3.8.07
17.5.07
Crítica do Fake
+++++++
Fake
Acho que ninguém mais pensa a sério em conceitos como verdade, pureza, início. Daí a curiosidade com uma exposição chamada Fake, do Grupo DOC, na Galeria 90. Se existe um fake, é porque existe alguma coisa que não seja.
Resta um aspecto que tem mais a ver com o vocabulário literário do que com o das artes visuais e que é o da metáfora.
A metáfora traz uma questão de complementaridade, seja como paralelismo ou oposição, entre os campos diegético e extradiegético.
(Agravada aqui pela virtualidade de um e outro: a exposição é de fotos, vídeos.)
O caso é que o Fake do Grupo DOC tem o fake e seu abismo de espelhos, e tem também um desejo de referência, ainda que metafórica, já que referência “toute courte” é uma impossibilidade filosófica. Há um universo, se não verdadeiro, puro ou inicial, pelo menos posto em paralelo - e incessantemente reabsorvido. E isso dá uma impressão de unidade composta por diferenças - que é a própria definição do que seja uma metáfora.
Assim é nas notas de dinheiro com ídolos pop, na cabeça romana feita de espuma, ou no irônico vídeo sobre história da arte.
Mas metáforas e outras construções de linguagem se completam na cabeça de quem as vê/lê. E, para isso, é preciso supor uma cultura uniformizada, comum, que compartilhe valores e símbolos, o que é mais uma dificuldade em época de pulverização de tribos, de agudo ressurgimento de grupos.
Existe um outro tipo de conceituação de construções artísticas, sem referentes ou metáforas. É o orgânico. Nasceu no período romântico do Século XIX mas o exemplo mais citado é o de James Joyce. O artista partiria de um núcleo - fragmento de memória ou experiência - que incha e cresce segundo critérios estéticos, como o som das palavras ou a textura da tinta. O defeito dessa teoria é a idéia de que há um conteúdo inicial sem forma (o fragmento de memória) que conquistará sua forma à medida que se afaste desse conteúdo inicial. Uma tautologia das boas, ausente, que bom, dessa exposição.
Então, recapitulando: o fake é fake assumido, em um mundo sem referências, onde também não há organicidades fechadas em suas peles; esse fake usa a metáfora como um simulacro de exterioridade, sendo que metáforas, infelizmente, também são uma construção e, pior, sujeitas a um compartilhamento cultural cada vez mais raro. O humor - porque tudo isso é feito com humor - se dá no nanossegundo em que você percebe isso.
E aí, que remédio, só rindo.
6.5.07
E foi só....
Já entendi que tem que mostrar carne e pele pra vocês se interessarem.
o IDCard ainda vive!
O projeto ainda está vivo. Se você ainda tem a sua conta no Fotolog, escaneia a foto rapidinho, e manda!
Obrigada.
5.5.07
Constelar
Pois eis que Dimitri além de astrólogo, também é antropólogo. Recentemente criou o blog CONSTELAR onde ele bota as duas coisas para funcionar: fala das conjunturas astrológicos de fatos relevantes na sociedade e política contemporâneas.
Vocês por acaso sabiam que Saturno em Leão provocou os últimos 2 anos de tensão para o governo israelense?
Ou que "Em se tratando da França, a conjunção entre Lua e Vênus ocorrida no equinócio da primavera cai na casa V [21/3/2007, 00:56, Paris], colocando as mulheres em evidência e com boas chances de cativar a população. A reta final e o primeiro turno das eleições francesas tiveram o Sol transitando pela conjunção Lua-Vênus e colocaram Ségolène Royal no segundo turno, contra o líder Nicolas Sarkhozy"? Amanhã comprovaremos...
O blog é detalhadíssimo: vem com o mapa astral desses eventos, com marcações, observações, interpretações, o que para os aficionados deve ser uma delícia. Fora isso, há uma seção de atualizações no site que anuncia o 11o. Congresso de Astrologia na América Latina, e curiosidades como a descoberta de que o planeta Éris é o verdadeiro regente de Touro.
