Se você sempre quis ser um colecionador de arte e nunca teve grana para adquirir obras de grandes artistas, seus problemas acabaram.
Com o "Arte Generator Doméstico Tabajara" você pode seguir instruções de um grande artista e possuir uma obra assinada por ele a custo zero! Basta acessar este site e seguir as instruções da tela. É tão fácil que até seu macaco de estimação faria.
Exemplo: Você é um grande admirador do escultor cubano Felix Gonzalez-Torres mas nunca teve grana para adquirir nem a ponta do cinzel que ele usava. O próprio dá as instruções de como executar uma obra sua:
- "Sem Título" - Felix Gonzalez-Torres ( - 1996)
Compre 100 quilos de balas (candy) envoltas de papel e despeje em um canto qualquer.
- "Sangue Bom" - Lygia Pape (1929-2004)
Duas pessoas sentam numa cadeira, uma em frente à outra.
As duas pessoas devem sentar-se segurando um cubo de gelo vermelho (devem fazer um cubo de gelo com tinta vermelha).
Depois de um tempo, o gelo de uma das 2 pessoas terá derretido antes da outra.
Essa pessoa é o sangue bom.
Tá esperando o quê? Vá correndo acessar o Arte Generator Doméstico Tabajara e tenha você também uma obra de arte contemporânea em casa!
29.11.04
Chris Ashley: Look, See
Descobri um novo blog de artista, de Chris Ashley, americano. Faz uma série entitulada de "HTML Drawings", usando código de hipertexto para criar composições de cores. Lembra arte concreta mas com um twist contemporâneo.
Fui tentar copiar uma imagem de seu blog para postar aqui, mas não consegui, só deu pra ver o código-fonte. Então é verdade, ele cria imagens com html puro. Linda idéia.
Uma resenha sobre seu trabalho:
Chris Ashley's pictures, illumined images on a flatscreen surface that cross over from inner-vision to realization via keyboard and code, not brush-stroke and paint, are surprisingly embodied. These are "table drawings" created using HTML—hypertext markup language, the programming code that enables the World Wide Web. Individual pictures appear as part of a series or set, with the sets accumulating over days, months and years at Ashley's website. That's the practicum, the result is a body of work that interrogates color, and in the bargain, investigations of arranged space interrogate time. These discrete events, going past as daily images, gather and grow together, becoming a metamorphosis . . . which is, after all, an embodiment of time..
Sou particularmente fã de artistas que criam arte-objeto (um quadro, ou uma escultura no sentido tradicional) usando o meio eletrônico como matéria.
Sou fã porque sou dessa turma e vejo que mais e mais existem artistas que estão reinterpretando a pintura tradicional em termos eletrônicos sem ter "cara" de arte eletrônica. Isso nos faz questionar a origem de uma imagem, que por trás da imagem não existe apenas um monte de tinta sobre um pedaço de lona. Atrás da imagem está uma codificação complexa, um sistema, que nos faz repensar a definição dos termos "imagen" e "pintura". É por esse caminho que estou trilhando....
Fui tentar copiar uma imagem de seu blog para postar aqui, mas não consegui, só deu pra ver o código-fonte. Então é verdade, ele cria imagens com html puro. Linda idéia.
Uma resenha sobre seu trabalho:
Chris Ashley's pictures, illumined images on a flatscreen surface that cross over from inner-vision to realization via keyboard and code, not brush-stroke and paint, are surprisingly embodied. These are "table drawings" created using HTML—hypertext markup language, the programming code that enables the World Wide Web. Individual pictures appear as part of a series or set, with the sets accumulating over days, months and years at Ashley's website. That's the practicum, the result is a body of work that interrogates color, and in the bargain, investigations of arranged space interrogate time. These discrete events, going past as daily images, gather and grow together, becoming a metamorphosis . . . which is, after all, an embodiment of time..
Sou particularmente fã de artistas que criam arte-objeto (um quadro, ou uma escultura no sentido tradicional) usando o meio eletrônico como matéria.
Sou fã porque sou dessa turma e vejo que mais e mais existem artistas que estão reinterpretando a pintura tradicional em termos eletrônicos sem ter "cara" de arte eletrônica. Isso nos faz questionar a origem de uma imagem, que por trás da imagem não existe apenas um monte de tinta sobre um pedaço de lona. Atrás da imagem está uma codificação complexa, um sistema, que nos faz repensar a definição dos termos "imagen" e "pintura". É por esse caminho que estou trilhando....
25.11.04
Arte na era da banda larga
Chega de moldura, frete, montagem, e encheção de saco na hora de montar exposição e na hora de entregar o trabalho na casa do colecionador.
