Todos os dias recebo vários newsletters sobre arte e tecnologia e sempre penso em repassar no blog.
Mas não tenho tempo nem paciência de fazê-lo.
O site Rhizome, agora de cara nova, oferece uma maneira rápida de acessar os Net Art News sem que eu tenha que reblogar aqui.
Vejam na coluna esquerda o box com os Net Art News atualizados diariamente.
13.1.06
12.1.06
Protect Me from What I Want

Tem trabalhos de arte que eu olho e acho uma bobagem.
Confesso que quando vi o trabalho da Jenny Holzer (acima) com a frase "Protect Me From What I Want" achei aquela frase a coisa mais imbecil do mundo. Proteger-me do que quero? Mas a gente não passa a vida inteira tentando fazer "o que quer"? Não vivemos completamente norteados pelas nossas escolhas? Não lutamos pelos nosso direitos, exigimos tolerância, silêncio, paz? Não enchemos o saco dos nossos pais na adolescência com um "vocês nunca me deixam fazer o que eu quero", e choraram horas no travesseiro porque seus pais são uns tiranos? Não nos separamos dos nossos cônjuges porque 'não conseguimos mais ser o que queremos, ou queríamos"? Não vivemos não época do desejo insaciável, a era da gratificação instantânea, os tempos de tentarmos decifrar que raios as pessoas querem consumir, ser, realizar?
Então que porra é essa de me proteger do que eu quero?
Eu quero é me proteger de frases assim que influenciam negativamente o meu querido e precioso querer. Querer é poder, sim, e ninguém pode querer por mim. Fomos criados para "follow your bliss" como dizia Joseph Campbell, para não transigir nas idéias sob o risco de nos tornarmos medíocres, ou seguir nossas paixões como escreveu Spinoza. Nos foi outorgado o livre arbítrio e mutos séculos depois Freud nos desvenda o mistério dos desejos, porque afinal, só podemos ser plenamente se vivermos de acordo com o nosso desejo, isso quando conseguimos identificar o que é o nosso desejo.
Toda a minha vida, ou toda a parte consciente da minha vida (porque a gente é meio débil até pouco depois da adolescência),eu quis ser artista. Quis tanto ser artista que estou pagando uma dívida até hoje (e até 2017) dos meus estudos de arte nos Estados Unidos. Quis tanto ser artista que torrei vários salários em tintas de boa qualidade ao invés de dar entrada numa casa própria. Quis tanto ser artista que passei meses deprimida porque tinha que trabalhar como executiva numa firma para pagar as contas porque "ninguém me entendia". Quis tanto ser artista que até hoje não me importo em lavar chão dos outros contanto que eu tenha o meu "tempo livre" para poder dedicar-me à arte dentro do meu atelier. Quis tanto ser artista que até hoje estou encalacrada em dívidas pela reforma do atelier, que continua sem porta da frente (só portão) e com a luz lligada na gambiarra. Quis tanto ser artista que tenho que aguentar a chacota dos meus orientadores no meu curso de mestrado. Quis tanto ser artista para pelo menos um dia morrer achando que eu fiz algo que tivesse sentido pelo menos para mim.
Mas, agora no alto da maturidade dos 31 anos recém-completos, começo a entender a Jenny Holzer e o que significa proteger-se do que se quer.
Até final de fevereiro tenho que preparar 3 exposições, uma delas individual nas oropa, e nunca me xinguei tanto de querer tanto o tempo todo.
É torturante o tempo que passa enquanto a inspiração não vem, pois passo o dia inteiro transpirando no meu atelier no Rio de Janeiro SEM ar condicionado (já que mal tem luz lá mesmo, porque de tanto querer ser artista não deu pra fazer a reforma da elétrica) e sem que uma idéia genial surja. Estes dias quase me submeti a terapias psicotrópicas para ver se não induzo as idéias de modo mais rápido e eficiente. Tomei uma garrafa de vinho sozinha no atelier e ao invés de me inspirar, dormi. Está tudo acontencendo tão rápido que não consigo dar conta de mim mesma. As vezes me pego andando de um lado tão hieprativa que não consigo fazer nada...
Please God, protect me from what I want...
E só pra finalizar, a letra da música do Placebo "Protect Me From What I Want". Não tem muito a ver, mas tem.
It's the disease of the age
it's the disease that we crave
alone at the end of the rave
we catch the last bus home
corporate amercica wakes
coffe republic and cakes
we open the latch on the gate
oh the hole that we call our home
protect me from what I want
maybe we're victims of fate
remember when we'd celebrate
we'd drink and get high until late
and nom we're all alone
wedding belles ain't gonna chime
with both of us guilty of crime
and both of us sentenced to time
and now we're all alone
protect me from what I want
Over the equator
voando sobre o equador, em direção ao sul do mundo...estas são as nuvens logo acima dessa linha imaginária.
11.1.06
4 coisas
Quatro Coisas
Roubado do Mestre Idelber, repassado pelo LLL, e requentado por mim:
Quatro empregos que você já teve:
1. Gerente de Projetos Sênior
2. Garçonete de restaurante chique.
3. Tradutora de relatórios financeiros em banco de investimentos
4. Assistente de cenografia
Quatro filmes que você poderia assistir infinitamente:
1. 2046
2. Victor or Victoria
3. Mulholland Drive
4. Eyes Wide Shut
Quatro lugares em que você morou:
1. Em um sala e quarto no West Village, NYC
2. Em vários dorm rooms em Northampton, Massachusetts
3. No basement da minha sogra
4. Chambre de bonne em Paris ao lado do Jardins du Luxembourg
Quatro programas de TV que você adora assistir:
1. Sex and the City
2. Animal Planet
3. Roma ou qualquer série épica
4. já gostei mais de novela
Quatro lugares em que você já esteve de férias:
1. Ilhas Virgens
2. La Paz, Bolivia
3. Patagonia Chilena
4. Na minha própria casa
Quatro blogs que você visita diariamente:
1. LLL
2. EyeBeam reblog
3. Projeto Uerê Multimídia
4. E vários outros que deu preguiça de botar todos os links aqui (vejam a coluna esquerda)
Quatro de suas comidas favoritas:
1. Frango à milanesa com purê de batatas
2. Moules et Frites (mexilhão ao vinho branco acompanhado de batatas fritas com molho tártaro)
3. Couscous marroquino
4. Pad Thai
Quatro lugares em que você preferiria estar agora:
1. Qualquer lugar com meu amor
2. Qualquer lugar longe da ilha do fundão
3. Qualquer lugar com trabalhos que paguem bemr
4. Qualquer lugar sem intolerância, guerra, ou preconceito
Quatro discos sem os quais você não pode viver (na verdade, qualquer um, dado que não trouxe nenhum, mas vamos ao básico):
1. Qualquer um de bossa nova
2. Uma coletânea de Mozart
3. Ultimamente confesso que o Zeca Pagodinho unplugged é muito bom. (Segundo os 10 mais de 2005 na ArtForum)
4. Uma coletânea de tango.
Quatro carros que você já teve:
1. Voyage 1988 azul, importado para os EUA
2. Ka 1998 - apertadinho mas confortável
3. Palio Adventure - foi bom enquanto durou
4. Estou juntando dinheiro para comprar um fusca 75
Mandem ver.
Roubado do Mestre Idelber, repassado pelo LLL, e requentado por mim:
Quatro empregos que você já teve:
1. Gerente de Projetos Sênior
2. Garçonete de restaurante chique.
3. Tradutora de relatórios financeiros em banco de investimentos
4. Assistente de cenografia
Quatro filmes que você poderia assistir infinitamente:
1. 2046
2. Victor or Victoria
3. Mulholland Drive
4. Eyes Wide Shut
Quatro lugares em que você morou:
1. Em um sala e quarto no West Village, NYC
2. Em vários dorm rooms em Northampton, Massachusetts
3. No basement da minha sogra
4. Chambre de bonne em Paris ao lado do Jardins du Luxembourg
Quatro programas de TV que você adora assistir:
1. Sex and the City
2. Animal Planet
3. Roma ou qualquer série épica
4. já gostei mais de novela
Quatro lugares em que você já esteve de férias:
1. Ilhas Virgens
2. La Paz, Bolivia
3. Patagonia Chilena
4. Na minha própria casa
Quatro blogs que você visita diariamente:
1. LLL
2. EyeBeam reblog
3. Projeto Uerê Multimídia
4. E vários outros que deu preguiça de botar todos os links aqui (vejam a coluna esquerda)
Quatro de suas comidas favoritas:
1. Frango à milanesa com purê de batatas
2. Moules et Frites (mexilhão ao vinho branco acompanhado de batatas fritas com molho tártaro)
3. Couscous marroquino
4. Pad Thai
Quatro lugares em que você preferiria estar agora:
1. Qualquer lugar com meu amor
2. Qualquer lugar longe da ilha do fundão
3. Qualquer lugar com trabalhos que paguem bemr
4. Qualquer lugar sem intolerância, guerra, ou preconceito
Quatro discos sem os quais você não pode viver (na verdade, qualquer um, dado que não trouxe nenhum, mas vamos ao básico):
1. Qualquer um de bossa nova
2. Uma coletânea de Mozart
3. Ultimamente confesso que o Zeca Pagodinho unplugged é muito bom. (Segundo os 10 mais de 2005 na ArtForum)
4. Uma coletânea de tango.
Quatro carros que você já teve:
1. Voyage 1988 azul, importado para os EUA
2. Ka 1998 - apertadinho mas confortável
3. Palio Adventure - foi bom enquanto durou
4. Estou juntando dinheiro para comprar um fusca 75
Mandem ver.