Depois da consulta, o Dimi falou que estava interessadíssimo na China e tudo o que acontece no Oriente e comentei que a queda da bolsa de Pequim em fevereiro ocorreu exatamente durante o ano novo lunar chinês, na entrada do ano do porco.
2.5.07
29.4.07
Elogio a Alex Castro
E aqui vai uma resposta.
Ninguém me entende mais do que o Alexandre. Nos conhecemos na Escola Americana há meia vida atrás, parece que foi ontem.
Enquanto nossos amigos eram riquinhos (na época também éramos, hoje somos novos-pobres) e só pensavam em carreiras no mercado financeiro, nós dois bravamente queríamos ser artistas. Ele, editor do jornalzinho da EA, o Binóculo, e eu, a ilustradora. Ele, escritor desde pequenininho, e eu já metendo a mão nas tintas. Fomos juntos à Bolívia e ao Chile para fazer uma coisa bem nerd, mas muito divertida: participar do Knowledge Bowl, jogo de perguntas e respostas de cultura geral. Metidos-pra-caramba. Na Bolívia, ficamos desfalcados de um participante e contratamos um japonês anti-social pra resolver as perguntas de matemática além de botarmos um dinossauro de pelúcia para as perguntas de ciência. Claro que chegamos em último lugar, mas em grande estilo.
Já na faculdade, eu nos EUA e ele no Brasil, um dia recebi uma carta muito triste, que dividiu a turma de amigos para sempre. Alex me mandou uma lista enorme de todas as idiotices de adolescente que eu tinha feito, e na sua habilidade com palavras, fiquei desconcertada sem saber o que fazer. O resto da turma que também tinha lido a carta , ironicamente, aproveitou para brigar comigo também. Não entendi aquilo muito bem, foi difícil, mas mereci de alguma forma. Dois anos depois fizemos as pazes após horas de conversas, eu entendi os seus motivos e ele também entendeu os meus. Desde então somos melhores amigos. Mas com o resto da turma não falo há um década. Alex, aliás, acabou me fazendo um enorme favor. Triunfamos.
Vida vai, vida vem, retorno ao Brasil depois de uma temporada nos EUA e Alex era meu único amigo. Encaramos a bolha da Internet juntos e até hoje formamos uma bela parceria. Sempre que precisava de uma terceira opinião no Sobresites, eu ia lá dar uma força. Sempre que alguém precisava de um redator profissa, indicava ele. Até que, depois de nossas falidas e breves incursões pontocom, Alex teve a brilhante idéia da Usabilidade para podermos nos alimentar sem ter que abrir daquilo que realmente importa: a arte. E assim foi.
Claro que eu fui sempre umas das primeiras leitoras de todos os contos, e sempre disse o que eu achava. Se estava ruim ou chato eu dizia na lata, pois a primeira intuição é o que conta. Fiz por amizade, claro, mas também por princípio. Não vou deixar um amigo meu com um trabalho meia-bomba. Se importar com alguém é também se importar pelo seu trabalho. Se eu souber como consertar ou melhorar, eu falo e pronto. Eu estava detestando o Mulher de Um Homem Só...Alex não tinha decidido a voz do livro. Depois de terminado, dei uma brochada no final....porque raios a Júlia era artista? Aquilo tinha que ser relevante... Na arte é preciso justificar nossas escolhas...Eu sempre achei a arte é um processo colaborativo e lindo. Talentos têm que ser alimentados (literal e figurativamente). E quero que todo mundo também seja sincero comigo.
Casamos e nos descasamos e nos consolamos. Nossos relacionamentos falharam porque nossos parceiros eram incorrigíveis, e nós, sempre tentando segurar a onda. Claro que falhamos também, mas uma coisa é certa: tanto eu quanto ele vivemos os casamentos intensamente, "tudo o tempo todo". Nada como um amigo homem para me fazer entender o que se passa na cabeça de um bípede do tipo masculino. (Pra quem tem alguma dúvida, tenho os pés grandes, ossudos e feios, e também sou branca demais para o seu gosto. Eu acho que ele come carboidrato demais, e sempre que passo fim-de-semana com ele, acabo engordando 2 kg. Não daria certo nunca, ele é muito fresco e ainda é dono de um poodle infernal! Argh!)