Hoje em dia, os artistas que trabalham com mídias digitais podem ficar descansados e nutrir seus sonhos de ficarem ricos. Você vende um certificado de autenticidade e um CD-Rom com a sua obra de arte. E o comprador produz a obra como quiser, no tamanho que quiser para caber naquela parede da sala.
Este artigo conta como um brasileiro chamado Eli Sudbrack fez fortuna vendendo suas obras instalativas em formato de CD para os compradores. Ele produz desenhos, decalques, murais, tudo num estilo meio kitsch, meio pucci, o que eu não achei nada lá dessas coisas. A inovação fica por conta do modo de venda, um arquivo illustrator gravado em CD, e das instalações, que, além dos painéis, conta com música e vídeos contendo imagens das mais díspares possíveis. Eli Sudbrack, aka Assume Vivid Astro Focus virou milionário. Arrecadou quase 1 milhão de dólares na sua exposição na Bienal do Whitney Museum em NY.
A questão não reside mais na obra de arte e sua integridade, e sim na sua distribuição e proliferação. O Assume Vivid Astro Focus põe o Walter Benjamin, autor de "A obra de arte na era da reprodução mecânica" no saco. Nada de "aura" da obra de arte, nada de perda de sentido na reprodução em série. O futuro da arte reside em um simples CD-Rom.
Obviamente este novo modo de "vender" e "adquirir" arte contemporânea requer um olhar profundo sobre a circulação da arte e a permanência da própria. Como lidar com uma arte que não é mais um "objeto", e sim um punhado de pixels? Como tornar um projeto processual, ou um software um ítem de colecionador, único? Como manter a autenticidade de uma obra de arte que pode ser muito facilmente reprodutível e modificável, inclusive podendo ser forjado o seu certificado de autenticidade?
Is this madness? That's debatable. But the sales model definitely reflects a fundamental change in how art can be produced and sold. Purely digital art—sold as software or access to online environments—has been creeping into the art market over the last decade, but it still remains very much marginalized. What sets Sudbrack apart is that his model is a hybrid, safely within the object-oriented paradigm of classical collecting yet exploiting digital production's advantages. (In the broadband age, the CD with the piece's image is really just a prop, after all.)
Tenho um amigo fotógrafo que fez 8 cópias de uma fotografia e depois destruiu o fotograma. Ele dizia que não fazia sentido manter o fotograma "vivo" pois era justamente a edição limitadíssima de cópias que garantia a autenticidade da obra e a cobiça em cima das poucas cópias existentes. Com esse gesto ele queria manter a sua autoria intacta, já que o fato do fotograma inexsistir era uma prova de sua autenticidade.
Mas vejo esse gesto como sendo anacrônico. Nos anos 70, o artista minimalista americano Sol Le Witt simplesmente enviava as instruções detalhadas para a feitura de sua obra para a galeria, que por sua vez contratava uma equipe especializada que executava a obra. No final o Sol Le Witt aparecia só para inspecionar o resultado. O que ele queria com isso era provar que a "mão" do artista era irrelevante para a obra de arte, que agora era reduzida a uma série de instruções. É um gesto essencialmente mecanicista em um meio onde imperava, até então, e com o Expressionismo Abstrato que precedeu imediatamente o minimalismo/conceitualismo, o virtuosismo do artista e a inspiração divina. O artista não é mais um herói, ele é apenas um servo de uma sociedade que reduziu a criação a um parâmetro técnico e banal.
Mas Sol Le Witt nos fez pensar sobre o que é ou o que não é arte. Assim como Eli Sudbrack. Não é mais a imagem que conta e sim como e por quem ela é realizada. Tirando o artista fora da questão, a arte torna-se de todos. Até que o mercado subverta essa noção novamente.
Hoje em dia, os artistas que trabalham com mídias digitais podem ficar descansados e nutrir seus sonhos de ficarem ricos. Você vende um certificado de autenticidade e um CD-Rom com a sua obra de arte. E o comprador produz a obra como quiser, no tamanho que quiser para caber naquela parede da sala.
Este artigo conta como um brasileiro chamado Eli Sudbrack fez fortuna vendendo suas obras instalativas em formato de CD para os compradores. Ele produz desenhos, decalques, murais, tudo num estilo meio kitsch, meio pucci, o que eu não achei nada lá dessas coisas. A inovação fica por conta do modo de venda, um arquivo illustrator gravado em CD, e das instalações, que, além dos painéis, conta com música e vídeos contendo imagens das mais díspares possíveis. Eli Sudbrack, aka Assume Vivid Astro Focus virou milionário. Arrecadou quase 1 milhão de dólares na sua exposição na Bienal do Whitney Museum em NY.
