Olha aí, a galeria já está anunciando a minha exposição: vejam aqui.
The gallery is already announcing my upcoming show: check it out.
31.3.04
Espaços do Tédio
No Village Voice, um artigo sobre um fotógrafo que retrata consultórios de psicanalistas, em exposição em NY. O autor do artigo diz que é um trabalho interessante pois nos dá uma visão de espaços que não são frequentados pela maioria das pessoas. Esses consultórios geralmente exibem objetos de arte e antiguidades, assim como Freud tinha dentro do seu consultório em Viena. Talvez esses objetos sirvam para evocar memórias e percepções sem que o paciente faça um grande esforço. Esses consultórios na verdade são espaços muito pessoais. A qualidade da foto em si parece de importância secundária.
Me chamou a atenção porque tenho uma série de trabalhos fotográficos chamada "Espaços do Tédio". São espaços urbanos impessoais e neutralizantes como salas de espera de consultório, repartições públicas, saguões de hotel, consultórios médicos e veterinários, foyer de universidades, estações de metrô, vagões de trem, museus, praças de alimentação de shopping, salas de reunião, etc. São espaços onde a ação é limitada apenas à espera, que é um convite ao tédio. O resultado final indica que seja um estudo tipológico dessa não-arquitetura que mesmo com elementos físicos recorrentes (iluminação fuorescente, carpetes cinzentos) dificilmente é uma tipologia interessante. Mas é atual. A maioria deles reside em meu fotolog.
Lendo os textos do meu amigo LLL sobre a Escola Urbana na literatura, aquela escola a que os romances de Chico Buarque pertencem com personagens urbanos e anônimos que vagam pelas cidades sem rumo definido e que vivem atormentados por um passado amorfo. Será que estaria eu fazendo uma "Escola Urbana" na arte contemporânea? Não seria esse mais um clichê, um maneirismo atual?
Me chamou a atenção porque tenho uma série de trabalhos fotográficos chamada "Espaços do Tédio". São espaços urbanos impessoais e neutralizantes como salas de espera de consultório, repartições públicas, saguões de hotel, consultórios médicos e veterinários, foyer de universidades, estações de metrô, vagões de trem, museus, praças de alimentação de shopping, salas de reunião, etc. São espaços onde a ação é limitada apenas à espera, que é um convite ao tédio. O resultado final indica que seja um estudo tipológico dessa não-arquitetura que mesmo com elementos físicos recorrentes (iluminação fuorescente, carpetes cinzentos) dificilmente é uma tipologia interessante. Mas é atual. A maioria deles reside em meu fotolog.
Lendo os textos do meu amigo LLL sobre a Escola Urbana na literatura, aquela escola a que os romances de Chico Buarque pertencem com personagens urbanos e anônimos que vagam pelas cidades sem rumo definido e que vivem atormentados por um passado amorfo. Será que estaria eu fazendo uma "Escola Urbana" na arte contemporânea? Não seria esse mais um clichê, um maneirismo atual?
30.3.04
O pós-contemporâneo
Lendo no Fotosite, artigo sobre Arthur Omar, um artista brasileiro multimídia, que define um pouco os novos rumos da arte comtemporânea:
"Não trabalho sobre a desconstrução da linguagem fotográfica, isso é muito "contemporâneo" e acho que estamos entrando numa era pós-contemporânea. O contemporâneo está muito ligado a uma desconstrução, negação, ausência.(...), hoje acho que vivemos um outro momento da tecnologia e das comunicações. Meu trabalho é uma tentativa de contribuir para a reconstrução do objeto e das significações. "
Nos últimos posts iniciei uma discussão sobre a morte na arte, mas acredito que não é mais a destruição ou a morte que a definem como um todo, ao contrário do que se tem visto por aí. As notícias no telejornal já dão conta da destruição e do excesso de realidade. Eu particularmente sou partidária de uma nova vertente "construtiva" na arte, pois acredito que assim a arte passa a ter mais amplitude para discutir novas questões para um novo entendimento de um mundo que muda muito rapidamente. Gosto particularmente do termo "pós-contemporâneo", pois nos liberta um pouco do conceitualismo e do minimalismo dos anos 60 e 70 que criou um vocabulário visual e uma visualidade muito forte até hoje. (Pra não dizer que Hélio Oiticica ainda vive entre nós artistas brasileiros como uma grande sombra irredutível).