Em inícios de 2003, Alex encontrava-se numa crise criativa. Estava trabalhando muito, levando o casamento à frente, e sem ânimo de escrever. Perguntei o que tinha acontecido, e percebi que o problema era disciplinar e que também precisava de atenção, de público, de troca. Sugeri que abrisse o blog para forçá-lo a escrever diariamente, mas ele resisitiu dizendo, como sempre, "que coisa ridícula!". Olha só no que deu. Esse blog até rendeu um mestrado nos EUA, mil mulheres, fãs, viagens e mais forro para os futuros romances.
Alex me educa. Tudo o que sei sobre literatura, pés, e casas de swing devo a ele.
Sempre que nos vemos, fazemos o clássico: andar pelo Centro do Rio, na Lapa ou qualquer outro lugar, por um dia inteiro, sentamos em uma mesa de café, olhamos a cidade e falamos sobre tudo.
E quando estou lá em Singapura, meio de saco cheio dos chineses ou do meu gringo, basta abrir o LLL "for a sense of home". Thanks for being my home.
17.4.07
Anônimo, porém legítimo
- Chacricha, post-mortem
"Digital Stadium" é um programa de televisão (...) cujo objetivo é um ser uma revista de talentos e inovação em imagens computadorizadas, mostrando o que é considerado o melhor em uma forma de arte em constante mutação.”
Nem todo artista digital se conforma com a anonimidade da rede, e até se esconde atrás de uma farsa para atingir qualquer grau de legitimidade e reconhecimento. Um programa de TV da rede japonesa NHK chamado “Digital Stadium”, que convida o público a submeter obras digitais, e fomenta e descobre muitos jovens talentos promissores” , mostrava dois jovens apresentadores com um “artista digital” convidado a apresentar sua obra digital para os telespectadores.
A obra do primeiro artista convidado era uma animação interativa que exibia o desenho de uma figura cujo nariz crescia de acordo com a intensidade e volume do som cantarolado por um coral de 50 participantes presentes no palco. A intenção da artista era criar uma obra de arte interatva que reagisse às vozes do coral, mas o resultado era cômico, beirando o ridículo. Para complementar a performance, os apresentadores chamaram dois “curadores” ao palco para avaliar a obra com comentários e críticas de lugar-comum, elogios, adjetivando a obra como “interessante e inspiradora”.
O segundo participante era um homem de 30 anos vestindo um uniforme escolar, um símbolo de fetiche na cultura japonesa, e uma mochila com um monitor de com uma câmera na mão. A imagem do vídeo era uma cena de alunos reais fazendo chacota do seu estranho aparato televisivo, vista nas suas costas. Na câmera, a filmagem de um novo pequeno poema filmado, geralmente vídeos que registram a reação de estranhos à estranha instalação.
O programa representa um oportunismo da televisão na cooptação de algo que “está na moda”. A presença de “curadores profissionais” que “aconselham, comentam e criticam as obras digitais submetidas ao programa” é significativa para dar uma chancela de seriedade ao programa, mas em nenhum momento a identidade desses curadores é revelada. Os artistas são anônimos e amadores, mas a avaliação de um especialista do sistema de arte, neste caso, é mais importante do que a audiência do programa. Alguém tinha que dar o aval para que a obra fosse levada a sério perante o sistema, da superestrutura institucional da cultura. O programa de TV propôs uma inversão da relação entre o centro e a periferia: o sistema de superestrutura da cultura representado em um sistema periférico da comunicação de massa, banal.
O programa, ao final, é refrescante porque mostra que a arte, sob qualquer forma, não é apenas tema para especialistas e nem deve ser “contida” dentro de museus ou lugares especializados de acesso – a arte é do povo e como Joseph Beuys disse, “cada homem é um artista.” Mas a ironia está no fato que mesmo assim, eram necessários os dois curadores.