A questão não reside mais na obra de arte e sua integridade, e sim na sua distribuição e proliferação. O Assume Vivid Astro Focus põe o Walter Benjamin, autor de "A obra de arte na era da reprodução mecânica" no saco. Nada de "aura" da obra de arte, nada de perda de sentido na reprodução em série. O futuro da arte reside em um simples CD-Rom.
Obviamente este novo modo de "vender" e "adquirir" arte contemporânea requer um olhar profundo sobre a circulação da arte e a permanência da própria. Como lidar com uma arte que não é mais um "objeto", e sim um punhado de pixels? Como tornar um projeto processual, ou um software um ítem de colecionador, único? Como manter a autenticidade de uma obra de arte que pode ser muito facilmente reprodutível e modificável, inclusive podendo ser forjado o seu certificado de autenticidade?
Is this madness? That's debatable. But the sales model definitely reflects a fundamental change in how art can be produced and sold. Purely digital art—sold as software or access to online environments—has been creeping into the art market over the last decade, but it still remains very much marginalized. What sets Sudbrack apart is that his model is a hybrid, safely within the object-oriented paradigm of classical collecting yet exploiting digital production's advantages. (In the broadband age, the CD with the piece's image is really just a prop, after all.)
Tenho um amigo fotógrafo que fez 8 cópias de uma fotografia e depois destruiu o fotograma. Ele dizia que não fazia sentido manter o fotograma "vivo" pois era justamente a edição limitadíssima de cópias que garantia a autenticidade da obra e a cobiça em cima das poucas cópias existentes. Com esse gesto ele queria manter a sua autoria intacta, já que o fato do fotograma inexsistir era uma prova de sua autenticidade.
Mas vejo esse gesto como sendo anacrônico. Nos anos 70, o artista minimalista americano Sol Le Witt simplesmente enviava as instruções detalhadas para a feitura de sua obra para a galeria, que por sua vez contratava uma equipe especializada que executava a obra. No final o Sol Le Witt aparecia só para inspecionar o resultado. O que ele queria com isso era provar que a "mão" do artista era irrelevante para a obra de arte, que agora era reduzida a uma série de instruções. É um gesto essencialmente mecanicista em um meio onde imperava, até então, e com o Expressionismo Abstrato que precedeu imediatamente o minimalismo/conceitualismo, o virtuosismo do artista e a inspiração divina. O artista não é mais um herói, ele é apenas um servo de uma sociedade que reduziu a criação a um parâmetro técnico e banal.
Mas Sol Le Witt nos fez pensar sobre o que é ou o que não é arte. Assim como Eli Sudbrack. Não é mais a imagem que conta e sim como e por quem ela é realizada. Tirando o artista fora da questão, a arte torna-se de todos. Até que o mercado subverta essa noção novamente.
Ministro da Cultura Argentino renuncia
Argentinian Minister of Culture Resigns
"BUENOS AIRES, ARGENTINA.- The Minister of Culture of Argentina Torcuato Di Tella resigned. He had been at the post since May 2003. Miguel Nuñez, an official spokesperson requested the minister to resign. He was also the one that invited him to the post.
Di Tella was not able to control his mouth. He stated his department was a ‘circus’where the beasts ate each other. He stated that he was sexually aroused by the press stories that mention his name. He once said that he says what he wants without worrying about the form.
Some said the president laughed when Di Tella talked."
Só argentino mesmo.
"BUENOS AIRES, ARGENTINA.- The Minister of Culture of Argentina Torcuato Di Tella resigned. He had been at the post since May 2003. Miguel Nuñez, an official spokesperson requested the minister to resign. He was also the one that invited him to the post.
Di Tella was not able to control his mouth. He stated his department was a ‘circus’where the beasts ate each other. He stated that he was sexually aroused by the press stories that mention his name. He once said that he says what he wants without worrying about the form.
Some said the president laughed when Di Tella talked."
Só argentino mesmo.
23.11.04
Se deter no tempo eh luxo soh
Essa foto do Henri Cartier-Bresson tirada em 1932 em Paris é uma daquelas imagens incríveis em que há mais a ser dito e visto do que o artista poderia ter imaginado.
Tem jogo de espelhos com os reflexos das figuras sobre a água, existe um prenúncio da arte minimalista e arte conceitual dos anos 70 (os elementos circulares que estão sobre a poça d'água, a escada que leva para o nada), e que, para a arte fotográfica, representa um daqueles raros momentos em que a realidade, por um instante, se torna uma ficção. Essa fotografia é para mim um daqueles momentos improváveis que o olhar de um reles mortal não perceberia. Só o olhar atento de um artista como ele seria capaz de perceber, captar, um momento desses. É uma imagem com raro potencial de vida, daquelas que nascem vivas e assim permanecerão para todo sempre. Esse homem parece continuar andando na corda bamba invisível 70 anos depois. Lindo, lindo.