2046
Agora pulando 40 anos para a frente, quanto eu estiver linda e maravilhosa aos 71 anos (ah, meu aniversário foi ontem!), queria alugar vocês para inserir aqui o artigo do Arnaldo Jabor sobre o filme "2046" do Wong Kar Wai, que já elegi como o melhor que vi este ano.
Prostitutas tristes e lindas em Hong Kong no melhor estilo noir, trilha sonora cubana, amor e dor até o último fio de cabelo...fiquei com esse filme na cabeça por dois dias inteiros...lindo, lindo de morrer....assistam.
Mas ninguém melhor do que o Arnaldo para descrever o filme...
Aqui vai.
++++++
O amor é uma droga pesada
Overdadeiro amor é impossível, logo só o amor impossível é o verdadeiro amor. Saí do cinema onde fui ver “2046”, do chinês Wong Kar Wai, pensando nisso. Saí do cinema como de um sonho barroco, manchado, molhado por uma grande massa de cores e sons, de rostos, gestos, mãos, gemidos, dores e gozos. Saí como um drogado, viajando ainda num LSD, uma mescalina da pesada, saí de um milagre alucinado. Vi uma coisa rara: um filme que é o que ele conta. Explico: 2046 seria, no filme, o ano futuro onde tudo seria imutável, lembrado. E agora, quando escrevo, vejo que o tal lugar em 2046 é a própria obra. Entramos neste filme como numa utopia, um lugar úmido, denso, esfumado, chuvoso, cambiante, onde estaríamos no lugar, na terra da paixão. Kar Wai é um grande artista que faz uma súmula de influências do melhor cinema ocidental e realiza um filme híbrido como Hong Kong, oriental para o ocidente, diferente do que esperamos de um filme chinês. E por ele, como pelo primeiro Zhang Ymou, vemos que a cultura erótica chinesa atravessou cinco mil anos incólume, mesmo depois das revoluções maoístas e da China recente dos escravos globalizados. Muito mais sofisticado que europeus e americanos.
É um filme fragmentário sobre o fragmentário das emoções de hoje. Ali estão pedaços de “Blade Runner”, ecos dos Krells do “Planeta proibido” (lembram, cinéfilos?), ali está Jupiter de “2001”, ali estão emblemas e ícones dos filmes noir da Warner, ali está Godard na descontinuidade narrativa, ali estão confusos cacos de Ocidente e Oriente, uma Hong Kong da alma, músicas tropicais, Nat King Cole e ópera, “Siboney” e a “Norma” de Bellini. Que banho... que cineasta admirável!
Em “2046”, tema e matéria se misturam numa massa indissolúvel.
Tudo neste filme é uma exposição da “parcialidade” do erotismo contemporâneo. (Exemplo brasileiro: a bunda substituindo a mulher inteira) A primeira vista parece uma louvação da perversão, do fetichismo, do erotismo das “partes”, do “amor em pedaçõs”. No entanto, Kar Wai está além do fetichismo, além da perversão. Ele retrata (sem teses, claro) a imagerie do erotismo contemporâneo que “esquarteja” o corpo humano. Vejam as artes gráficas, fotos de revistas de arte, como “Photo” (ou em Tarantino), onde tudo é (reparem) decepado, dividido, pés, sapatos, escarpins negros, unhas pintadas, bocas vermelhas, paus, seios, corpos imitando coisas, tudo solto como num abstrato painel. Tudo evoca a impossibilidade saudosa de um “objeto total”, da pessoa inteira..
Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, na inteireza, seja no sexo, no amor ou na política.
Aí, chega o Kar Wai e, poeticamente, intui esse novo mundo afetivo e sexual.
Kar Wai não sofre por um tempo sem amor, como nos filmes que “acabam mal”, sem happy end . “2046” não lamenta a impossibilidade do amor. Não, ele a celebra. Para Kar Wai (e para muitos de nós), só o parcial é gozoso. Só o parcial nos excita, como a saudade de uma plenitude que não chega nunca. Kar Wai assume essa parcialidade, a incompletude como única possibilidade humana. E acha isso bom. E, num filme romântico, nostálgico e dolente, goza com isso. Nada mais delicioso que o amor impossível. E, como canta o samba, “quem quiser conhecer a plenitude, vai ter de sofrer, vai ter de chorar...”. Ou, “O amor é uma droga pesada”, título de livro de Maria Rita Khel.
Kar Wai nos apresenta a droga pesada do século XXI: a paixão.
Ele é o quê? Um romântico-punk, um pierrô pos-utópico? É por aí... um chinês neurótico dando aula para ocidentais.
O amor em Kar Wai, para ser eterno, tem de ficar eternamente irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a prise não pode passar. Aí, a dor vem como prazer; a saudade, como misticismo; a parte, como o todo; o instante, como eterno. E, atenção, não falo de masoquismo: falo de um espirito do tempo.
Hoje em dia, não há mais uma explícita, uma clara noção do que seria felicidade, como antigamente. O que é ser feliz? Onde está a felicidade no amor e sexo? No casamento? Em 2046, o ano mítico do filme?
Kar Wai não lamenta o fim da felicidade, mas o saúda. Como diz a musica do Vinicius, “é melhor viver do que ser feliz...”, coisa que muito careta não entende.
Este filme mostra que hoje, sem sabermos com clareza, achamos que é bom ansiar por um gozo desconhecido, é bom sofrer numa metafisica passional, é bom a saudade, a perda, tudo, menos a insuportável felicidade. Assim, o amor vira uma maravilhosa aventura de utopia, uma experiência religiosa, como a fé, que resiste a todos os massacres e terremotos e guerras. Em vez da felicidade, o gozo, o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor. Como no filme, não há mais felicidade, só as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, hotéis desertos, luzes mortiças, a chuva, o nada.
Como esse filme aponta, o amor hoje é um cultivo da “intensidade” contra a “eternidade”. Toda a cultura do cinema tende para a idéia de redenção, esperança, mas “2046” não lamenta o fim do happy end . Não. É bom que acabe esta mentira do idealismo romântico americano, para animar o otimismo familiar e produtivo, pois na verdade tudo acaba mal na vida. Não se chega a lugar nenhum porque não há aonde chegar.
Tudo bem buscarmos paz e sossego, tudo bem nos contentarmos com o calmo amor, com um “agapê”, uma doce amizade dolorida e nostálgica do tesão, tudo bem... Mas a chama da droga pesada amor só vem com o impalpável. E isso é bom. Temos que acabar com a idéia de felicidade fácil. Enquanto sonharmos com a plenitude, seremos infelizes. Só o amor impossível nos põe em contato com um arco-íris de sentimentos desconhecidos. A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo.
E tem mais... este artigo não é pessimista. Temos de ser felizes sem esperanças.
Arnaldo Jabor
Prostitutas tristes e lindas em Hong Kong no melhor estilo noir, trilha sonora cubana, amor e dor até o último fio de cabelo...fiquei com esse filme na cabeça por dois dias inteiros...lindo, lindo de morrer....assistam.
Mas ninguém melhor do que o Arnaldo para descrever o filme...
Aqui vai.
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O amor é uma droga pesada
Overdadeiro amor é impossível, logo só o amor impossível é o verdadeiro amor. Saí do cinema onde fui ver “2046”, do chinês Wong Kar Wai, pensando nisso. Saí do cinema como de um sonho barroco, manchado, molhado por uma grande massa de cores e sons, de rostos, gestos, mãos, gemidos, dores e gozos. Saí como um drogado, viajando ainda num LSD, uma mescalina da pesada, saí de um milagre alucinado. Vi uma coisa rara: um filme que é o que ele conta. Explico: 2046 seria, no filme, o ano futuro onde tudo seria imutável, lembrado. E agora, quando escrevo, vejo que o tal lugar em 2046 é a própria obra. Entramos neste filme como numa utopia, um lugar úmido, denso, esfumado, chuvoso, cambiante, onde estaríamos no lugar, na terra da paixão. Kar Wai é um grande artista que faz uma súmula de influências do melhor cinema ocidental e realiza um filme híbrido como Hong Kong, oriental para o ocidente, diferente do que esperamos de um filme chinês. E por ele, como pelo primeiro Zhang Ymou, vemos que a cultura erótica chinesa atravessou cinco mil anos incólume, mesmo depois das revoluções maoístas e da China recente dos escravos globalizados. Muito mais sofisticado que europeus e americanos.
