Outro dia recebi um comentário que me preocupou. Senti que alguma alma que está incerta sobre ser artista leu aqui e se identificou. Não era essa a minha proposta, me desculpe! . Eu reclamo muito da burrice do meio da arte, mas nunca da arte em si. Arte é minha paixão, e vou ser totalmente intransigente sobre continuar fazendo arte, porque senão eu não existo. E espero que aqueles que estão começando, assim como eu, não desanimem, porque é difícil mesmo, é um processo lento, e tem que saber lidar com as frustrações. Enquanto a informação vai à velocidade da luz, o maturamento de um artista leva uma vida inteira. Mas ainda é melhor que a alternativa. Passar a vida sendo uma outra coisa medíocre, nem pensar. Ainda acho que a arte é um dos poucos meios que temos hoje em dia de sermos absolutamente e intransigentemente individuais. Não individualistas, mas individuais, singulares, únicos.
Estar decepcionado com o estado da arte é uma coisa, estar decepcionado com sua própria arte é outra completamente diferente. Mas infelizmente, sinto que muitos dos meus colegas estão muito carentes e inseguros nesse meio da arte. Porque? Porque hoje não temos um inimigo visível como antes era a arte acadêmica. A ruptura, há 50 anos atrás, era total contra os cânones da "bela" arte, em favor de experimentos mais livres de dogmas. Essas rupturas se tornaram nossas referências mas ainda continuam sendo rupturas, e hoje, com essa pluralização e globalização, a coisa implodiu em mil pedacinhos. Pois bem, eu e você somos um desses mil pedacinhos. O que importa agora não é um movimento ou uma ruptura total com o passado, mas uma estratégia de individualidade no presente. Tomar muito cuidado para a identidade e subjetividade não ser diluída em modelos impostos pela publicidade ou revistas de fofoca, e manter uma visão limpa do mundo, mesmo que o mundo não seja limpo. Isso requer um esforço absurdo em trabalhar a subjetividade do artista e perceber o que acontece no mundo externo, os novos meios, a política, os canais de distribuição alternativos, para assim chegar a uma solução no plano pessoal que vá carregar algo de universal. Quanto mais preciso na subjetividade, maior a chance de comunicação universal.
Isso vale para todas as artes, não só para a pintura, a arte de novas mídias, ou a instalação. Essas são todas vibrações da mesma coisa, manifestações físicas do mesmo trabalho.
O resto é blá blá blá.
8.6.04
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Escolher o caminho da arte é algo bem difícil. Você pode ser um advogado medíocre, um comerciante mediano, e sobreviver, porém o campo da arte exige que você seja incrível, sob pena de se tornar um artesão. Arte exige superação da média, inventividade, concretizaçào do até então nunca feito. Acho que é isto que assusta as pessoas. Naldinho www.mblog.com/singrando
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