Aos 80 anos, depois de ter fotografado através de quase todos os eventos importantes do século 20, e ter feito retratos de quase todo mundo que importa na história, além de famosos anônimos, Cartier-Bresson largou a fotografia e começou a desenhar e pintar. Ele dizia que "se deter no tempo é um privilégio de poucos", e encontrou no desenho a melhor maneira de contemplar o tempo no final de sua vida, longe do tempo instantâneo da fotografia.
Vi essa imagem numa edição comemorativa na revista Photo e mais infos sobre o HCB na Fondation Henri Cartier-Bresson
12.11.04
Coletivo Mineiro
A galera da arte contemporânea está dando uma banana para o mundo institucionalizado e mandando ver na coletividade à base da guerrilha. É só prestar atenção nas ruas da cidade, nos tapumes e nos muros de ruas abandonadas e lá está uma obra de arte, assim, escondida, mas não menos presente.
O Grupo Poro de BH é um desses grupos que faz arte por aí.
O Grupo Poro de BH é um desses grupos que faz arte por aí.
Muito Maneiro
Fotos do artista paulista Alexandre Órion, misturando ficção e realidade. Um barato.
MetaBiotics
MetaBiotics
Angustia (bocejos)
Do meu melhor amigo e uber-blogueiro LLL, que fala de literatura e recebe, de vez em quando recebe contos de outros autores jovens. Tudo o que ele respondeu a este jovem autor pode ser aplicado para a arte, se substituirmos os termos referentes à escrita por aqueles da arte. Vai muito de encontro aos Clichês da Arte Contemporânea, um post meu antigo e linkado aí do lado. Alexandre e eu concordamos, e é quase um pacto nas nossas vidas e com a nossa arte ( aliteratura dele e aminha pintura), que a arte é um ato de construção consciente.
Faço minhas as suas palavras, lembrando Rilke, bem de longe, em Cartas a Jovem Poeta:
"Coisas que Fluem
Estava conversando hoje com um jovem artista plástico que fez a bobagem de me mostrar um desenho. Eu não gostei. Achei um amontoado de lugares-comuns. Tive a impressão de já ter visto aquele mesmo desneho mil vezes.
(...)
Enfim, meu jovem artista disse que o importante no seu desenho era a angústia: "Eu tenho milhares de momentos... esse foi um momento de angústia."
E eu pensei, cá com meus pincéis, mais um angustiado, meu deus!
Eu me lembro da época em que a pintura falava da verdade, da moral, do ciúme, da culpa, da redenção. Mas, a partir do século XX, sabe-se lá por quê, a pintura passou a só falar de angústia e seus temas correlatos: o vazio da vida contemporânea, a efemeridade das relações humanas, etc etc, blá blá bleargh.
Naturalmente, é uma relação parasitária: quando mais a pintura torna-se repetitiva e monotemática, mais angustiados ficam os pobres espectadores e produtores de quadros. Resultados: mais quadros sobre angústia.
Não é nem que eu não tenha momentos de angústia, mas eu teria vergonha de desenhar sobre eles, e ser mais um nessa multidão de artistas plásticos angustiados.
Continuou o meu jovem artista: "Quando estou com qualquer sentimento fora do comum preciso pintar para me libertar... Os desenhos fluem somente."
E eu suspirei: meu amigo, eu disse, com vontade de bater em seu ombro, o que flui é a sua urina quando mija. Arte é uma construção consciente.
E ele: "Não disse que não estava inconsciente... Mas quando pega-se o papel e as formas começam a sair, você tem de deixá-las..."
Essa é a questão. Eu e meu jovem artista temos concepções algo diferentes do que é pintura. Não que isso seja problema. Muita gente chamada de genial pelos cadernos especializados também pensa diferente de mim e isso não impede de serem convidados a todos os coquetéis.
Há uma diferença enorme entre desenhar um diário e fazer pintura. Os seus grandes momentos dão grandes páginas do seu diário: não, necessariamente, pintura.
No primeiro rascunho, concordo, não se contenha, não se reprima, não pense muito e nem se analise. Deixe fluir tudo de dentro de você - mas com higiene, por favor. Mas, logo depois, é hora de rever com consciência crítica. Corrigir, apagar, por mais doloroso que seja. Principalmente, é hora de decidir se você fez pintura (ou algo que pode tornar-sepintura) ou só mais uma página do seu diário.
