26.8.04

Viajando

Prezados Leitores,

Eu sou de sumir da face da terra sem avisar.

Mas desta vez, já vou avisando, estou viajando e volto daqui a uma semana.

Dia 7/09 abro exposição em Córdoba, na Argentina. Vou mostrar o mesmo material que expus em abril em Buenos Aires. Para saber mais sobre a exposição, leiam este artigo do meu amigo LLL que escreveu uma excelente resenha sobre o meu trabalho" Isabel Löfgren: Identidade e Privacidade na Internet".

Para ver os trabalhos da exposição, a série começa aqui lá no meu fotolog.

Até a volta!!

25.8.04

No rabo do cometa

Vou entrar na onda do meu amigo LLL, vou apelar.

Vocês que visitam o meu blog de vez em quando e entram dentro do meu universo artístico-imagético deveriam ser os primeiros em me apoiar nas minhas iniciativas artísticas, ou seja, meus projetos. Para que eu possa continunar sendo artista e não me prostituir em um emprego burocrático qualquer é fundamental que eu possa exercer a minha arte, sob pena de nunca mais poder contribuir com nada para vocês. Não fazer arte significaria terminar o blog e qualquer atividade relacionada à arte. Em suma, seria a minha morte. Vejam bem, não estou pedindo dinheiro, só estou pedindo uma foto boba.

Mas porque peço a ajuda de vocês? Porque um dos meus projetos só pode ser concretizado se vocês participarem maciçamente. O projeto depende exclusivamente da participação de usuários de internet. Tenho um fotolog de grupo, o idcard, cujo objetivo é juntar fotos de identidade das pessoas que navegam no fotolog. O intuito é fazer um retrato dessa galera que navega freneticamente pela internet, meio que revelando a sua identidade a partir do documento que legitima a minha/sua existência perante o mundo: a foto de identidade. O interessante é que eu não sei a verdadeira identidade de ninguém ali, já que quase todo mundo usa um pseudônimo, e assim se cria uma contradição, uma ambiguidade que eu acho maneiríssima e interessante do ponto de vista de uma arte que é feita em rede, como uma colaboração. Para que um artista usaria a internet no seu trabalho se não fosse para isso?



Poucos dos que navegam aqui foram lá e postaram. Pois bem, convoco todo mundo a tirar 5 minutos para escanear a sua foto de passaporte, identidade, carteira de motorista, o que for, e postar . Se você não é membro do fotolog, envie a sua foto para idcard_project@yahoo.com que eu postarei por você. Penso que se vocês têm o trabalho de postar fotos suas no Orkut, Multiply, etc, porque não postar fotos para algo que seja realmente útil? Toma muito menos tempo e o retorno é muito maior. Garanto.

(E já que vocês vão parar no fotolog, continuem acessando o meu fotolog não-colaborativo, ou seja, pessoal, para ver os espaços do tédio. A cada ida minha a uma sala de espera ou lugar burocrático, aparece uma nova foto-montagem. Elas estão ficando cada vez mais sofisticadas, e para quem mora no Rio de Janeiro, em breve estarei expondo essas fotos em alguns lugares.)

Aqui vai o texto que introduz o projeto IDCARD lá no fotolog:

A maioria das pessoas se acha muito feia nas fotos de seus documentos. E é verdade.

IDCARD, diferente de todos os outros fotologs de grupo, não é um concurso de beleza. É um lugar onde os fotologgers postam suas fotos de identidade para que se possa atrelar um rosto ao pseudônimo usado nesta comunidade. A sua foto de identidade é o que faz de você uma pessoa aos olhos das autoridades, o que faz com que essa foto seja uma expressão do que você é, ou do que você representa. Sem ela, você não é ninguém, pelo menos não para a sociedade moderna que vigia seus cidadãos das maneiras mais diversas. Este projeto é, de certa forma, uma crítica à cultura de vigilância em que vivemos.

Para realizar este projeto, só o que eu preciso é a sua foto de identidade. Não quero saber nenhuma outra informação além da foto, pois o seu número de identificacão é completamente irrelevante. Seja criativo, poste uma foto com um penteado estranho, uma em que os olhos estão fechados, ou a foto de identidade da carteira militar do seu avô que serviu na segunda guerra mundial. Uma participante postou fotos de identidade de todas as etapas de sua vida, gostei muito.