É um filme fragmentário sobre o fragmentário das emoções de hoje. Ali estão pedaços de “Blade Runner”, ecos dos Krells do “Planeta proibido” (lembram, cinéfilos?), ali está Jupiter de “2001”, ali estão emblemas e ícones dos filmes noir da Warner, ali está Godard na descontinuidade narrativa, ali estão confusos cacos de Ocidente e Oriente, uma Hong Kong da alma, músicas tropicais, Nat King Cole e ópera, “Siboney” e a “Norma” de Bellini. Que banho... que cineasta admirável!
Em “2046”, tema e matéria se misturam numa massa indissolúvel.
Tudo neste filme é uma exposição da “parcialidade” do erotismo contemporâneo. (Exemplo brasileiro: a bunda substituindo a mulher inteira) A primeira vista parece uma louvação da perversão, do fetichismo, do erotismo das “partes”, do “amor em pedaçõs”. No entanto, Kar Wai está além do fetichismo, além da perversão. Ele retrata (sem teses, claro) a imagerie do erotismo contemporâneo que “esquarteja” o corpo humano. Vejam as artes gráficas, fotos de revistas de arte, como “Photo” (ou em Tarantino), onde tudo é (reparem) decepado, dividido, pés, sapatos, escarpins negros, unhas pintadas, bocas vermelhas, paus, seios, corpos imitando coisas, tudo solto como num abstrato painel. Tudo evoca a impossibilidade saudosa de um “objeto total”, da pessoa inteira..
Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, na inteireza, seja no sexo, no amor ou na política.
Aí, chega o Kar Wai e, poeticamente, intui esse novo mundo afetivo e sexual.
Kar Wai não sofre por um tempo sem amor, como nos filmes que “acabam mal”, sem happy end . “2046” não lamenta a impossibilidade do amor. Não, ele a celebra. Para Kar Wai (e para muitos de nós), só o parcial é gozoso. Só o parcial nos excita, como a saudade de uma plenitude que não chega nunca. Kar Wai assume essa parcialidade, a incompletude como única possibilidade humana. E acha isso bom. E, num filme romântico, nostálgico e dolente, goza com isso. Nada mais delicioso que o amor impossível. E, como canta o samba, “quem quiser conhecer a plenitude, vai ter de sofrer, vai ter de chorar...”. Ou, “O amor é uma droga pesada”, título de livro de Maria Rita Khel.
Kar Wai nos apresenta a droga pesada do século XXI: a paixão.
Ele é o quê? Um romântico-punk, um pierrô pos-utópico? É por aí... um chinês neurótico dando aula para ocidentais.
O amor em Kar Wai, para ser eterno, tem de ficar eternamente irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a prise não pode passar. Aí, a dor vem como prazer; a saudade, como misticismo; a parte, como o todo; o instante, como eterno. E, atenção, não falo de masoquismo: falo de um espirito do tempo.
Hoje em dia, não há mais uma explícita, uma clara noção do que seria felicidade, como antigamente. O que é ser feliz? Onde está a felicidade no amor e sexo? No casamento? Em 2046, o ano mítico do filme?
Kar Wai não lamenta o fim da felicidade, mas o saúda. Como diz a musica do Vinicius, “é melhor viver do que ser feliz...”, coisa que muito careta não entende.
Este filme mostra que hoje, sem sabermos com clareza, achamos que é bom ansiar por um gozo desconhecido, é bom sofrer numa metafisica passional, é bom a saudade, a perda, tudo, menos a insuportável felicidade. Assim, o amor vira uma maravilhosa aventura de utopia, uma experiência religiosa, como a fé, que resiste a todos os massacres e terremotos e guerras. Em vez da felicidade, o gozo, o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor. Como no filme, não há mais felicidade, só as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, hotéis desertos, luzes mortiças, a chuva, o nada.
Como esse filme aponta, o amor hoje é um cultivo da “intensidade” contra a “eternidade”. Toda a cultura do cinema tende para a idéia de redenção, esperança, mas “2046” não lamenta o fim do happy end . Não. É bom que acabe esta mentira do idealismo romântico americano, para animar o otimismo familiar e produtivo, pois na verdade tudo acaba mal na vida. Não se chega a lugar nenhum porque não há aonde chegar.
Tudo bem buscarmos paz e sossego, tudo bem nos contentarmos com o calmo amor, com um “agapê”, uma doce amizade dolorida e nostálgica do tesão, tudo bem... Mas a chama da droga pesada amor só vem com o impalpável. E isso é bom. Temos que acabar com a idéia de felicidade fácil. Enquanto sonharmos com a plenitude, seremos infelizes. Só o amor impossível nos põe em contato com um arco-íris de sentimentos desconhecidos. A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo.
E tem mais... este artigo não é pessimista. Temos de ser felizes sem esperanças.
Arnaldo Jabor
1.1.06
2006
Para começar...desculpem pela dormência do Book of Hours em 2005. Foi um ano maravilhoso para mim, mas muito (positivamente) conturbado.
Me divorciei, trabalhei feito uma maluca para reconstruir minha vida, fiz muitos frilas, perdi tantos outros trabalhos, fiz exposições individuais e coletivas, consegui um marchand (!), me apaixonei de novo, viajei para 3 continentes às custas de patrocínios e eventos, organizei e curei exposições, estudei muito para o mestrado, fiz novos amigos, aumentei a minha rede de contatos de forma exponencial, me despedi de amizades que não valiam a pena, e, assim, inicio um 2006 muito muito bom.
2006 é ano de escrever tese de mestrado, ano de decidir se fico ou não no Brasil, ano de muitas exposições (algumas fora do país), e ano de voltar ao ritual quase-diário de postar aqui no Book of Hours. Porque a vida é feita de pequenos rituais. O Sketchbook continua à toda, a escrita vai bem, mas morro de saudades do feedback do blog e de toda essa comunhão que temos por aqui.
Para todos, se é que ainda se lembram deste espaço, um feliz ano novo.
Me divorciei, trabalhei feito uma maluca para reconstruir minha vida, fiz muitos frilas, perdi tantos outros trabalhos, fiz exposições individuais e coletivas, consegui um marchand (!), me apaixonei de novo, viajei para 3 continentes às custas de patrocínios e eventos, organizei e curei exposições, estudei muito para o mestrado, fiz novos amigos, aumentei a minha rede de contatos de forma exponencial, me despedi de amizades que não valiam a pena, e, assim, inicio um 2006 muito muito bom.
2006 é ano de escrever tese de mestrado, ano de decidir se fico ou não no Brasil, ano de muitas exposições (algumas fora do país), e ano de voltar ao ritual quase-diário de postar aqui no Book of Hours. Porque a vida é feita de pequenos rituais. O Sketchbook continua à toda, a escrita vai bem, mas morro de saudades do feedback do blog e de toda essa comunhão que temos por aqui.
Para todos, se é que ainda se lembram deste espaço, um feliz ano novo.
20.9.05
Countdown
dentro de exatas 72 horas estarei inaugurando a minha primeira exposição individual no Rio.
São fotografias de autores conhecidos ou imagens famosas que coletei pelo Google e retrabalhei com um software de criação de mosaicos, o MacOSaix(gratuito). Diferente dos outros softwares de mosaicos o MacOSaix busca as imagens que constituem o mosaico diretamente no Google Images, fazendo com que a imagem se faça em tempo real. O resultado são enormes imagens de importância histórica que, quando retrabalhadas pelo software, reaparecem completamente pixelizadas com milhares de imagenzinhas.
Quem já conhece o meu trabalho sabe que eu tenho tara pelo Google Images. Os meus primeiros trabalhos que vocês podem ver aqui consistiam de imagens resultantes apenas de uma busca específica. Um ano depois, apresento o novo desenvolvimento disso, que se dá com o mesmo processo só que plenamente automatizado e dentro de um contexto mais factível.
Esta exposição me tirou todas as energias vitais e econômicas...pareço com aqueles pintores de outros tempos que queimavam a última cadeira que tinham na casa como lenha para manter a modelo aquecida...Espero que dê tudo certo.
Amanhã, as imagens e a história por trás de cada uma delas e o que fiz com cada uma.
São fotografias de autores conhecidos ou imagens famosas que coletei pelo Google e retrabalhei com um software de criação de mosaicos, o MacOSaix(gratuito). Diferente dos outros softwares de mosaicos o MacOSaix busca as imagens que constituem o mosaico diretamente no Google Images, fazendo com que a imagem se faça em tempo real. O resultado são enormes imagens de importância histórica que, quando retrabalhadas pelo software, reaparecem completamente pixelizadas com milhares de imagenzinhas.
Quem já conhece o meu trabalho sabe que eu tenho tara pelo Google Images. Os meus primeiros trabalhos que vocês podem ver aqui consistiam de imagens resultantes apenas de uma busca específica. Um ano depois, apresento o novo desenvolvimento disso, que se dá com o mesmo processo só que plenamente automatizado e dentro de um contexto mais factível.
Esta exposição me tirou todas as energias vitais e econômicas...pareço com aqueles pintores de outros tempos que queimavam a última cadeira que tinham na casa como lenha para manter a modelo aquecida...Espero que dê tudo certo.
Amanhã, as imagens e a história por trás de cada uma delas e o que fiz com cada uma.
19.9.05
Derrida-da
Achei esse comentário do Horvallis hilário, em resposta ao meu post sobre o situacionismo.