Nem tudo o que sai de você é pintura."
Faço minhas as suas palavras, lembrando Rilke, bem de longe, em Cartas a Jovem Poeta:
"Coisas que Fluem
Estava conversando hoje com um jovem artista plástico que fez a bobagem de me mostrar um desenho. Eu não gostei. Achei um amontoado de lugares-comuns. Tive a impressão de já ter visto aquele mesmo desneho mil vezes.
(...)
Enfim, meu jovem artista disse que o importante no seu desenho era a angústia: "Eu tenho milhares de momentos... esse foi um momento de angústia."
E eu pensei, cá com meus pincéis, mais um angustiado, meu deus!
Eu me lembro da época em que a pintura falava da verdade, da moral, do ciúme, da culpa, da redenção. Mas, a partir do século XX, sabe-se lá por quê, a pintura passou a só falar de angústia e seus temas correlatos: o vazio da vida contemporânea, a efemeridade das relações humanas, etc etc, blá blá bleargh.
Naturalmente, é uma relação parasitária: quando mais a pintura torna-se repetitiva e monotemática, mais angustiados ficam os pobres espectadores e produtores de quadros. Resultados: mais quadros sobre angústia.
Não é nem que eu não tenha momentos de angústia, mas eu teria vergonha de desenhar sobre eles, e ser mais um nessa multidão de artistas plásticos angustiados.
Continuou o meu jovem artista: "Quando estou com qualquer sentimento fora do comum preciso pintar para me libertar... Os desenhos fluem somente."
E eu suspirei: meu amigo, eu disse, com vontade de bater em seu ombro, o que flui é a sua urina quando mija. Arte é uma construção consciente.
E ele: "Não disse que não estava inconsciente... Mas quando pega-se o papel e as formas começam a sair, você tem de deixá-las..."
Essa é a questão. Eu e meu jovem artista temos concepções algo diferentes do que é pintura. Não que isso seja problema. Muita gente chamada de genial pelos cadernos especializados também pensa diferente de mim e isso não impede de serem convidados a todos os coquetéis.
Há uma diferença enorme entre desenhar um diário e fazer pintura. Os seus grandes momentos dão grandes páginas do seu diário: não, necessariamente, pintura.
No primeiro rascunho, concordo, não se contenha, não se reprima, não pense muito e nem se analise. Deixe fluir tudo de dentro de você - mas com higiene, por favor. Mas, logo depois, é hora de rever com consciência crítica. Corrigir, apagar, por mais doloroso que seja. Principalmente, é hora de decidir se você fez pintura (ou algo que pode tornar-sepintura) ou só mais uma página do seu diário.
Nem tudo o que sai de você é pintura."
11.11.04
Farinha do mesmo saco
É impressão minha, ou uma grande parte das fotos dos orgulhosos republicanos do We're Not Sorry segurando e apontando armas têm o orgulho de aparecer como se fossem eles os próprios terroristas? Além de usarem suas criancinhas e seus animais de estimação para justificar as suas preferências eleitorais.
Vejam em primeira mão quem é que está decidindo o futuro do planeta. E por que meios.
Vejam em primeira mão quem é que está decidindo o futuro do planeta. E por que meios.
10.11.04
Galinhas de lente de contato poem mais ovos
Incrível:
What happens when chickens see red?
A company* that markets red contact lenses for chickens (at 20 cents a pair), points to medical studies showing that chickens wearing red-tinted contact lenses behave differently from birds that don't. They eat less, produce more and don't fight as much. Perhaps everything looks red and they cannot distinguish combs, wattles, or blood. This decreases aggressive tendencies and birds are less likely to peck at each other causing injury. A spokesman said the lenses will improve world egg-laying productivity by $600 million a year.
Leia o artigo
What happens when chickens see red?
A company* that markets red contact lenses for chickens (at 20 cents a pair), points to medical studies showing that chickens wearing red-tinted contact lenses behave differently from birds that don't. They eat less, produce more and don't fight as much. Perhaps everything looks red and they cannot distinguish combs, wattles, or blood. This decreases aggressive tendencies and birds are less likely to peck at each other causing injury. A spokesman said the lenses will improve world egg-laying productivity by $600 million a year.
Leia o artigo
9.11.04
Nao quero ser nada
Cansei.
Cansei de provar para o mundo a que vim. Cansei de procurar explicações. Cansei de tentar ser alguma coisa, estou farta das definições e teorias da arte e do artista.