*RULES/Regras:
1. Não envie fotos se vc não quer participar do projeto. Se uma foto for enviada ela será usada e você estará dando total permissão de uso. O seu nome ou username será inteiramente preservado do conhecimento do público.

2. Se você está escaneando a sua carteira de identidade ou qualquer outro documento de identificação mande somente a foto, não o nome, número de identidade ou endereço. Escaneie em uma qualidade razoável.

3. Você pode enviar qualquer foto de qualquer documento de identificação (identidade, passaporte, carteira de motorista, etc.)

Muita gente que quer participar não está postando fotos porque não tem scanner. Não faz mal. Pode tirar uma foto da sua identidade, da mesma maneira que vcs tiram as fotos que vcs postam nos próprios fotologs. Só garantam que a foto esteja em foco com qualidade razoável. Tirem as fotos da ID a 90 graus do cartão para ter o menos distorção possível.



SOBRE O PROJETO

ID_card é um projeto colaborativo de artes plásticas iniciado pela artista plástica Isabel Löfgren. "Colaborativo" significa que o projeto se faz através dos esforços de uma comunidade empenhada para cumprir os objetivos do projeto onde a presença da artista se faz através da criação da idéia.

O objetivo do projeto é montar um projeto de artes visuais com fotos enviadas pelos usuários deste mecanismo. É uma extensão da minha pesquisa sobre relações virtuais na internet a partir das imagens que são inseridas na rede, e o resultado será uma espécie de "retrato" desta comunidade.

Se quiser postar uma foto, fica avisado que a artista automaticamente terá total liberdade de uso das imagens na confecção de obras de arte que serão posteriormente exibidas em exposições coletivas.

Sua foto não será manipulada ou distorcida, as fotos individuais não serão comercializadas pois somente serão usadas para o projeto de arte, e sua identidade será preservada, pois não interessa ao projeto o seu nome verdadeiro ou endereço.


OBRIGADA!

______

Captaram? Então, mãos à obra!!!



23.8.04

Onde foi parar o meu Grito?

O Grito de Munch foi roubado junto com a Melancolia na Noruega. Numa terra tão plácida e pacífica onde acontece um assassinato a cada 10 anos, nem os trolls e gnomos conseguiram descobrir quem foram os ladrões, que chegaram armados até os dentes num museu com segurança precaríssima.(Aliás, imagino esses caras com roupas pretas ninja, equipamentos super hi-tech, armas com silenciador, mandados ali por algum magnata mau-caráter)

Até agora só acharam a moldura. Achei muito estranho os ladrões se desfazerem da moldura assim tão perto do museu. O quadro foi pintado sobre madeira, e retirá-lo da moldura seria inútil pois o quadro não poderia mesmo ser desentelado para ser enrolado dentro de um canudo e assim retirado do país sem ninguém perceber. Que ladrões burros. Deram sorte que o quadro não é muito grande (90x60 cm aproximadamente, mas imbecis de qualquer maneira.

E isso confirma a minha teoria sobre ladrões. Ladrões gostam de dizer que roubam, e fazem questão de deixar todas as pistas do roubo. É como se dissessem "mamãe, olha como eu sei roubar bem!". Porque não tem graça nenhuma roubar uma coisa e não contar pra ninguém, e pior, não ser pego. Metade da graça de ser ladrão, acho eu, deve ser a adrenalina da perseguição.

Quem sabe amanhã aparece outra pista? Espero que encontrem o Grito. Senão eu grito.

13.8.04

9.8.04

Arte feminina

Ah sim, sobre a discussão de arte e política, lembrei que já fui feminista. Mas não dessas feministas imbecis que dão bolsada nos homens que lhes abrem a porta, que não raspam o suvaco ou que confundem feminismo com lesbianismo. Eu era feminista do tipo que acredita que mulheres devem ter direitos iguais aos dos homens perante a lei, igualdade de salários, de oportunidade, das licenças-maternidade, etc.