O mais engraçado, é que essas teoria francesas não pegaram aqui, em França.
Elas estão voltando somente agora como moda americana.
Nunca ouvi uma só vez o nome de Derrida quando estudei a arte ! Conheci ele através dos sites americanos !
De fato, acho os livros de Derrida totalmente ilegíveis - o que me faz pensar que os tradutores devem ter feito milagres.
Outro dia me encontrei com uma curadora francesa que ficou muito bem impressionada com a arte contemporânea brasileira. Acho que nós temos um frescor necessário aos tempos de hoje e que os artistas jovens da Europa têm dificuldades de se libertar das tradições, além do fato de que a maioria deles, segundo ela, iniciam os estudos de arte sem nunca ter posto os pés no Louvre. E ela estava falando de alunos de história da arte que vivem em Paris. Acho isso curioso porque é justamente no Brasil, onde temos relativamente pouco acesso a textos em tradução e falta bibliotecas especializadas em arte, que damos maior importância a esse tipo de estudo teórico. Talvez os franceses acham que o Louvre é coisa de turista, ou sendo que está tudo tão acessível, não percebem o valor do patrimônio que têm em mãos... Conheço artistas aqui no Brasil que dariam um braço para ver um Picasso em carne e osso.
É sabido que as teorias francesas tiveram muito melhor aceitação nos Estados Unidos no final dos anos 70 e início dos 80 do que na própria Europa, os textos tendo sido traduzidos e publicados e espalhados feito incêndio na floresta pelos meios acadêmicos e artísticos. Como no meu mestrado o que eu mais leio, pasmem, é sobre teoria da arte européia e americana (nunca me foi recomendado nenhum texto do Mário Pedrosa e o manifesto neo-concreto do Ferreira Gullar passa longe das bibliografias), tenho que ficar muito atenta a o que estes franceses malucos escreveram e como o governo brasileiro me paga um salário de pesquisadora, me sinto na obrigação de absorver tudo isso. Mesmo que seja só para dizer que não passa tudo de uma grande besteira.
Eu adoro ler coisas que eu mal entendo simplesmente pelo esporte de "filosofar", mas depois de um tempo passo a compreender certas questões que adicionam mais camadas ao meu próprio trabalho e quando isso acontece é uma delícia. Não que o trabalho tenha que ser uma ilustração de uma idéia de outra pessoa, longe disso, mas o prazer de saber que o meu trabalho possa ter reverberações fora de mim, ressonâncias com o mundo externo. É bom saber que a gente faz parte de alguma coisa além de si, mesmo que esta coisa seja apenas uma bonita frase perdida em meio a textos complicados. Comecei a ler o Mil Platôs do Deleuze/Guattari e é muito bom. No fundo você tira da filosofia e/ou teoria o que você precisar. Ou joga tudo fora e dá uma bela de uma banana.
It's up to you.
O mais engraçado, é que essas teoria francesas não pegaram aqui, em França.
Elas estão voltando somente agora como moda americana.
Nunca ouvi uma só vez o nome de Derrida quando estudei a arte ! Conheci ele através dos sites americanos !
De fato, acho os livros de Derrida totalmente ilegíveis - o que me faz pensar que os tradutores devem ter feito milagres.
Outro dia me encontrei com uma curadora francesa que ficou muito bem impressionada com a arte contemporânea brasileira. Acho que nós temos um frescor necessário aos tempos de hoje e que os artistas jovens da Europa têm dificuldades de se libertar das tradições, além do fato de que a maioria deles, segundo ela, iniciam os estudos de arte sem nunca ter posto os pés no Louvre. E ela estava falando de alunos de história da arte que vivem em Paris. Acho isso curioso porque é justamente no Brasil, onde temos relativamente pouco acesso a textos em tradução e falta bibliotecas especializadas em arte, que damos maior importância a esse tipo de estudo teórico. Talvez os franceses acham que o Louvre é coisa de turista, ou sendo que está tudo tão acessível, não percebem o valor do patrimônio que têm em mãos... Conheço artistas aqui no Brasil que dariam um braço para ver um Picasso em carne e osso.
É sabido que as teorias francesas tiveram muito melhor aceitação nos Estados Unidos no final dos anos 70 e início dos 80 do que na própria Europa, os textos tendo sido traduzidos e publicados e espalhados feito incêndio na floresta pelos meios acadêmicos e artísticos. Como no meu mestrado o que eu mais leio, pasmem, é sobre teoria da arte européia e americana (nunca me foi recomendado nenhum texto do Mário Pedrosa e o manifesto neo-concreto do Ferreira Gullar passa longe das bibliografias), tenho que ficar muito atenta a o que estes franceses malucos escreveram e como o governo brasileiro me paga um salário de pesquisadora, me sinto na obrigação de absorver tudo isso. Mesmo que seja só para dizer que não passa tudo de uma grande besteira.
Eu adoro ler coisas que eu mal entendo simplesmente pelo esporte de "filosofar", mas depois de um tempo passo a compreender certas questões que adicionam mais camadas ao meu próprio trabalho e quando isso acontece é uma delícia. Não que o trabalho tenha que ser uma ilustração de uma idéia de outra pessoa, longe disso, mas o prazer de saber que o meu trabalho possa ter reverberações fora de mim, ressonâncias com o mundo externo. É bom saber que a gente faz parte de alguma coisa além de si, mesmo que esta coisa seja apenas uma bonita frase perdida em meio a textos complicados. Comecei a ler o Mil Platôs do Deleuze/Guattari e é muito bom. No fundo você tira da filosofia e/ou teoria o que você precisar. Ou joga tudo fora e dá uma bela de uma banana.
It's up to you.
6.9.05
Encontraram o Oliver
O Oliver, cão do melhor amigo, teve que ser deixado para trás em Nova Orleans na semana passada por conta do furacão.
Ontem encontraram ele, um pouco fracote mas vivo. Alex conseguiu se refugiar na casa da própria irmã na California, e o Oliver parece que será levado para Washington D.C.
Acompanhe a saga de Alexandre, aluno de pós-graduação recém-chegado a Nova Orleans em agosto, a sua peregrinação pelos Estados Unidos, do Mississippi à California, e como conseguiu resgatar o seu cachorro, deixado lá.
Parabéns Alex.
Ontem encontraram ele, um pouco fracote mas vivo. Alex conseguiu se refugiar na casa da própria irmã na California, e o Oliver parece que será levado para Washington D.C.
Acompanhe a saga de Alexandre, aluno de pós-graduação recém-chegado a Nova Orleans em agosto, a sua peregrinação pelos Estados Unidos, do Mississippi à California, e como conseguiu resgatar o seu cachorro, deixado lá.
Parabéns Alex.
22.8.05
Situacionismo
Geralmente eu saio das aulas do mestrado em arte completamente confusa com tanto Derrida à minha volta explicando a différence da différance, a importância da legenda na obra de arte e outros esoterismos afins. Na última aula particularmente, o professor mencionou tantos textos que abri uma página do meu caderno só com a bibliografia de 25 textos mencionados dos quais eu nem sabia da existência. Chamem-me de ignorante, mas eu não tinha idéia de quem era o Guy Debord, nem o que era o Situacionismo Internacional, que de cara me deu a sensação de ser um movimento estudantil anarquista filosófico francês dos anos 60.
Acertei.
Fora o Guy Debord também ter sido acometido pela onda de suicídio na intelectualidade francesa, como o Gilles Deleuze, (o Derrida conseguiu morrer antes de se suicidar, foi se desconstruindo aos poucos), achei a Sociedade do Espetáculo bem interessante. Prega a desordem e o anarquismo total. Importante no tempo em que atuavam, dos anos 60 até 72.
Como todo movimento de arte do século 20, pretendia destruir o status-quo da arte e inseri-la em um novo contexto. Segundo o grupo Situacionista a intenção era não criar quase nenhuma distinção entre arte e vida cotidiana. Eles diziam: ou a arte é revolucionária ou ela não é nada. Isso se traduz em termos práticos em ações (que hoje chamam loosely de "performances", mais ou menos) artísticas que de alguma forma perturbam a ordem e o andar normal da cidade ou de dada situação a priori, por exemplo; uma obra que depende de um contexto maior do que o contexto apenas pessoal para acontecer, que precisa de uma situação para ser ativada, que precisa ativar agentes externos para daí extrair significado para si. Tipo, tipo assim, tipo....pensa em qualquer obra de arte que vocês não consideram arte e é isso mesmo.
Parece lugar-comum hoje, mas esse movimento acabou influenciando diretamente ou indiretamente grande parte das "revoluções" estílisticas que se refletem na arte contemporânea hoje....peraí....será? Todas as teorias francesas tendem a querer ser superiores às outras, oferecendo uma visão de mundo completa qual quer que seja a orientação. Não sei se sou situacionista, desconstrutivista, estruturalista ou fenomenológica. O fato é que essas intelectualidades francesas penetraram nos estados unidos e tornou-se quase dominante nos estudos culturais (arte, mídia, etc...) nas universidades, salvo alguns alemães que continuaram a majestade alemã nesse....etcetera, etcetera, etcetera.