Tem "coletivo" fazendo despacho pra francês na praia de Ipanema, tem gente botando sombrinha amarela na cinelândia pra ver o que o povo vai dizer (imagine, uma sombrinha amarela, que coisa esquisita!!), gente desenhando bomba no caderno e mostrando o próprio clitóris (ou da avó de 90 anos) ampliado na galeria.
Meu mentor quer ser heremita, meu colega quer a revolução da classe média , os artistas querem dinheiro mas não querem se organizar, e eu só quero ficar olhando pro céu.
Não dá pra descansar, pois mesmo dormindo as imagens permanecem. Quem faz música pode desligar o som, meter algodão no ouvido e não ouvir nada. Silêncio. Basta abrir os olhos e começa a enxurrada visual. Cansa. Quero Paz, escuridão, ou clarividência. Taí, uma tela branca, silenciosa. Ah, não sei.
A teoria da pós-modernidade aplicada ao nosso ser contemporâneo fragmentado explora a sensorialidade das grandes cidades que por sua vez....ih, me perdi. Quer saber?
Que se dane.
Não quero ser nada. Quero que o mundo me deixe em paz.
(mas não esqueça de dar uma passadinha na minha exposição, alright?)
Cansei de provar para o mundo a que vim. Cansei de procurar explicações. Cansei de tentar ser alguma coisa, estou farta das definições e teorias da arte e do artista.
Tem "coletivo" fazendo despacho pra francês na praia de Ipanema, tem gente botando sombrinha amarela na cinelândia pra ver o que o povo vai dizer (imagine, uma sombrinha amarela, que coisa esquisita!!), gente desenhando bomba no caderno e mostrando o próprio clitóris (ou da avó de 90 anos) ampliado na galeria.
Meu mentor quer ser heremita, meu colega quer a revolução da classe média , os artistas querem dinheiro mas não querem se organizar, e eu só quero ficar olhando pro céu.
Não dá pra descansar, pois mesmo dormindo as imagens permanecem. Quem faz música pode desligar o som, meter algodão no ouvido e não ouvir nada. Silêncio. Basta abrir os olhos e começa a enxurrada visual. Cansa. Quero Paz, escuridão, ou clarividência. Taí, uma tela branca, silenciosa. Ah, não sei.
A teoria da pós-modernidade aplicada ao nosso ser contemporâneo fragmentado explora a sensorialidade das grandes cidades que por sua vez....ih, me perdi. Quer saber?
Que se dane.
Não quero ser nada. Quero que o mundo me deixe em paz.
(mas não esqueça de dar uma passadinha na minha exposição, alright?)
8.11.04
Mostra o Seu que Eu Mostro o Meu
Acontece, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, a mostra coletiva "Mostra o Seu que Eu Mostro o Meu". Estou com um trabalho lá. Só até 28/11.
Stunned!
Excelente blog sobre arte e artista contemporâneos, o Stunned Net Art Open. A cada post um artista e uma obra diferente. Obras feitas com ou na Internet, é claro.
2.11.04
A Vila
Vi A Vila de Shyamalan-banlangandan e odiei o filme, mas todo à minha volta adorou. Por já conhecer o diretor, dava pra sacar que o plot ia ter uma virada no final. Mas não me surpreendi tanto assim. Fui pegando as pistas ao longo do filme, coisas sutis, mínimas, talvez coisas que tenha pego só porque já trabalhei em cinema na parte de cenografia, o que me faz perceber muito atentamente todos os elementos de um cenário.
No começo do filme, já tinha achado estranhíssimo que as tais criaturas pudessem vestir capas idênticas às do povo da vila e fiquei pensando como é que criaturas com unhas grandes poderiam jamais ter a destreza de costurar algo tão bem. Não só de ter costurado, mas como criaturas não-humanóides podem mesmo andar vestidas. Depois a tinta com que pintaram as portas das casas, de um vermelho industrial, já que o sangue fica marrom quando seco, e nada vermelho. O último detalhe que para mim foi mortal foi a casa de vidro onde ocorreu o casamento da filha de Walker. Como é que, numa sociedade agrária e estilo século 18, poderiam ser fabricadas enormes lâminas de vidro sobre estrutura metálica, uma verdadeira estufa moderna apenas possível depois da revolução industrial? Foi aí que o filme morreu pra mim, dali em diante, virou uma mistura de senhor dos anéis com o Bigfoot e contei os minutos até terminar o filme enquanto a platéia inteira saía maravilhada da sala, sem dúvida achando que esse é o melhor filme jamais feito, e que o shyamalamam é um gênio incomparável.
Mas mesmo assim, continuo pensando no raio do filme. Por mais tosco que seja, tem um comentário americano forte. Descontando o moralismo infernal do tipo "o dinheiro é o grande vilão" (bocejos), tem a questão da paranóia e da criação do mito como auto-preservação que é importante. E é exatamente esse tipo de criação do medo que é a grande questão da eleição americana hoje.