Há tempos que os curadores descobriram nas mulheres um eixo curatorial. Tanto faz se as meninas fazem escultura, gravura, pintura ou colagem; o que as une sob o mesmo guarda-chuva é o fato de terem nascido mulheres. É como se expusessem todos os artistas gays na mesma exposição e chamassem de "Gay Art", ou todos os negros ("Black Art"), ou todos os hispânico-americanos ("Latino Art"), ou todos os cachorros ("Dog Art"), ou seja, todos pertencem ao mesmo grupo étnico ou social. Os curadores norte-americanos e europeus são especialmente afeitos a esse tipo de categorização, para deixar à margem todos aqueles que não são homens, nem brancos e nem anglo-saxões.

Será que existe algo como arte feminina? Seria possível uma arte que só uma mulher (ou gay, ou negro, ou favelado) poderia fazer? Existiriam temas, ou estilos, que nenhum homen branco anglo-saxão poderia tratar? Historicamente, as mulheres artistas sempre ficaram em segundo plano, mas não por causa do seu talento ou conhecimento, mas porque a história privilegiou os homens, como sempre. E as mulheres, para estes homens privilegiados, não passavam de modelos-vivos para quadros eróticos. Mas isso mudou com o tempo. Agora as mulheres usam o próprio corpo nu como elemento de um ato performático para servir ao seu propósito e não mais subserviente ao homem.

Se existe uma visualidade particularmente feminina, não sei. Só sei que as mulheres, diferente dos homens, trouxeram a esfera privada, doméstica, uterina, para dentro da arte. Se antes a costura era uma atividade exclusivamente feminina, por exemplo, hoje ela é usada na arte para justamente subverter esse paradigma. Tenho um amigo que insiste em dizer que não dá pra olhar a arte feita por uma mulher se não for pelo prisma freudiano, querendo dizer, que tudo na mulher recai sobre o seu corpo e sua capacidade de geracão e na ausência do falo. Whatever.

Aí eu volto ao meu ex-ser feminista e respondo: existe uma arte particularmente masculina?

6.8.04

Sintaxe

Uma das minhas sub-profissões é ser assistente de artista. Sempre pensei que, por os artistas brasileiros serem meio pobres, ser assistente de artista é coisa de artista americano que é financiado pelo Estado.

Fui parar logo num bico com um artista ex-guerrilheiro pós-acadêmico que queria mais era ser um heremita na montanha, como um Cézanne no fim da vida, pintando a mesma montanha por anos a fio e revolucionando a arte com alguns poucos textos decisivos. Este quase-heremita tem um outro assistente que é marxista e militante pelo PSTU. E eu ali, mulher e neo-libertária social-democrata feminista sueca, tentando entender porque um foi à guerrilha durante a ditadura (e preso, torturado) e porque o outro milita na extrema esquerda nos anos 2000 em plena era Lula, e como isso converge na arte de ambos. E como as minhas crenças não convergem na minha própria arte.

O confronto político é inevitável, porque estes 2 outros artistas (o velho e o novo) aliam a política à própria vida e por consequencia lógica, à própria arte. Enquanto eu fico nos meus questionamentos pessoais desenhando freneticamente no meu Book of Hours (sketchbook) como uma adolescente escreve na sua agenda, o artista maduro fica relembrando os fatos que o levaram a ser um combatente e uma vítima do autoritarismo e o artista novo alimenta um desejo insaciável de enxergar o mundo por um prisma mais igualitário.

Eu fico calada diante dessas conversas, espremida num canto, remoendo minha falta de crença na ordem do mundo e em como, efetivamente, só participo para alimentar o capitalismo e a cultura de consumo no mundo, sendo eu uma executiva mercenária e perversa (uma das minhas múltiplas personalidades/bicos) com uma educação artística de elite, mas tentando transcender isso a todo custo com minha arte, ou através do "ser" artista, mas não sabendo exatamente como. O que dizer? Como dizê-lo? Como enxergar as estruturas invisíveis no meio de tanta informação e como subverter seus significados? O que selecionar? O que defender/rejeitar?

Numa das inúmeras conversas dentro da pequena cobertura que abriga o atelier do quase-heremita, tornei isso público aos outros 2, e a resposta do mestre foi decisiva. "O seu único compromisso e engajamento deve ser com sua própria sintaxe e com a crença no seu próprio trabalho. Você é quem decide se é artista ou não. Você é quem estabelece os rumos para sua arte. O sistema não vai legitimar nada se você não tiver obsessão pelo que acredita." Vindo de um ex-guerrilheiro com uma bala ainda alojada na cabeça, isso é uma lição e tanto.

