Em janeiro deste ano, criei um fotolog público chamado IDCard onde todos os fotologgers podem postar as suas fotos de identidade.
O fenômeno blog e fotolog me fascina. Sem gastar um tostão, tenho um canal de distribuição com a maior eficiência possível para transmitir minhas idéias e obras, mas a coisa tomou outra dimensão com o fotolog público. Projetos interativos e colaborativos não são nada de novo na arte digital, mas como não sei nada de programação para criar meus próprios mecanismos fico limitada aos sites públicos.
Acho que as pessoas que comandam fotolog públicos não têm noção que têm em mãos uma ferramenta poderosa para a arte digital. Como não sou boba, fui logo montando o meu como um projeto de arte. E como um dos temas na minha arte é a questão da (perda de) identidade na internet, fui logo tratando de saber a cara das pessoas por trás dos pseudônimos.
Atrás da tela do computador, não interessa se você é manco, caolho, branco, preto, ou azul, velho, ou mongolês. O que importa é que você é um ponto de conexão na rede. Mas fico me perguntando sobre quem está por trás desse ponto de conexão. Navego intensamente todos os dias me comunicando com muita gente sempre, mas parece que estou falando com as pessoas dentro de um quarto escuro. De certa forma tenho o desejo de querer "ver" a pessoa, de saber que ela realmente existe fisicamente, em carne e osso. Pode ser um desejo arcaico, mas mesmo orientando minha arte para o digital e virtual, ainda sinto a necessidade de matéria. Se não posso ter matéria, posso pelo menos provar que ela existe.
Porque a foto de identidade? Tenho aversão a burocracia. Meus maiores problemas de integração na sociedade é quando tenho que confrontar o meu ser civil. Me incomoda o fato de ser mais um número, de ter que usar crachá com foto quando vou visitar cliente, de ter que tirar visto em passaporte, de tirar carteirinha até para alugar video na esquina. Me sinto um agente livre na sociedade, tenho natureza nômade e ser identificada, rotulada e carimbada me incomoda, e muito. E sendo artista, sinto que explorar os meus temores rendem sempre as minhas melhores idéias.
Mas há algo de interessante no mundo da imagem em relação à documentação civil, de registro. É um gênero quase à parte, com estética própria, função específica e contexto definido. No mundo de hoje não se circula mais sem ser vigiado, identificado, cadastrado em algum lugar e com o avanço das tecnologias de vigilância, ser fotografado nem é mais um ato intencional. Em termos de fotografia, é o tipo de experiência que todo ser humano no planeta com a fotografia pelo menos uma vz na vida. Sem foto não tem identidade. Sem identidade, não se existe. Se não existe, não faz parte do sistema. Se não faz parte do sistema, não tem direito a nada.
Os resultados são interessantes. Há pessoas que transgridem a seriedade das fotos e mostram a língua, dando uma banana pro sistemão. Outras pessoas postam 3 ou 4 fotos de documentos diferentes, em épocas diferentes com uma certa vaidade. Outras aparecem sorrindo, a maioria sérias e sempre com o corte de cabelo fora de moda. Ainda tem aqueles que postam fotos de identidade da carteira militar do pai que combateu na segunda guerra. Tem ate foto de gente que está completamente apagada, tem identidade mas não tem cara. A maioria é de pessoas brancas, poucos negros e asiáticos, e nenhum árabe. (seria o fotolog divertimento de branco? pena.)
Está esperando o que? Vai lá e postem suas fotos! Se não for membro do fotolog, envie a foto para idcard_project@yahoo.com e postarei por você. Mas só quero a foto, o seu nome e RG não me interessam...
15.6.04
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