Cansei de explicar. Rafael tinha razão, vcs devem estar batendo cabeça se leram até aqui...
Esse ensaiozinho sacaneta enchendo o saco dos situacionistas deve elucidar sobre a questão. Enfim um pouco de senso de humor nessas teorias.
How to talk like a Situationist
by Anonymous
1. Learn French. No self-respecting situationist would dream of not knowing it.
2. Always use the most obscure language possible. Get lots of big scholarly words from a dictionary and use them often.
Poor: "Things are bad."
Better: "The formative mechanism of culture amounts to a reification of human activities which fixates the living and models the transmission of experience from one generation to another on the transmission of commodities; a reification which strives to ensure the past's domination over the future."
3. In particular, the words "boredom" (as in "there's nothing they won't do to raise the standard of boredom"), "poverty" (of the university, of art), and "pleasure" are important tools in the young situationist's kit, and use of them will greatly enhance your standing in the situationist community.
4. Make frequent reference to seventy year-old art movements like Dada and Surrealism. Work the subject into your conversations as often as possible, however irrelevant.
5. Vehemently attack "The University" and "Art" whenever possible (phrases like "the scrap-heap of Art" or "the stench of Art" are particularly effective). Attend as prestigious a school as possible and make sure your circle of friends contains no less than 85% artists.
6. Cultivate a conceit and self-importance bordering on megalomania. Take credit for spontaneous uprisings in far-flung corners of the world, sneer at those who oppose or disagree with you.
7. Denounce and exclude people often. Keep your group very small and exclusive -- but take it for granted that every man, woman, and child in the Western Hemisphere is intimately familiar with your work, even if no more than ten people actually are.
8. Detournement: Cut a comic strip out of the paper (serious strips like 'Terry and the Pirates' and 'Mary Worth' are preferred), and change the dialogue. Use lots of situationist language. What fun!
9. Use Marxian reverse-talk. This is a sure-fire way of alerting people to the fact that you are a situationist or are eager to become one: "the irrationality of the spectacle spectacularises rationality," "separate production as production of the separate."
10. Invoke "the proletariat," factories, and other blue-collar imagery as often as possible, but do not under any circumstances asociate with or work with real proletarians. (Some acceptable situationist jobs are: student, professor, artist.)
11. By all means avoid such repugnant proletarian accoutrements as: novelty baseball hats, rock group T-shirts, 'Garfield' or 'Snoopy' posters (no matter how "political"), and vulgar American cigarettes like 'Kent' or 'Tareyton'.
Acertei.
Fora o Guy Debord também ter sido acometido pela onda de suicídio na intelectualidade francesa, como o Gilles Deleuze, (o Derrida conseguiu morrer antes de se suicidar, foi se desconstruindo aos poucos), achei a Sociedade do Espetáculo bem interessante. Prega a desordem e o anarquismo total. Importante no tempo em que atuavam, dos anos 60 até 72.
Como todo movimento de arte do século 20, pretendia destruir o status-quo da arte e inseri-la em um novo contexto. Segundo o grupo Situacionista a intenção era não criar quase nenhuma distinção entre arte e vida cotidiana. Eles diziam: ou a arte é revolucionária ou ela não é nada. Isso se traduz em termos práticos em ações (que hoje chamam loosely de "performances", mais ou menos) artísticas que de alguma forma perturbam a ordem e o andar normal da cidade ou de dada situação a priori, por exemplo; uma obra que depende de um contexto maior do que o contexto apenas pessoal para acontecer, que precisa de uma situação para ser ativada, que precisa ativar agentes externos para daí extrair significado para si. Tipo, tipo assim, tipo....pensa em qualquer obra de arte que vocês não consideram arte e é isso mesmo.
Parece lugar-comum hoje, mas esse movimento acabou influenciando diretamente ou indiretamente grande parte das "revoluções" estílisticas que se refletem na arte contemporânea hoje....peraí....será? Todas as teorias francesas tendem a querer ser superiores às outras, oferecendo uma visão de mundo completa qual quer que seja a orientação. Não sei se sou situacionista, desconstrutivista, estruturalista ou fenomenológica. O fato é que essas intelectualidades francesas penetraram nos estados unidos e tornou-se quase dominante nos estudos culturais (arte, mídia, etc...) nas universidades, salvo alguns alemães que continuaram a majestade alemã nesse....etcetera, etcetera, etcetera.
Cansei de explicar. Rafael tinha razão, vcs devem estar batendo cabeça se leram até aqui...
Esse ensaiozinho sacaneta enchendo o saco dos situacionistas deve elucidar sobre a questão. Enfim um pouco de senso de humor nessas teorias.
How to talk like a Situationist
by Anonymous
1. Learn French. No self-respecting situationist would dream of not knowing it.
2. Always use the most obscure language possible. Get lots of big scholarly words from a dictionary and use them often.
Poor: "Things are bad."
Better: "The formative mechanism of culture amounts to a reification of human activities which fixates the living and models the transmission of experience from one generation to another on the transmission of commodities; a reification which strives to ensure the past's domination over the future."
3. In particular, the words "boredom" (as in "there's nothing they won't do to raise the standard of boredom"), "poverty" (of the university, of art), and "pleasure" are important tools in the young situationist's kit, and use of them will greatly enhance your standing in the situationist community.
4. Make frequent reference to seventy year-old art movements like Dada and Surrealism. Work the subject into your conversations as often as possible, however irrelevant.
5. Vehemently attack "The University" and "Art" whenever possible (phrases like "the scrap-heap of Art" or "the stench of Art" are particularly effective). Attend as prestigious a school as possible and make sure your circle of friends contains no less than 85% artists.
6. Cultivate a conceit and self-importance bordering on megalomania. Take credit for spontaneous uprisings in far-flung corners of the world, sneer at those who oppose or disagree with you.
7. Denounce and exclude people often. Keep your group very small and exclusive -- but take it for granted that every man, woman, and child in the Western Hemisphere is intimately familiar with your work, even if no more than ten people actually are.
8. Detournement: Cut a comic strip out of the paper (serious strips like 'Terry and the Pirates' and 'Mary Worth' are preferred), and change the dialogue. Use lots of situationist language. What fun!
9. Use Marxian reverse-talk. This is a sure-fire way of alerting people to the fact that you are a situationist or are eager to become one: "the irrationality of the spectacle spectacularises rationality," "separate production as production of the separate."
10. Invoke "the proletariat," factories, and other blue-collar imagery as often as possible, but do not under any circumstances asociate with or work with real proletarians. (Some acceptable situationist jobs are: student, professor, artist.)
11. By all means avoid such repugnant proletarian accoutrements as: novelty baseball hats, rock group T-shirts, 'Garfield' or 'Snoopy' posters (no matter how "political"), and vulgar American cigarettes like 'Kent' or 'Tareyton'.
Situacionismo
Geralmente eu saio das aulas do mestrado em arte completamente confusa com tanto Derrida à minha volta explicando a différence da différance, a importância da legenda na obra de arte e outros esoterismos afins. Na última aula particularmente, o professor mencionou tantos textos que abri uma página do meu caderno só com a bibliografia de 25 textos mencionados dos quais eu nem sabia da existência. Chamem-me de ignorante, mas eu não tinha idéia de quem era o Guy Debord, nem o que era o Situacionismo Internacional, que de cara me deu a sensação de ser um movimento estudantil anarquista filosófico francês dos anos 60.
Acertei.
Fora o Guy Debord também ter sido acometido pela onda de suicídio na intelectualidade francesa, como o Gilles Deleuze, (o Derrida conseguiu morrer antes de se suicidar, foi se desconstruindo aos poucos), achei a Sociedade do Espetáculo bem interessante. Prega a desordem e o anarquismo total. Importante no tempo em que atuavam, dos anos 60 até 72.
Como todo movimento de arte do século 20, pretendia destruir o status-quo da arte e inseri-la em um novo contexto. Segundo o grupo Situacionista a intenção era não criar quase nenhuma distinção entre arte e vida cotidiana. Eles diziam: ou a arte é revolucionária ou ela não é nada. Isso se traduz em termos práticos em ações (que hoje chamam loosely de "performances", mais ou menos) artísticas que de alguma forma perturbam a ordem e o andar normal da cidade ou de dada situação a priori, por exemplo; uma obra que depende de um contexto maior do que o contexto apenas pessoal para acontecer, que precisa de uma situação para ser ativada, que precisa ativar agentes externos para daí extrair significado para si. Tipo, tipo assim, tipo....pensa em qualquer obra de arte que vocês não consideram arte e é isso mesmo.
Parece lugar-comum hoje, mas esse movimento acabou influenciando diretamente ou indiretamente grande parte das "revoluções" estílisticas que se refletem na arte contemporânea hoje....peraí....será? Todas as teorias francesas tendem a querer ser superiores às outras, oferecendo uma visão de mundo completa qual quer que seja a orientação. Não sei se sou situacionista, desconstrutivista, estruturalista ou fenomenológica. O fato é que essas intelectualidades francesas penetraram nos estados unidos e tornou-se quase dominante nos estudos culturais (arte, mídia, etc...) nas universidades, salvo alguns alemães que continuaram a majestade alemã nesse....etcetera, etcetera, etcetera.