Decidir ser artista, uma profissional da transgressão, em um tempo em que o mercado e a tecnologia definem o rumo das pessoas e marginalizam todo o resto e põem à margem tudo o que não gera lucro. Isto em si já constitui um ato político, diz ele.

Wittgen...who?

Lendo filosofia. Wittgenstein, ininteligível. Ele diz:

"O significado é o uso"

e eu respondo:

se não tem uso tem significado?

4.8.04

A roda gira

Há tempos venho tentando encontrar artistas que mantém blogs por um simples desejo de encontrar irmãos ou correligionários na rede, saber que não estou falando no escuro. Já sabia do blog do Dudi Maia Rosa, (que aliás manda muito bem, expondo pinturas lindas em galeria muito fera agora em SP), mas aos poucos vou descobrindo outros. Não são muitos, infelizmente, mas continuo aqui, firme e forte até porque o meu trabalho em rede e na rede ganha força ( e participantes) a cada dia. Mesmo assim, o caderninho de desenho, o famigerado Book of Hours, continua dentro da bolsa pronto para ser acionado a qualquer momento, em qualquer lugar. Aliás não tenho postado desenho nenhum ultimamente. Vamos mudar essa situação.

Mas hoje tive a grata surpresa de conhecer, assim por acaso, a Ana Lúcia que muito gentilmente citou o Book of Hours, o Loba Má, e o ID Card no seu post sobre Blogs de Artistas. Como ela é historiadora da arte, ela é obviamente muito mais eloquente do que eu.

Um trecho:

"Há apenas alguns anos atrás o ateliê de um artista era um espaço cercado de mistério, quase sagrado, mesmo para aqueles que se diziam mais abertos. O ateliê era um lugar de encontros sim. Mas de encontros com o marchand, com o galerista, com outros artistas. Para alguns se tratava também de um lugar para ensinar, espaço freqüentado por alguns alunos.

Há uns anos atrás a preparação de uma exposição era cercada de mistério. Os meses de trabalho suado eram involtos no isolamento quase forçado. Para aqueles artistas que costumavam fotografar as diferentes etapas do trabalho, o processo de criação ficava registrado e na maior parte das vezes ia parar esquecido dentro de uma gaveta. Pois os blogs, esses diários virtuais que associam texto e imagem, vieram para mudar essa situação."


Falou e disse.

2.8.04

Intimidades publicas

Nada de programações mirabolantes em flash, video-clipes virtuais ou códigos semióticos em C++. Arte em Rede não precisa ser coisa de nerd.

Arte interativa pode ser tão simples, só o que você precisa é um ponto de contato entre o usuário e a sua idéia que vem em formato de um site. Você, como artista, só precisa bolar um recipiente interessante e deixa que a galera vai enchendo com as informações delas.

Este projeto Real Love Stories é assim. Você submete a sua história de amor via formulário, e a artista exibirá essas declarações de amor numa rua em Long Beach na California. Um projeto similar, também usando o amor como assunto, foi um projeto no Japão em que as mensagens eram exibidas via raio laser no céu à noite, na cidade de Yokohama. Bastava mandar a mensagem via o site para a pessoa a quem você quer fazer uma declaração de amor. O destinatário receberia um email com essa declaração na mesma hora da transmissão da sua mensagem no céu.

Ainda na questão do amor. O primeiro projeto desse tipo que eu vi, pré-internet, foi em Paris em que a artista (não me lembro o nome) projetava, a partir de um bateau-mouche sobre o Sena, anúncios de jornais pessoais (do tipo mulher jovem solteira procura...) sobre as margens do rio. Muito lindo o efeito, mas não só isso, o tema em questão é o espaço privado versus espaço público, leia-se, o espaço interno das emoções desnudadas no espaço público da cidade.

É esse tipo de coisa que estou buscando....

Participe do meu projeto em rede: IDCard - poste sua foto de identidade, ou de passaporte ou de qualquer outro documento.
Se você é membro do fotolog, é só clicar direto e postar. Se você não é membro do fotolog, é só enviar a foto para idcard_project@yahoo.com.