O formato quase circense do programa de televisão, quando visto como um modo de representação, parece uma crítica ao sistema de arte e dos seus sistemas de legitimação através de curadorias e concursos. Ele põe em evidência a cultura do espetáculo em torno do zeitgeist das mídias digitais levado ao extremo, como em um programa de auditório, uma espécie de Chacrinha da arte digital. Poderíamos até imaginar o Velho Guerreiro perguntando ao seu público exultante: “É arte ou não é?” (e jogando um bacalhau ao mesmo tempo.)
“Na era digital, o computador se tornou numa mídia essencial de expressão:
É uma ferramenta para manifestar nossos pensamentos e sentimentos. Talvez o que nos espera é uma Utopia luminosa, ou uma distopia, onde nosso mundo é governado por máquinas".
5.4.07
26.3.07
Excessos
22.3.07
Polêmica Imagem
6.3.07
Next Stop: Bombay
Passar um tempo na Ásia sem ir à India seria um desperdício.
Amanhã, de malas prontas para Mumbai ou Bombay.
E, claro, na capital de Bollywood, não se pode deixar de ir ao cinema...para cantar o hino nacional indiano antes da sessão e depois se divertir com os bolly-films. Me disseram que o verdadeiro espetáculo é sentar ao lado de legiões de indianos que conversam, entram e saem do filme durante a sessão...e as sessões não têm hora marcada, é uma atrás da outra, é só entrar...Como vivencei em Havana há 10 anos atrás. Cinema como antigamente, não essa coisa de multiplex com cheiro de pipoca.
Um dos cinemas mais antigos da cidade é o Eros Cinema. Lindo nome, irresistível.
22.2.07
18.2.07
15.2.07
Art Madrid 2007
Art Madrid 07 se celebrará de nuevo en el Pabellón de Cristal de la Casa de Campo madrileña, entre el 15 y el 19 deFebrero de 2007, y en la feria estarán presentes cerca de 80 galerías de arte españolas e internacionales, casi el doble que el año pasado.
13.2.07
Mais Isabel na Rede
Saiu o site da Galeria do Ateliê, que fica no Ateliê da imagem no Rio de Janeiro
cliquem em "Edições Anteriores" e procurem meu nomezinho. a única Isabel com trema no sobrenome. Sou eu.
Também, um pequeno portfolio com currículo, etc. e contato para shows.
E mais uma vez, meu acervo na Galeria Art Lounge em Lisboa, Portugal.
Abaixo, 5 fachadas de minha autoria, cada uma composta de milhares de imagenzinhas coletadas nas veias do Google.
12.2.07
8.2.07
Working Life in Singapore
30.1.07
Novas fotos de viagem
(fiz a viagem em setembro, me atrasei em flickar as fotos...)
No Flickr, também: fotos da Indonésia, Camboja, Tailândia, Malásia, Singapura, e agora: Vietnã.
O Sudeste asiático é lindo, lindo.
18.1.07
Comer em Singapura
Essa cidade-estado-nação-ilha tem uma tara por comida. O símbolo da cidade é o Merlion, uma enorme estátua de um leão com rabo de peixe que solta um jato de água pela boca. É, o Merlion parece que está vomitando.
É praticamente ilegal não existir um Hawker Centre a cada duas quadras. Hawker Centres são tipo praças de alimentação do governo de Singapura criados pra garantir que todo mundo possa comer barato e pra acabar com a falta de saneamento de camelôs que vendem comida na rua. Servem dezenas de tipos de comidas, vendidas em baias, estilo Cobal.
A média do prato bem-servido de Roti Prata (panqueca indiana com molho de quiabo e curry) ou do Nasi Lemak (arroz de côco com galinha frita, manjubinha, legumes e chili) ou Laksa (sopa aromática de peixe ou camarão com curry de côco, gengibre, campim-limão e vegetais) é de 3 sing-dollars (5 Reais). Por esse motivo, quase não cozinho em casa - almoço e janto nesses lugares todos os dias.