Cansei de explicar. Rafael tinha razão, vcs devem estar batendo cabeça se leram até aqui...
Esse ensaiozinho sacaneta enchendo o saco dos situacionistas deve elucidar sobre a questão. Enfim um pouco de senso de humor nessas teorias.
How to talk like a Situationist
by Anonymous
1. Learn French. No self-respecting situationist would dream of not knowing it.
2. Always use the most obscure language possible. Get lots of big scholarly words from a dictionary and use them often.
Poor: "Things are bad."
Better: "The formative mechanism of culture amounts to a reification of human activities which fixates the living and models the transmission of experience from one generation to another on the transmission of commodities; a reification which strives to ensure the past's domination over the future."
3. In particular, the words "boredom" (as in "there's nothing they won't do to raise the standard of boredom"), "poverty" (of the university, of art), and "pleasure" are important tools in the young situationist's kit, and use of them will greatly enhance your standing in the situationist community.
4. Make frequent reference to seventy year-old art movements like Dada and Surrealism. Work the subject into your conversations as often as possible, however irrelevant.
5. Vehemently attack "The University" and "Art" whenever possible (phrases like "the scrap-heap of Art" or "the stench of Art" are particularly effective). Attend as prestigious a school as possible and make sure your circle of friends contains no less than 85% artists.
6. Cultivate a conceit and self-importance bordering on megalomania. Take credit for spontaneous uprisings in far-flung corners of the world, sneer at those who oppose or disagree with you.
7. Denounce and exclude people often. Keep your group very small and exclusive -- but take it for granted that every man, woman, and child in the Western Hemisphere is intimately familiar with your work, even if no more than ten people actually are.
8. Detournement: Cut a comic strip out of the paper (serious strips like 'Terry and the Pirates' and 'Mary Worth' are preferred), and change the dialogue. Use lots of situationist language. What fun!
9. Use Marxian reverse-talk. This is a sure-fire way of alerting people to the fact that you are a situationist or are eager to become one: "the irrationality of the spectacle spectacularises rationality," "separate production as production of the separate."
10. Invoke "the proletariat," factories, and other blue-collar imagery as often as possible, but do not under any circumstances asociate with or work with real proletarians. (Some acceptable situationist jobs are: student, professor, artist.)
11. By all means avoid such repugnant proletarian accoutrements as: novelty baseball hats, rock group T-shirts, 'Garfield' or 'Snoopy' posters (no matter how "political"), and vulgar American cigarettes like 'Kent' or 'Tareyton'.
Acertei.
Fora o Guy Debord também ter sido acometido pela onda de suicídio na intelectualidade francesa, como o Gilles Deleuze, (o Derrida conseguiu morrer antes de se suicidar, foi se desconstruindo aos poucos), achei a Sociedade do Espetáculo bem interessante. Prega a desordem e o anarquismo total. Importante no tempo em que atuavam, dos anos 60 até 72.
Como todo movimento de arte do século 20, pretendia destruir o status-quo da arte e inseri-la em um novo contexto. Segundo o grupo Situacionista a intenção era não criar quase nenhuma distinção entre arte e vida cotidiana. Eles diziam: ou a arte é revolucionária ou ela não é nada. Isso se traduz em termos práticos em ações (que hoje chamam loosely de "performances", mais ou menos) artísticas que de alguma forma perturbam a ordem e o andar normal da cidade ou de dada situação a priori, por exemplo; uma obra que depende de um contexto maior do que o contexto apenas pessoal para acontecer, que precisa de uma situação para ser ativada, que precisa ativar agentes externos para daí extrair significado para si. Tipo, tipo assim, tipo....pensa em qualquer obra de arte que vocês não consideram arte e é isso mesmo.
Parece lugar-comum hoje, mas esse movimento acabou influenciando diretamente ou indiretamente grande parte das "revoluções" estílisticas que se refletem na arte contemporânea hoje....peraí....será? Todas as teorias francesas tendem a querer ser superiores às outras, oferecendo uma visão de mundo completa qual quer que seja a orientação. Não sei se sou situacionista, desconstrutivista, estruturalista ou fenomenológica. O fato é que essas intelectualidades francesas penetraram nos estados unidos e tornou-se quase dominante nos estudos culturais (arte, mídia, etc...) nas universidades, salvo alguns alemães que continuaram a majestade alemã nesse....etcetera, etcetera, etcetera.
Cansei de explicar. Rafael tinha razão, vcs devem estar batendo cabeça se leram até aqui...
Esse ensaiozinho sacaneta enchendo o saco dos situacionistas deve elucidar sobre a questão. Enfim um pouco de senso de humor nessas teorias.
How to talk like a Situationist
by Anonymous
1. Learn French. No self-respecting situationist would dream of not knowing it.
2. Always use the most obscure language possible. Get lots of big scholarly words from a dictionary and use them often.
Poor: "Things are bad."
Better: "The formative mechanism of culture amounts to a reification of human activities which fixates the living and models the transmission of experience from one generation to another on the transmission of commodities; a reification which strives to ensure the past's domination over the future."
3. In particular, the words "boredom" (as in "there's nothing they won't do to raise the standard of boredom"), "poverty" (of the university, of art), and "pleasure" are important tools in the young situationist's kit, and use of them will greatly enhance your standing in the situationist community.
4. Make frequent reference to seventy year-old art movements like Dada and Surrealism. Work the subject into your conversations as often as possible, however irrelevant.
5. Vehemently attack "The University" and "Art" whenever possible (phrases like "the scrap-heap of Art" or "the stench of Art" are particularly effective). Attend as prestigious a school as possible and make sure your circle of friends contains no less than 85% artists.
6. Cultivate a conceit and self-importance bordering on megalomania. Take credit for spontaneous uprisings in far-flung corners of the world, sneer at those who oppose or disagree with you.
7. Denounce and exclude people often. Keep your group very small and exclusive -- but take it for granted that every man, woman, and child in the Western Hemisphere is intimately familiar with your work, even if no more than ten people actually are.
8. Detournement: Cut a comic strip out of the paper (serious strips like 'Terry and the Pirates' and 'Mary Worth' are preferred), and change the dialogue. Use lots of situationist language. What fun!
9. Use Marxian reverse-talk. This is a sure-fire way of alerting people to the fact that you are a situationist or are eager to become one: "the irrationality of the spectacle spectacularises rationality," "separate production as production of the separate."
10. Invoke "the proletariat," factories, and other blue-collar imagery as often as possible, but do not under any circumstances asociate with or work with real proletarians. (Some acceptable situationist jobs are: student, professor, artist.)
11. By all means avoid such repugnant proletarian accoutrements as: novelty baseball hats, rock group T-shirts, 'Garfield' or 'Snoopy' posters (no matter how "political"), and vulgar American cigarettes like 'Kent' or 'Tareyton'.
A arte dos blogs
Todo dia navego essa internet inteira atrás de novos projetos e novas fontes de informação e principalmente atrás de imagens que posso roubar. Quem me conhece sabe que sou ladra de imagens de carteirinha. Na maior parte do tempo caio em blogs de artistas ou meta-blogs que procuram juntar esse povo todo que usa o blog como obra de arte, ou como cano de escape para poesias reprimidas. De qualquer maneira, a noção de blog como forma de arte já está começando a se sedimentar de forma que tornou-se fundamental a criação desses blogs que abrigam links para os blogs-arte, e que no fundo, são uma obra de arte em si.
Blog Art
Este está meio parado por enquanto, mas os arquivos valem a pena.
O ¿Blog? project acts (is envisioned to act) as a platform for an open discussion on the topic and as a pool for submitting works. No-org.net invites submissions of art projects making use of blog as a tool, subject, or both as well as texts investigating the blog-art interplay in a broad sense.
Blog Art
Este está meio parado por enquanto, mas os arquivos valem a pena.
O ¿Blog? project acts (is envisioned to act) as a platform for an open discussion on the topic and as a pool for submitting works. No-org.net invites submissions of art projects making use of blog as a tool, subject, or both as well as texts investigating the blog-art interplay in a broad sense.
21.8.05
ø
Meu querido Rafael Galvão,
Sabendo que você é apenas um paraíba (sic.), gostaria de comentar sobre a minha passagem no seu Diário do Rio, aliás, post longo e demasiado interessante, que eu, como mera descendente de holandeses( a despeito de meus tamancos), tive o prazer de ler, e encontrar o meu nomezinho lá, além de poder refrescar a memória de uma noite realmente inesquecível com fellow blogueiros que leio frequentemente.
Eu sei que o Rafael é um rapaz modesto porém ferino nas palavras ainda que adocicado por um melodioso falar matogrossense. Tive o imenso prazer de sentar ao seu lado no Amarelinho, reduto áureo da boemia do centro carioca e lugar definitivo dos encontros bloguísticos cariocas. Mas não sei se é porque blogueiro passa muito tempo no computador, mas eu nunca vi tanto homem, assim dizendo em bom norueguês...nø øssø. Eu sei que não existe uma lapona em cada esquina do Rio de Janeiro, muito menos em Maceió onde vive o nosso ilustre blogueiro supra-mencionado linhas acima, mas juro que fiquei impressionada, como toda boa filha de belgas ficaria...
