os que deram certo. é o que acontece hoje com o hélio oiticia e lygia clark. tá tão embrenhado no subconsceinte da galera que é difícil soltar das referências....muleta...O que dificulta pra mim é que eu só conheci arte brasileira há 3 anos atrás, então eu não tenho essas influências tão fortes. E isso não me dá uma base de diálogo com o pensamento de cá, ou de lugar nenhum porque nem "lá" estou. Ao mesmo tempo não sou uma artista americana então fica estranho eu dialogar com os de lá. Mó limbão...

alex: You're lucky

eu: Outro dia fui numa mostra de vídeo-arte e eu fiquei com vergonha de tão ruim...

alex: Se vc ceder a tentação de se juntar a matilha será só mais uma...eu pergunto de novo: algumas das pessoas que vc admirava era só mais um em um grupelho, qualquer grupelho que fosse, ou eram pessoas que tinham coragem de andar sozinhas? Vc tem que decidir quem vc é... está ficando tarde pra isso

Eu: Eu sei , eu sei, e tá foda...

alex: Ou vc é uma da matilha e vai ficar hanging with them no mundinho deles, ou vc vai ser vc mesma e vai encarar todo o onus e possiveis recompensas...só nao se engane achando que membros de grupelhos conseguem ascender aos seus respectivos grupelhos. ... it simply doesn't happen....Once a pack animal, forever a pack animal

eu::  i'm not a pack animal, never was...

alex: so don't try to be one or don't commiserate because you're not one

eu: yeah, i'm between worlds again. o saco é que forever achar que eu sou uma patricinha.

alex: corta um talho na cara, arranca fora o nariz,  maybe it's worth it

eu: você faria isso?

Eu: eu sei que eu tenho a lot going for me. ano passado durante uma viagem tive um rush de inspiração absurdo. fiquei vagando uma madrugada inteira por estocolmo fotografando. fiz a minha obra mais melancólica. mas depois voltei pra cá e estagnei...

alex:   a vida é uma coisa muito engraçada mesmo... a gente passa a juventude inteira jogando sementes, bel

alex: Tem outra historinha...

Eu: Vc me ajuda por metáforas, bonitinho...

alex: Quando vc vir uma maquina dando centenas de marteladas numa pedra e, depois de mil, a pedra se desfaz, nao caia no erro de achar que foi a ULTIMA martelada that did the trick... uma coisa que o blog me ensinou é que, só por existirmos e estarmos fazendo nosso trabalho com sinceridade, estamos tocando a vida de muita gente...


eu: Qual é a mensagem da historia da maquinas mesmo?

alex: a mensagem é que quando a gente consegue alguma coisa, nao foi o nosso ultimo effort that did - foi a soma de todos os anteriores

eu: Passei os últimos 10 anos getting as many skills as possible, vendo o máximo que pude do mundo pra me preparar pra depois. porque acho que é a maneira lógica de viver. Por isso que eu aos quase-30 estou encarando as questões da arte só agora. maybe it's the right time for me... tudo foi para que eu chegasse nesse momento de ser forçada a ter uma direção. o lance é que eles vão me arrasar no mestrado...

alex:don't let them...don't graduate if you don't have to

eu: i will have to teach them to teach me...but then i don't get the degree

alex: What's more important? art or the fucking degree?...establish your priorities, porra, it's only up to you

eu: é , já passei da idade em que tinha que fazer todos os deveres, né? foda-se o que eles acharem.

alex: isabel, bota uma coisa na sua cabeça,  read the biographies of people you admire, consider some of their tough choices, if you don't break with the needs and expectations of the establishment, you may earn a nice living, but you'll never amount to much

eu: Eu tenho um parâmetro, a Lygia Pape. A cada exposicão ela aparecia com um trabalho completamente diferente do anterior. Os criticos não levavam ela a sério e achavam que ela não tinha "foco". Até que um fodão, o Mario Pedrosa, falou pra parar de encher o saco dela e prestar atenção. Ela fez coisas lindas, mas ficou amarga no final. E fazia graphic design e dava aulas pra sobreviver. Ela dava aula no fundão. mas morreu antes que eu pudesse conhecê-la....ela era a unica louca que tinha lá. Um professor tem que ser um pouco alucinado porque a   loucura de um contagia o todo (moby dick). Os que restaram não são loucos o suficiente e por isso são retrógrados ou resignados. Depois na tese eles hammer os alunos segundo conceitos de 1960...Nego surta ali dentro... Mas a solução é uma só: work work work

alex: Só vc pode decidir o que vc quer. O mais incrivel é que as pessoas tem de fato uma opção...tem mesmo... e a maioria escolhe a mediocridade

eu: ...o caminho mais fácil..like pack animals....longe disso!!!!!

4.2.05

Fodendo ou fazendo amor

Um professor de arte meu dizia o seguinte ao comentar os trabalhos de arte dos alunos:

"só você sabe quando está fodendo ou fazendo amor".

O que arte tem a ver com sexo? Eu estou aqui desenhando!

Não entendi no início, mas agora interpreto desta forma: Se você está sendo sincero e amando o que faz, estará fazendo amor sincero com aquilo, estará se dando inteiramente de corpo e alma. É como estar fazendo amor com o seu namorado/mulher/significant other e se deixar entregar, deixando a sua vontade à espreita e se concentrando no prazer proporcionado ao outro, do começo ao fim, sem pedir nada em troca. E ainda depois fuma aquele cigarrinho...

Dá pra ver quando um quadro é feito "fazendo amor": está cheio de desejo consumado. As pinceladas nervosas são como o ir e vir do coito, as grandes áreas de tinta ejaculações, as delicadezas são as carícias feitas no lugar certo, e por aí vai.

Agora quando você está "fodendo" ao fazer uma obra de arte, você está fundamentalmente cumprindo apenas uma obrigação ou uma vontade latente animal que vem de alguma repressão sexual da sua outra incarnação. É como se você estivesse deitando com o seu homem mas pensando em outro. Estar "fodendo" ao fazer arte é fazer arte por todos os motivos errados: por expurgo, por necessidade de auto-afirmação, por masturbação mental, porque está pensando em wittgenstein, porque sabe que o Jasper Johns foi mal genial que você e que você não passa de um copista farsante. Terminada a obra, e a gozada nem foi tão boa assim. Ou foi. Tem mulher que finge orgasmo, não tem?

A questão é: fazendo amor se chega mais longe. O artista, aliás, qualquer um, deve ter um caso de amor com a sua atividade. Morrer por ela, cantar aquelas músicas tristinhas de bossa nova para ela, dizer palavras doces, fazer chamego...só assim a atividade amada corresponderá. Fazer amor com o mundo então é sublime. E se não fosse o sublime, porque trabalhar? porque amar? porque se dar o trabalho de se dar o trabalho?

Mas tem um segredo, um que o mundo jamais saberá: só você sabe quando você está fodendo ou fazendo amor.