Essas cafeterias, Kopitiam (em hokkien) ou Kafeitien (em mandarim) estão sempre lotados e põem o restaurante de 1 Real dos Garotinhos no chinelo. Singapura é um festival culinário - ninguém aqui passa fome - come bem e muito barato, a qualquer hora do dia ou da noite.
Tem comida japonesa (não sushi, mas bentô, etc.), coreana (ótima!), indiana, malaia, e chinesa. Muita comida chinesa: cantonesa, hokkien, de hong kong, taiwanesa, manchu, hainanesa, e por aí afora. Coitados daqueles que acham que comida chinesa é como a do Via China - nada-a-ver.
E como todo lugar esquisito, a comida, além de deliciosa, também tem umas esquisitices.
1. "Coffee and milk" significa café com leite condensado. Assim mata-se a vontade do leite e do açúcar ao mesmo tempo. Pedir café preto, sem leite e sem açúcar aqui é pedir pra ser xingado em cantonês.
2. Coca-cola é servida com um saquinho de sal. Dizem que coca-cola é doce demais. Contradição com o número 1.
3. Praticamente não se serve alface crua, ou qualquer coisa crua. Vide post anterior. Salada, é coisa de ang moh (gringo em mandarim).
4. Pig's Organ Soup. Preciso dizer mais?
5. O "pra viagem" significa despejar o café em sacos transparentes com alças coloridas, carregados como bolsinhas e que podem ser pendurados na maçaneta do escritório. Eu juro que eu vi alguém fazendo isso.
6. Sucos de cevada, de flor de crisântemo, de noz moscada com limão (quente),
7. Pata de galinha com molho de feijão preto.
a cada dia descubro mais um.
15.1.07
Tomate cru na salada? Parte 2 de 2
Aí começou a confusão. Nenhum dos meus colegas sabia como começar - tinha talher demais: garfo, faca, colher de sopa, colher de chá...qual escolher? "Faca, pra que"? "Cadê o pauzinho"? Uma vez resolvida a função de cada utensílio, começou o desastre de escolher comida..."o que tem dentro desse sanduíche?" "Marinated salmon", respondi. - "Como assim, 'marinated'"? Respondi que era salmão cru, mas marinado no sal por uns dias, uma delícia. - "Mas eu não como nada cru!" -"Então pede a almôndega, o prato mais típico sueco, vem com batata cozida e um gravy ótimo, comi isso a minha infância inteira". - "Mas eu não como carne!" -"Ah, então pede o salmão assado com batata e molho de manteiga". - "Mas eu não como nada cru!" - "Esse é assado..." - "Você não falou que era cru? ". - "Então pede o espaguete a bolonhesa, italiano, mas bom também". - "Como é que eu como isso sem pauzinho", exclamou o chinês! Depois de uma certa hora, desisti de dar conselho, deixei eles se virarem. Peguei o meu salmão assado sequinho com batatas, fui para a mesa, e sentei ali feliz da vida de estar comida seca, e com garfo e faca, como se faz no Ocidente. Pra eles, todo lugar onde tem gente 'branca' é Ocidente, não importa se é europeu, americano, latino-americano, etc. A gente se acostuma com essas "linhas de diferença".
Um por um foram chegando á mesa. O indonesiano, pediu espaguete á bolonhesa, mas achou seco demais e pediu pra botar um pouco de molho de manteiga. Ele acertou o uso da faca sem problemas. O chinês nem tentou a comida sueca, foi direto pro especial do dia, um miojo chinês com galinha, que ele comeu de garfo e colher, tendo que arrancar a carne da galinha do osso com os dentes, como se faz aqui. Os indianos, coitados, mais perdidos que cegos em tiroteio fizeram o seguinte. Um deles pediu um prato de batata pura, e complementou com torta de chocolate. Coitado. O outro pegou uma salada verde, com o molho á parte.