As pistas das mentiras do Bush estão aí para quem quiser ver, mas quem quiser acreditar no mito do sonho americano vai ter todos os argumentos a favor. Se a mentira é só o que você conhece, então ela passa a ser verdade. Pode-se lembrar também a analogia da caverna de Platão, em que os entes acorrentados que só conhecem o mundo através das sombras projetadas no fundo da caverna.
O que me deprime é que a estabilidade mundial dependa exclusivamente do que acontecerá hoje. Nunca fomos tão bem informados, ao contrário do povo da Vila, e nunca fomos tão manipulados por uma força hegemônica (tal qual A Vila). Quais seriam os nossos instrumentos de resistência?
Os revolucionários de '68 desconstruiram o mundo em busca de um novo sentido, mas o que acontece quase 40 anos depois, é que precisamos novamente de uma revolução ideológica e, no entanto, não temos lastro nenhum seja teórico ou prático porque já está tudo fragmentado.
Seria um "retorno à ordem" a única solução viável? Ou seria esse desejo de ordem uma regressão a um autoritarismo datado? Quem seria sacrificado para manter o segredo de A Vila? Será que é preciso manter o mito do medo para assegurar a paz, ou seja, encobrir a verdade por uma causa coletiva, ou desvelar tudo e começar de novo?
A sorte está lançada.
No começo do filme, já tinha achado estranhíssimo que as tais criaturas pudessem vestir capas idênticas às do povo da vila e fiquei pensando como é que criaturas com unhas grandes poderiam jamais ter a destreza de costurar algo tão bem. Não só de ter costurado, mas como criaturas não-humanóides podem mesmo andar vestidas. Depois a tinta com que pintaram as portas das casas, de um vermelho industrial, já que o sangue fica marrom quando seco, e nada vermelho. O último detalhe que para mim foi mortal foi a casa de vidro onde ocorreu o casamento da filha de Walker. Como é que, numa sociedade agrária e estilo século 18, poderiam ser fabricadas enormes lâminas de vidro sobre estrutura metálica, uma verdadeira estufa moderna apenas possível depois da revolução industrial? Foi aí que o filme morreu pra mim, dali em diante, virou uma mistura de senhor dos anéis com o Bigfoot e contei os minutos até terminar o filme enquanto a platéia inteira saía maravilhada da sala, sem dúvida achando que esse é o melhor filme jamais feito, e que o shyamalamam é um gênio incomparável.
Mas mesmo assim, continuo pensando no raio do filme. Por mais tosco que seja, tem um comentário americano forte. Descontando o moralismo infernal do tipo "o dinheiro é o grande vilão" (bocejos), tem a questão da paranóia e da criação do mito como auto-preservação que é importante. E é exatamente esse tipo de criação do medo que é a grande questão da eleição americana hoje.
As pistas das mentiras do Bush estão aí para quem quiser ver, mas quem quiser acreditar no mito do sonho americano vai ter todos os argumentos a favor. Se a mentira é só o que você conhece, então ela passa a ser verdade. Pode-se lembrar também a analogia da caverna de Platão, em que os entes acorrentados que só conhecem o mundo através das sombras projetadas no fundo da caverna.
O que me deprime é que a estabilidade mundial dependa exclusivamente do que acontecerá hoje. Nunca fomos tão bem informados, ao contrário do povo da Vila, e nunca fomos tão manipulados por uma força hegemônica (tal qual A Vila). Quais seriam os nossos instrumentos de resistência?
Os revolucionários de '68 desconstruiram o mundo em busca de um novo sentido, mas o que acontece quase 40 anos depois, é que precisamos novamente de uma revolução ideológica e, no entanto, não temos lastro nenhum seja teórico ou prático porque já está tudo fragmentado.
Seria um "retorno à ordem" a única solução viável? Ou seria esse desejo de ordem uma regressão a um autoritarismo datado? Quem seria sacrificado para manter o segredo de A Vila? Será que é preciso manter o mito do medo para assegurar a paz, ou seja, encobrir a verdade por uma causa coletiva, ou desvelar tudo e começar de novo?
A sorte está lançada.
Pressagios
Não sei não, mas acho que essa semana vai acontecer alguma coisa. Além das eleições dos EUA, é claro. E exatamente por causa delas.
