25.6.04

A origem das cores

Artista contemporâneo se acha o máximo por utilizar materiais cotidianos, fazer luxo com lixo, botar pena de pavão em fiofó de galinha, se pendurar de cabeça pra baixo e falando ao contrário. Parece que cada artista quer reinventar a roda, na corrida pra ver quem consegue ser mais original. Parece também que a arte "conceitual" é invenção daqueles artistas com menos de 40 anos de idade. A arte conceitual remonta desde o tempo das cavernas, e a própria arte com seus materiais "tradicionais", ou seja, tintas, pigmentos, pincéis, às vezes não parece ter nada de tradicional. Estudando a origem dos pigmentos, encontrei verdadeiras pérolas conceituais como extrato de urina de vaca fervida, secreção de ostra e folhas de cobre suando dentro de folhas de parreira, que remontam desde a antigüidade. Alguns exemplos tirados do meu "Painting Materials", bíblia de qualquer um que ousa empunhar um pincel:

Amarelo Indiano: extrato orgânico preparado originalmente na área de Bengal na Índia derivado da urina de vacas alimentadas exclusivamente de folhas de mangueira. Era vendida em extrato seco no formato de bolas com aparência externa marrom mas com interior de cor amarelo-limão brilhante. Hoje, essa prática é proibida por lei, e o que vemos hoje é um substituto sintético com qualidade e dirabilidade similar.

Indigo: Tinta azul de uso conhecido como tintura no Egito antigo, e muito mais tarde usado com pigmento usado para pintar escudos de guerra dos soldados romanos. Mencionado em registros históricos datando do século 13 em transações comerciais da européia com o Oriente (um dos produtos de importação mais valorizados da época eram pigmentos). Utilizado na pintura italiana pré-renascentista, tendo sido amplamente utilizada durante e após a renascença. No Oriente, indigo era cultivado em toda a Índia e na China e utilizado principalmente para tingimento de tecidos e também na pintura de painéis na China e na Ásia Central.

O indigo é extraído da planta "Indigofera" amplamente plantada na Índia e comercializada pelos europeus desde o séc. 14. É um dos únicos azuis derivados de plantas, sendo que quase todos os pigmentos azuis derivam de metais ou pedras.

Verdigris: O nome é uma contração de "vert de grèce", verde grego. Cor antiga, com preparo registrado pelos romanos. A cor se forma em chapas de cobre expostas aos vapores de folhas de parreira fermentadas, ou lacradas em barris sobre vinagre. Depois da oxidação das placas de cobre, raspa-se o substrato e assim é obtido o pigmento puro. Cor amplamente usado em iluminiras medievais, mas devido à sua natureza metálica instável, pode se tornar marrom escuro com a exposição à luz natural, ou pode "comer" o papel onde foi colocada, deixando buracos em diversos manuscritos medievais.

Tyrian Purple: Um dos mais importantes e mais caros pigmentos naturais da antiguidade. Era preparado com tintas de vários moluscos incluindo murex brandaris e purpura haemostoma encontrados na costa do Mediterrâneo e do Atlântico e nas Ilhas Britânicas. Quantidades enormes destes moluscos eram usados para tingir tecidos e ainda são encontradas pilhas das cascas dos moluscos em alguns sítios históricos na costa grega. A secreção do molusco está contida dentro de uma pequena veia ou cisto que, quando quebrada ou partida pela mão, secreta um fluido branco. Os tecidos são bahnados neste fluido branco e postos a secar ao sol que "revela" a tintura púrpura brilhante . Os diferentes tons dependem do tipo de molusco e o tipo de exração do fluido branco.

Segundo Plínio, o melhor pigmento era extraído na Tíria, e era a cor utilizada nas vestes reais romanas, cor que até os dias hoje simboliza realeza. Esta cor parou definitivamente de ser usada e extraída segundo as técnicas antigas no século 7.

Sepia: secreção preta ou marrom-escura tirada da bolsa de tinta de polvos ou lulas.

Laca Indiana: Tintura vermelha orgânica natural derivada de uma secreção resinosa da larva do inseto Coccus lacca que vive em certas árvores da espécie Croton ficus na Índia, Birmânia e outros países do Oriente. Também utilizada como verniz quando processada de forma alternativa, produzindo o popular "shellac", verniz de uso muito popular na pintura a óleo.

Pau-Brasil: Sim, não só é uma árvore, mas é uma cor, razão pela qual fomos descobertos e deflorestados, para tingir de vermelho o vestuário de luxo europeu. É uam tinta vermelha natural extraída da árvore Pau-Brasil. A tintura pau-brasil na Idade Média vinha do Ceilão e já tinha esse nome muito antes do portugueses descrobrirem a terra que mais tarde seria chamada de Brasil. A espécie de pau-brasil chamada Pernambuco, que vinha da Jamaica, tinha o dobro da quantidade de tinta do que outras espécies. O extrato do pigmento é obtido com o cozimento das lascas de madeira em água fervente e através da concentração do pigmento no vácuo. O PAu-Brasil foi amplamente usado na Idade média para todos os fins, desde iluminuras de manuscritos a vestuário mas foi substituída por cores sintéticas mais brilhantes ainda no século 17.

1 comment:

  1. Pois é, Isabel. O pior são os artistas (ou pseudo artistas) que acreditam sê-lo pelo simples fato de usar uma técnica diferente. Picasso dizia que uma obra de arte é composta por 10% de inspiração e 90% de transpiração. Mas talento é fundamental!
    Ciao.

    ReplyDelete