Citando o post do nosso amigo piauiense em itálico e costurando no meio de suas distintas palavras:
Enquanto eu olhava para a língua tripartida do Bia,
...aliás, süper sexy....
a Isabel apareceu.
essa sou eu!
A Isabel tem cara de sueca mandona.
Até aí, gostei. Enquanto a Carol empunhava aquele chicotinho no Amarelinho, eu a observava e pensava -- será que ela sabe usar isso tão bem quanto eu? Até porque ninguém sabe que me chamam por aí de Loba Má.
Como para mim sueca e alemã é a mesma coisa,
...e para mim baiano, sergipano, e boliviano é tudo paraíba sem pescoço e inguenorante,
a Isabel tem cara de guarda feminina de campo de concentração nazista.
e você queria ter sido um judeuzinho sob minha tutela, não é, malvadinho?
Meu tipo, minha tara inconfessável.
Coisa de quem leu muita revistinha pornô sueca na adolescência. Quantas vezes eu já tive que ouvir isso e aguentar pelo menos 5 minutos de conversa com o cara olhando pra mim meio babando e fazendo flashback mental das fotos pornôs na cabeça, achando que toda sueca é ninfomaníaca. A cantada que geralmente segue dá pena e nem vale a pena comentar. Sem falar no comentário-clichê-de-quem-não-tem-nada-mais-o-que-dizer: "tem muito suicídio na suécia, né?". seguida da típica pergunta: "como é a vida em genebra?" É como se eu tivesse perguntado se a capital do brasil era buenos aires, se os macacos de estimação brasileiros sentam-se à mesa com os donos, e que horror viver em um país em que crianças são chacinadas todos os dias nas praias de ipanema.
Mas ela é artista, e todo artista fala umas coisas esquisitas e sempre mete Derrida no meio
Derri-who?
, e eu não entendi lhufas do que ela falou.
até que eu me lembre era português o idioma da conversa. não é isso que falam lá na sua cidade natal de Palmas?
Ela falava e eu fazia "hum-hum" e tentava passar uma imagem de inteligente: a gente faz uma cara de quem não está entendendo porra nenhuma e balança a cabeça, assim como se tivesse Parkinson. Não colou.
Eu achei mesmo que você tinha um tique estranho, rapaz. Agora entendi!
Tenho que ensaiar mais.
Tenta abrir um blog. Talvez funcione.
Perdi duas horas dando em cima dela. Passava a mão na sua coxa e ela me dava um toco. Passava a mão no seu braço e ela virava a mão no meu nariz. Passava a mão nos seus cabelos e ela derramava um copo de chope em cima de mim. Ainda não tenho certeza, mas algo me diz que a Isabel não foi com a minha cara.
Francamente, depois de você me chamar de nazista, você acha que tem alguma chance?
Sabendo que você é apenas um paraíba (sic.), gostaria de comentar sobre a minha passagem no seu Diário do Rio, aliás, post longo e demasiado interessante, que eu, como mera descendente de holandeses( a despeito de meus tamancos), tive o prazer de ler, e encontrar o meu nomezinho lá, além de poder refrescar a memória de uma noite realmente inesquecível com fellow blogueiros que leio frequentemente.
Eu sei que o Rafael é um rapaz modesto porém ferino nas palavras ainda que adocicado por um melodioso falar matogrossense. Tive o imenso prazer de sentar ao seu lado no Amarelinho, reduto áureo da boemia do centro carioca e lugar definitivo dos encontros bloguísticos cariocas. Mas não sei se é porque blogueiro passa muito tempo no computador, mas eu nunca vi tanto homem, assim dizendo em bom norueguês...nø øssø. Eu sei que não existe uma lapona em cada esquina do Rio de Janeiro, muito menos em Maceió onde vive o nosso ilustre blogueiro supra-mencionado linhas acima, mas juro que fiquei impressionada, como toda boa filha de belgas ficaria...
Citando o post do nosso amigo piauiense em itálico e costurando no meio de suas distintas palavras:
Enquanto eu olhava para a língua tripartida do Bia,
...aliás, süper sexy....
a Isabel apareceu.
essa sou eu!
A Isabel tem cara de sueca mandona.
Até aí, gostei. Enquanto a Carol empunhava aquele chicotinho no Amarelinho, eu a observava e pensava -- será que ela sabe usar isso tão bem quanto eu? Até porque ninguém sabe que me chamam por aí de Loba Má.
Como para mim sueca e alemã é a mesma coisa,
...e para mim baiano, sergipano, e boliviano é tudo paraíba sem pescoço e inguenorante,
a Isabel tem cara de guarda feminina de campo de concentração nazista.
e você queria ter sido um judeuzinho sob minha tutela, não é, malvadinho?
Meu tipo, minha tara inconfessável.
Coisa de quem leu muita revistinha pornô sueca na adolescência. Quantas vezes eu já tive que ouvir isso e aguentar pelo menos 5 minutos de conversa com o cara olhando pra mim meio babando e fazendo flashback mental das fotos pornôs na cabeça, achando que toda sueca é ninfomaníaca. A cantada que geralmente segue dá pena e nem vale a pena comentar. Sem falar no comentário-clichê-de-quem-não-tem-nada-mais-o-que-dizer: "tem muito suicídio na suécia, né?". seguida da típica pergunta: "como é a vida em genebra?" É como se eu tivesse perguntado se a capital do brasil era buenos aires, se os macacos de estimação brasileiros sentam-se à mesa com os donos, e que horror viver em um país em que crianças são chacinadas todos os dias nas praias de ipanema.
Mas ela é artista, e todo artista fala umas coisas esquisitas e sempre mete Derrida no meio
Derri-who?
, e eu não entendi lhufas do que ela falou.
até que eu me lembre era português o idioma da conversa. não é isso que falam lá na sua cidade natal de Palmas?
Ela falava e eu fazia "hum-hum" e tentava passar uma imagem de inteligente: a gente faz uma cara de quem não está entendendo porra nenhuma e balança a cabeça, assim como se tivesse Parkinson. Não colou.
Eu achei mesmo que você tinha um tique estranho, rapaz. Agora entendi!
Tenho que ensaiar mais.
Tenta abrir um blog. Talvez funcione.
Perdi duas horas dando em cima dela. Passava a mão na sua coxa e ela me dava um toco. Passava a mão no seu braço e ela virava a mão no meu nariz. Passava a mão nos seus cabelos e ela derramava um copo de chope em cima de mim. Ainda não tenho certeza, mas algo me diz que a Isabel não foi com a minha cara.
Francamente, depois de você me chamar de nazista, você acha que tem alguma chance?
Excelente Artigo
Hoje, através do Alexandre Sá (quando eu achar o link do blog dele eu coloco [lindas poesias]), colega de mestrado na UFRJ, um artigo do Folha Mais! (não sou assinante do Uol, portanto não tenho link)
São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005
UM TEXTO SEM FIM
DA REDAÇÃO
A seguir, o professor do Museu Nacional explica como o projeto de um livro que já acumulava 600 páginas escritas se transformou num texto coletivo abrigado numa página da internet -num modelo de colaboração que, segundo ele, reflete melhor a criação acadêmica. "Toda produção intelectual é um processo em que se passa 95% do tempo falando a partir do que outros falaram."
Quem entra na página pode ler e, se quiser, modificar o texto livremente para, por sua vez, ter sua própria modificação também modificada, aceita ou rejeitada.
A obra de múltipla autoria funciona, ainda experimentalmente, há cerca de três meses -e conta com a colaboração de um grupo crescente de cientistas sociais- a partir do "texto-piloto", um dos capítulos do livro de autoria individual que se chamaria "A Onça e a Diferença".
Folha- Por quê transpor a obra para a internet?
Eduardo Viveiros de Castro - Já estou arrastando o rascunho desse livro desde quando publiquei o primeiro, em 2002. Comecei então a escrever a monografia sobre o perspectivismo, "A Onça e a Diferença", uma brincadeira com a aliteração sonora e com o conceito do [filósofo francês Jacques] Derrida "différance", que é difícil de traduzir e que já brinquei que, em tupinambá, seria "diferonça". Comecei a acumular anotações, notas e textos de conferências, citações e referências, criando um palimpsesto de 600 páginas, que eu não tinha coragem de arrumar e botar na rua. Foi quando tive a idéia de, em vez de publicar mais um livro solo, fazer um texto que refletisse melhor seu próprio regime de produção.
Toda produção intelectual, na verdade, é um processo em que se passa 95% do tempo falando a partir do que outros falaram, sejam os índios com quem conversamos, sejam colegas que escreveram. É uma situação borgeana em que se está sempre dentro de bibliotecas, escritas ou orais. Isso, na verdade, não aparece muito nos textos, por mais que o autor saiba disso. Os livros são autorados por uma única pessoa, têm começo e fim físicos, e fica por aí.
Quando comecei a acompanhar essas mudanças no regime de produção e de autoração e de apropriação intelectual usando os meios eletrônicos, comecei a divisar a possibilidade de que o regime coletivo que já existe fosse mais explicitado, num "livro" que fosse escrito por muitas pessoas ao mesmo tempo.