1.11.04
O Brasil e o Software Livre
Há algumas semanas assino a newsletter do DigitoFagia, um festival que surgiu de uma lista de discussão do qual pariticipma um grupo de artistas/músicos/videomakers e galera contemporânea jovem liderado por giseli vasconcelos, lucas bambozzi, pixel, ricardo ruiz, sandra terumi, tatiana well que militam pelo software livre. Acabaram de fazer um evento no Rio e São Paulo reunindo música, arte, debates sobre rádios livres e estação de cópia de CDs, entre outros temas.
Este é um dos grupos que milita pelo software livre cá nos trópicos, porque essa conversa já está no governo federal faz tempo. A conversa vai muito além de uma simples questão de copyright ou licenciamento de software e se estende até a música e outras questões de "propriedade" intelectual. O Gilberto Gil acha que o que está acontecendo é um certo tropicalismo da era das comunicações onde tudo se apropria, tudo se consome, como uma espécie de antropofagia dos nossos tempos.
O nosso antropofagismo já se tornou lugar-comum na nossa cultura, mas vale entender melhor até onde vai essa prática, ou atitude, cultural e o que ela representa para o Brasil de hoje. O que temos? Um patrimônio cultural (música, arte, literatura, etc...) que ainda é permeável apenas para poucos através do poder de compra, mas que tem vontade de se popularizar através de preços permissíveis, ou simplesmente através do "download". Como vemos na nossa pirataria galopante, o povo tem sede de conhecimento e de diversão e desenvolve seus próprios meios para atingir esse desejo. A cultura, como diz o governo, é patrimônio de todos, mas não está ainda ao alcance de todos. Tropicalizar a cultura, a inteligência, a pesquisa, o conhecimento, a educação é o caminho que o Brasil deve seguir. Ou não?
O nosso ministro e o governo já estão empenhados nisso. Começou com a quebra das patentes dos remédios para a Aids na era FHC, e o caminho é que essa mesma ação se espalhe para outros campos de nosso interesse, e o governo Lula parece empenhado nessa questão. A começar pela adoção do Linux como plataforma para toda a tecnologia de informação do governo. Por incrível que pareça essa é uma media anti-feudalista da nossa cultura ainda bastante feudal (olhem os termos: "propriedade" intelectual, "direito" de uso de imagem, etc...) e se pararmos para pensar, os modelos de negócios da cultura, como a música, por exemplo, estão perdendo milhões só por resistirem a abertura da informação (música) através da rede.
Foi participando dessa lista do Digitofagia que recebi uma indicação para ler este artigo na Wired, que descreve muito melhor do que eu, a situação do software livre e outras militâncias no Brasil atual: We Pledge Allegiance to the Penguin
Este é um dos grupos que milita pelo software livre cá nos trópicos, porque essa conversa já está no governo federal faz tempo. A conversa vai muito além de uma simples questão de copyright ou licenciamento de software e se estende até a música e outras questões de "propriedade" intelectual. O Gilberto Gil acha que o que está acontecendo é um certo tropicalismo da era das comunicações onde tudo se apropria, tudo se consome, como uma espécie de antropofagia dos nossos tempos.
O nosso antropofagismo já se tornou lugar-comum na nossa cultura, mas vale entender melhor até onde vai essa prática, ou atitude, cultural e o que ela representa para o Brasil de hoje. O que temos? Um patrimônio cultural (música, arte, literatura, etc...) que ainda é permeável apenas para poucos através do poder de compra, mas que tem vontade de se popularizar através de preços permissíveis, ou simplesmente através do "download". Como vemos na nossa pirataria galopante, o povo tem sede de conhecimento e de diversão e desenvolve seus próprios meios para atingir esse desejo. A cultura, como diz o governo, é patrimônio de todos, mas não está ainda ao alcance de todos. Tropicalizar a cultura, a inteligência, a pesquisa, o conhecimento, a educação é o caminho que o Brasil deve seguir. Ou não?
O nosso ministro e o governo já estão empenhados nisso. Começou com a quebra das patentes dos remédios para a Aids na era FHC, e o caminho é que essa mesma ação se espalhe para outros campos de nosso interesse, e o governo Lula parece empenhado nessa questão. A começar pela adoção do Linux como plataforma para toda a tecnologia de informação do governo. Por incrível que pareça essa é uma media anti-feudalista da nossa cultura ainda bastante feudal (olhem os termos: "propriedade" intelectual, "direito" de uso de imagem, etc...) e se pararmos para pensar, os modelos de negócios da cultura, como a música, por exemplo, estão perdendo milhões só por resistirem a abertura da informação (música) através da rede.
Foi participando dessa lista do Digitofagia que recebi uma indicação para ler este artigo na Wired, que descreve muito melhor do que eu, a situação do software livre e outras militâncias no Brasil atual: We Pledge Allegiance to the Penguin
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