Quando abriu a caixinha da salada, o indiano, exclamou: - "o tomate veio cru!" Eu, achando essa uma colocação estranhíssima, respondi, as saladas no Ocidente geralmente vêm com tudo cru, meio que 'that's the point' de uma salada, de você poder comer vegetais crus, frescos, é saudável. - "Mas na Índia o tomate só é usado pro chutney, ou pra molho, pra dar gosto ao curry, não na salada, assim, visível." Achei estranho, mas continuei feliz comendo o meu salmão depois de dias almoçando as esquisitices locais (que são uma delícia, mas tem hora que cansa). Aí percebi que o indiano da salada estava comendo salada pura, sem o molho. Quando fui olhar, tinha acabado de comer a salada e estava bebendo o vinaigrette da salada e fazendo mil caretas, dizendo que "puxa, a comida do seu país é meio azeda, não?"
Realmente, nós vivemos em outro planeta.
Vive la différence
Tomate cru na salada? Parte 1 de 2
Quando cheguei aqui em setembro, tive uma certa dificuldade em me entender com a comida daqui, que vai desde a comida chinesa (hainanese, cantonese, taiwanese, hong kongese) á comida malaia, indiana, indonesiana, vietnamita, tailandesa, etc. Á primeira vista, o que se vê é todo mundo debruçado sobre uma tigela de sopa com objetos flutuantes de caracterização bem difícil. Mas a variedade de sopas e miojos e arroz e etc é absurda.
Quando comecei a fazer consultoria para uma firma de usabilidade daqui, pedi para um colega chinês-singaporeano para pelamordedeus me ensinar como comer essa comida. Depois de 2 ou 3 dicas, deu pra entender como funciona o paladar local, e, diferente do Via China 24h Delivery de Botafogo, existe bem mais do que miojo ensopado por aqui. Me ensinou o Yong Tau Foo, que é uma sopa self-service em que você escolhe ingredientes frescos como tofu, peixes e vegetais que são depois cozinhados em água escladante e juntados com um consommé delicioso. Tem também o Hainanese Chicken Rice, versão chinesa do frango assado, o Frog's Legs Claypot, e o Nasi Lemak, receta malaia de arroz temperado com leite de côco, perfumado com pandan leaf que dá uma cor de pistache ao arroz, e galinha frita com vegetais.
Tudo isso se come em "hawker centers", um tipo de praça de alimentação popular onde existem milhares de pequenas lojinhas que vendem de tudo. A comida indiana é uma delícia, mas os indianos comem arroz com curry com galinha, tudo ensopado com as mãos, ou melhor, com a mão direita. Para nós cariocas esnobes educados e servidos à francesa desde criancinhas e que comem hambúrguer do McDonald's com guardanapo, é meio nojento. O meu colega chinês-singaporeano também me ensinou a comer coxa de galinha com pauzinho e colher, porque o conceito "faca" não existe pra galera daqui: ou usa o dente ou a colher. Depois existe uma coordenação esquisita entre o pauzinho e aquela colher chinesa com fundo chato: você pesca os objetos flutuantes de dentro da sopa com o pauzinho (com a mão direita), e empilha as paradas dentro da colher que está na mão esquerda, e mete pra dentro.
13.1.07
Um Ser que Parece Estar Vivo
A computação promove um nivelamento das mídias e por isso mesmo permite que infinitas possibilidades de recombinação, transmutação e divulgação e infinitas manipulações do finito, das combinações, das ações, e dos fins, e não só dos meios. Dentro desse contexto, o conceito de “rip,mash,hack” (rasga, amassa, pica) elaborado pelo artista australiano Gary Carsley descreve aptamente a estratégia artística do pastiche e da paródia adotada por grande parte dos artistas contemporâneos inspirado nas práticas de apropriação de arquivos e signos culturais que desde os anos 60 tem sido um modo de criar “ready-mades” dos produtos culturais amplamente disponíveis nos circuitos de mídia, especialmente a Internet e a televisão, entre outros.
Carsley aponta que esse nivelamento das mídias digitais igualmente reduz o atelier do artista a um simples laptop de onde pode acessar infinitos arquivos de imagens, sons e vídeos prontos para serem apropriados, hackeados, misturados e, depois da obra pronta, redistribuídos pelos mesmos meios. A caixa de ferramentas desse artista que atua com e sobre a rede de informações inclui montagem, colagem, desconstrução, bad animation, restaging, bricolagem, games, playfulness com teorias e cânones históricos da arte e uma canibalização generalizada da cultura de acesso livre (open-source).