Uso uma dessas novas ferramentas, o "wiki", que é um tipo de website em que toda pessoa que acessa pode mudar o conteúdo do que lê e todas as outras pessoas que acessam podem ver essa modificação. Assim, não sou mais só eu que escrevo e não preciso colocar um ponto final. Todo livro tem como aspecto, por assim dizer, triste o fato de ser uma obra fechada, que uma vez publicada não pode incorporar a reação das pessoas.
Um texto eletrônico colaborativo está sempre sendo reeditado a partir das reações que ele suscita nas pessoas que vão entrando e que acabam assumindo um pouco da autoria também. Esse texto também é perspectivista, já que está interessado em como as diferentes perspectivas se conectam nesse processo de autoria múltipla. Decidi assim deixar o livro na geladeira por um tempo e iniciar um objeto em que minha participação é uma entre outras. Parafraseando a idéia indígena de que, se tudo é humano, então o ser humano não é tão especial assim, eu diria que então, se todos são autores, o autor não é tão especial assim. Especial é o texto.
Folha - As modificações ficam marcadas ou tudo se incorpora?
Viveiros de Castro - O princípio do "wiki" é de que é muito fácil modificar o que se lê, é fácil acrescentar textos mas também é muito fácil tirar. É fácil entrar e é fácil sair. É fácil também identificar quem mudou o quê, saber quem escreveu isso, aquilo. De alguma maneira as modificações são julgadas pelo resto da comunidade, essa multiplicidade virtual das pessoas que entram. Se as pessoas acham a modificação correta, ela vai ficando. Se elas acham ela inútil, ou nociva, vai ser retirada por alguém, que não precisa ser o administrador.
Folha - E quando isso começou?
Viveiros de Castro-Tem pouco tempo, dois ou três meses. As pessoas são tímidas -felizmente. São muito mais gentis e respeitadoras do texto alheio do que a gente imagina, mas aos poucos a coisa está embalando, e meu próprio aporte inicial vai se diluindo num palimpsesto de aportes, se tornando um texto de fato com multiplicidade autoral.
Folha - Dessas 600 páginas de seu aporte, quanto já entrou? Há um planejamento de como vai ser feita sua contribuição?
Viveiros de Castro - Tem pouca coisa. Por enquanto ainda tem muito a minha cara, por questões históricas, a maior parte dos textos que estão lá dentro fui eu que escrevi, mas cada vez tem mais gente participando e em algum momento indefinível vai ter virado um autor múltiplo.
Coloquei até agora um capítulo, de 30 a 40 páginas, daquele grande rascunho de 600. Minha idéia é ir inserindo pouco a pouco, mas sem me arriscar a prever uma velocidade, um ritmo.
São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005
UM TEXTO SEM FIM
DA REDAÇÃO
A seguir, o professor do Museu Nacional explica como o projeto de um livro que já acumulava 600 páginas escritas se transformou num texto coletivo abrigado numa página da internet -num modelo de colaboração que, segundo ele, reflete melhor a criação acadêmica. "Toda produção intelectual é um processo em que se passa 95% do tempo falando a partir do que outros falaram."
Quem entra na página pode ler e, se quiser, modificar o texto livremente para, por sua vez, ter sua própria modificação também modificada, aceita ou rejeitada.
A obra de múltipla autoria funciona, ainda experimentalmente, há cerca de três meses -e conta com a colaboração de um grupo crescente de cientistas sociais- a partir do "texto-piloto", um dos capítulos do livro de autoria individual que se chamaria "A Onça e a Diferença".
Folha- Por quê transpor a obra para a internet?
Eduardo Viveiros de Castro - Já estou arrastando o rascunho desse livro desde quando publiquei o primeiro, em 2002. Comecei então a escrever a monografia sobre o perspectivismo, "A Onça e a Diferença", uma brincadeira com a aliteração sonora e com o conceito do [filósofo francês Jacques] Derrida "différance", que é difícil de traduzir e que já brinquei que, em tupinambá, seria "diferonça". Comecei a acumular anotações, notas e textos de conferências, citações e referências, criando um palimpsesto de 600 páginas, que eu não tinha coragem de arrumar e botar na rua. Foi quando tive a idéia de, em vez de publicar mais um livro solo, fazer um texto que refletisse melhor seu próprio regime de produção.
Toda produção intelectual, na verdade, é um processo em que se passa 95% do tempo falando a partir do que outros falaram, sejam os índios com quem conversamos, sejam colegas que escreveram. É uma situação borgeana em que se está sempre dentro de bibliotecas, escritas ou orais. Isso, na verdade, não aparece muito nos textos, por mais que o autor saiba disso. Os livros são autorados por uma única pessoa, têm começo e fim físicos, e fica por aí.
Quando comecei a acompanhar essas mudanças no regime de produção e de autoração e de apropriação intelectual usando os meios eletrônicos, comecei a divisar a possibilidade de que o regime coletivo que já existe fosse mais explicitado, num "livro" que fosse escrito por muitas pessoas ao mesmo tempo.
Uso uma dessas novas ferramentas, o "wiki", que é um tipo de website em que toda pessoa que acessa pode mudar o conteúdo do que lê e todas as outras pessoas que acessam podem ver essa modificação. Assim, não sou mais só eu que escrevo e não preciso colocar um ponto final. Todo livro tem como aspecto, por assim dizer, triste o fato de ser uma obra fechada, que uma vez publicada não pode incorporar a reação das pessoas.
Um texto eletrônico colaborativo está sempre sendo reeditado a partir das reações que ele suscita nas pessoas que vão entrando e que acabam assumindo um pouco da autoria também. Esse texto também é perspectivista, já que está interessado em como as diferentes perspectivas se conectam nesse processo de autoria múltipla. Decidi assim deixar o livro na geladeira por um tempo e iniciar um objeto em que minha participação é uma entre outras. Parafraseando a idéia indígena de que, se tudo é humano, então o ser humano não é tão especial assim, eu diria que então, se todos são autores, o autor não é tão especial assim. Especial é o texto.
Folha - As modificações ficam marcadas ou tudo se incorpora?
Viveiros de Castro - O princípio do "wiki" é de que é muito fácil modificar o que se lê, é fácil acrescentar textos mas também é muito fácil tirar. É fácil entrar e é fácil sair. É fácil também identificar quem mudou o quê, saber quem escreveu isso, aquilo. De alguma maneira as modificações são julgadas pelo resto da comunidade, essa multiplicidade virtual das pessoas que entram. Se as pessoas acham a modificação correta, ela vai ficando. Se elas acham ela inútil, ou nociva, vai ser retirada por alguém, que não precisa ser o administrador.
Folha - E quando isso começou?
Viveiros de Castro-Tem pouco tempo, dois ou três meses. As pessoas são tímidas -felizmente. São muito mais gentis e respeitadoras do texto alheio do que a gente imagina, mas aos poucos a coisa está embalando, e meu próprio aporte inicial vai se diluindo num palimpsesto de aportes, se tornando um texto de fato com multiplicidade autoral.
Folha - Dessas 600 páginas de seu aporte, quanto já entrou? Há um planejamento de como vai ser feita sua contribuição?
Viveiros de Castro - Tem pouca coisa. Por enquanto ainda tem muito a minha cara, por questões históricas, a maior parte dos textos que estão lá dentro fui eu que escrevi, mas cada vez tem mais gente participando e em algum momento indefinível vai ter virado um autor múltiplo.
Coloquei até agora um capítulo, de 30 a 40 páginas, daquele grande rascunho de 600. Minha idéia é ir inserindo pouco a pouco, mas sem me arriscar a prever uma velocidade, um ritmo.
18.8.05
Wi-Fi Art
Assim que uma nova tecnologia se torna predominante, lá vem um monte de artistas com idéias malucas e blogs também.
O Wi-Fi Art Blog apresenta uma série de projetos bem interessantes que utilizam a conexão Wi-Fi como meio de executar projetos de arte.
Isto também nos faz repensar o que é uma obra de arte em uma época em que as tecnologias são tão rápidas e sofisticadas, e também uma época em que o número de artistas se multiplica na mesma velocidade, assim como os tipos de arte.
Já que não podemos escapar da informação, e nem mesmo podemos parar de produzir informação, a questão torna-se como usar essa informação algo de poético que possa ser tão revelador quanto a arte que estamos acostumados a designar como "arte".
É claro, existem zilhões de bobagens, mas as poucas boas idéias são fascinantes.
O Wi-Fi Art Blog apresenta uma série de projetos bem interessantes que utilizam a conexão Wi-Fi como meio de executar projetos de arte.
Isto também nos faz repensar o que é uma obra de arte em uma época em que as tecnologias são tão rápidas e sofisticadas, e também uma época em que o número de artistas se multiplica na mesma velocidade, assim como os tipos de arte.
Já que não podemos escapar da informação, e nem mesmo podemos parar de produzir informação, a questão torna-se como usar essa informação algo de poético que possa ser tão revelador quanto a arte que estamos acostumados a designar como "arte".
É claro, existem zilhões de bobagens, mas as poucas boas idéias são fascinantes.
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