5.12.06

O que sobra?

A ubiqüidade da troca de informações via redes de telecomunicações na vida contemporânea tem gerado, na última década, um novo campo de experimentação nas artes plásticas. O uso de ferramentas eletrônicas no processo artístico abre questões que ultrapassam uma análise tecnocêntrica da produção artística atual nos campos experimentais das novas mídias, especialmente em relação a trabalhos que são criados com informações disponíveis na rede ou que utilizam o meio eletrônico como suporte. Estes novos procedimentos abrem questões relevantes sobre a confluência da arte, tecnologia e ciência e renovam o debate em torno de temas da arte como autoria, originalidade, relação sujeito-objeto, e a materialidade do objeto de arte.

Usando a teoria da informação, de fluxos e sistemas como ponto de partida para uma discussão sobre as dinâmicas, ou agenciamento, envolvidas na complexidade destes novos procedimentos, é necessário renovar o debate atual para além de uma discussão tecnocêntrica do suporte e da técnica, favorecendo a elaboração de uma nova subjetividade emergente neste campo.

A tese central gira em torno de uma discussão da natureza da imagem digital como parte constituinte deste fluxo informacional visando atingir uma noção de "imagem" em um universo paralelo onde as produções artísticas midiáticas são centradas sobre a obra como processo e não mais como obra/objeto. Peter Weibel defende que somos parte de um sistema e em que o entendimento do mundo significa percebê-lo a partir da noção de interface, fazendo com que a obra de arte adquira maior sentido dentro de uma abordagem fenomenológica de um conjunto de inter-relações complexas entre interator e observador.

O campo de atuação das obras e idéias exploradas nesta dissertação é a rede informacional e como o artista se apropria de dados existentes na rede, e os resignifica em uma dimensão afetiva, assim criando uma subjetividade renovada. Passado o solipsismo da arte das novas mídias nos anos 90, o campo experimental propiciado pela Internet e pela interação de artistas com dados existentes, sejam imagens do Google ou dados provenientes de fontes governamentais sigilosas, propõem um casamento mais fecundo com a máquina e com as tecnologias da informação á medida que essas tecnologias e o seu uso atingem uma dimensão e importância social maior dentro da era do lifestyle computing.

No entanto, a ubiqüidade da informação traz implicações políticas polêmicas que coincidem com alguns problemas confrontados por artistas nas últimas décadas: autoria, agenciamento, legitimidade, visibilidade, permutação da relação sujeito-objeto, hibridez e a materialidade evanescente do objeto de arte. Quando o curador da Bienal de Guangzhou, perplexo com a seleção de obras da mostra, exclama: “gostaria de ver mais arte…aqui só há sociologia…”, este é um indicador forte de que a arte na era da modernidade reflexiva propõe uma auto-análise diferente do que Greenberg propôs acerca da auto-referencialidade do meio…quando os quatro cantos da tela de pintura já foram ultrapassados, o que sobra?