Embora essas operações artísticas não sejam novas, pois advêm das estratégias das vanguardas históricas do século XX como o Dadaísmo e o Construtivismo russo principalmente, a reinterpretação de signos e ampliação dos canais de distribuição das obras tipo “rip, mash, hack” parecem constituir um novo campo experimental para a arte onde o agenciamento e a negociação com fluxos e sistemas de signos e poder dão vazão a uma nova subjetividade. Além da subjetividade, vemos também a resignificação contumaz de signos da cultura. Quer dizer, além da perda da referencialidade da imagem digital, temos também que lidar com uma nova resignificação de imagems dentro de um contexto cultural revisado. Isto não significa que a perda de referencialidade não permita que seja criado um novo olhar estético sobre estas novas imagens.
Os JPGs de Thomas Ruff, principalmente aqueles do atentado de 11 de setembro, vão de encontro a essa nova estética: só podemos compreendê-las se não as virmos dentro do contexto de imagens análogas que desfilam pelas nossas telas de computador, que vemos sem enxergá-las efetivamente. Mas uma questão permanece bem demonstrada por Ruff: até que ponto a dissolução e a pixelização de uma imagem mantêm-se compatíveis com a função referencial da imagem? Até que ponto uma imagem digital ainda é uma “imagem de” algo? Podemos pensar uma imagem que não seja uma “imagem de” qualquer coisa?
Hoje há uma visível perda de pensamento na imagem digital individual tal como as encontramos circulando pela Internet, na medida em que essa imagem representa o resultado de uma ação localizada e de um gesto de afeto. Álbuns de família antigamente privados agora são depositados online para escrutínio público, transformando-nos todos em voyeurs. Isso não quer dizer que algumas dessas fotos sejam efetivamente boas, no sentido composicional da foto. Mas quando vistas do ponto de vista do fluxo, e nos dando conta de que milhares de pessoas estão postando imagens em sites a todo momento, o fluxo de imagens ganha em valor do ponto de vista do colecionismo e do arquivamento e do acesso público ao que é privado e íntimo. É o conjunto de imagens e as visualizações destes mapas dos fluxos que geram um pensamento mais profícuo em torno da interação da subjetividade com os fluxos informacionais, e, por extensão, de uma relação de afetividade reflexiva realizada no âmbito da interação com máquinas e com redes. O gesto de produzir imagens é intrinsecamente humano, já a capacidade de gerar pensamento com imagens representa um segundo processo dentro da cultura. O que assusta com a Internet é a quantidade de imagens que ali transitam a cada segundo, mas sempre nos perguntamos efetivamente o que está sendo comunicado, que tipo de pensamento está envolvido nessa produção de imagens.
O gesto em si não necessariamente representa uma posição crítica em relação ao estatuto da imagem digital no contexto da rede. No entanto, se analisarmos a dinâmica das massas de imagens e nos apropriamos desses fluxos para resignificá-los em outro contexto, como o da arte, talvez possa ser iniciado um pensamento reflexivo sobre como a sociedade contemporânea sobrevive através da feitura e da divulgação de imagens.
6.1.07
Execução
Mais chocante ainda são os comentários deixados pelos usuários. O pior do piores se manifesta, todos os fundamentalistas à solta, árabes, americanos or otherwise...Exclamações em nome de bandeiras, de deus, do que quer que seja...
Em forma e em conteúdo, é um retrocesso. Ou talvez eu esteja sendo otimista. Talvez a gente nunca tenha aprendido nada, só muda a forma, o conteúdo fica o mesmo. O requinte de crueldade dos carrascos é ultrajante. Tudo tão precário, tão cheio de ruído. Não que estivesse esperando uma produção hollywoodiana. Mas preferia que isso não tinha acontecido dessa forma. Daqui só para pior. Tanta tecnologia, tantos "avanços", tanto progresso, e o bicho humano teimoso e burro não evolui em nada.