Arthur Omar continua: "O figurativismo, o retrato, a paisagem, podem adquirir hoje um sentido radicalmente outro, principalmente quando certa estética contemporânea se torna um novo clichê."
Acho que a "certa estética contemporânea" a que Omar se refere é a dominação dessa vertente pós-minimal-conceitual que nos assombra. Tudo muito limpinho, sofisticado, bem emoldurado, o desenho é quase arquitetônico, pouca expressividade, muita poética pretensa e pouco conteúdo real, muito ilustrativa, e pouco interpretativa. Sinto falta de ver a mão do artista. Não falta verve, mas de certa forma é uma presença bastante quieta e cerebral. Pouco coração. Mas talvez esses sejam os tempos.
E isso só o tempo nos ajuda a entender.
"Não trabalho sobre a desconstrução da linguagem fotográfica, isso é muito "contemporâneo" e acho que estamos entrando numa era pós-contemporânea. O contemporâneo está muito ligado a uma desconstrução, negação, ausência.(...), hoje acho que vivemos um outro momento da tecnologia e das comunicações. Meu trabalho é uma tentativa de contribuir para a reconstrução do objeto e das significações. "
Nos últimos posts iniciei uma discussão sobre a morte na arte, mas acredito que não é mais a destruição ou a morte que a definem como um todo, ao contrário do que se tem visto por aí. As notícias no telejornal já dão conta da destruição e do excesso de realidade. Eu particularmente sou partidária de uma nova vertente "construtiva" na arte, pois acredito que assim a arte passa a ter mais amplitude para discutir novas questões para um novo entendimento de um mundo que muda muito rapidamente. Gosto particularmente do termo "pós-contemporâneo", pois nos liberta um pouco do conceitualismo e do minimalismo dos anos 60 e 70 que criou um vocabulário visual e uma visualidade muito forte até hoje. (Pra não dizer que Hélio Oiticica ainda vive entre nós artistas brasileiros como uma grande sombra irredutível).
Arthur Omar continua: "O figurativismo, o retrato, a paisagem, podem adquirir hoje um sentido radicalmente outro, principalmente quando certa estética contemporânea se torna um novo clichê."
Acho que a "certa estética contemporânea" a que Omar se refere é a dominação dessa vertente pós-minimal-conceitual que nos assombra. Tudo muito limpinho, sofisticado, bem emoldurado, o desenho é quase arquitetônico, pouca expressividade, muita poética pretensa e pouco conteúdo real, muito ilustrativa, e pouco interpretativa. Sinto falta de ver a mão do artista. Não falta verve, mas de certa forma é uma presença bastante quieta e cerebral. Pouco coração. Mas talvez esses sejam os tempos.
E isso só o tempo nos ajuda a entender.
29.3.04
Falando sobre a morte, fazem um elogio à vida
Veio bem a calhar o artigo sobre arte e morte no Caderno Mais da Folha de São Paulo. Fala sobre David Lynch (sim, ele é pintor também), Marc Quinn, Damien Hirst, Marina Saleme (brasileira), e Paul Mc Carthy.
Alguns usam ketchup, outros tinta, outros tentam se sufocar dentro de sacos pláticos, outros compram cadáveres de animais e botam em tanques de formol, e ainda outros congelam o próprio sangue em um molde com forma da própria cabeça exposto dentro de uma geladeira.
Falando sobre a morte, fazem um elogio à vida. E que elogios.
Alguns usam ketchup, outros tinta, outros tentam se sufocar dentro de sacos pláticos, outros compram cadáveres de animais e botam em tanques de formol, e ainda outros congelam o próprio sangue em um molde com forma da própria cabeça exposto dentro de uma geladeira.
Falando sobre a morte, fazem um elogio à vida. E que elogios.
26.3.04
O sentimento de morte na arte
Estou à espera da vida na arte. Dizem que a arte contemporânea é mais sensível à vida, mas o que impera é um desejo de morte. O corpo virtual prenuncia a morte do corpo enquanto lugar da experiência sensorial sem dar-nos uma alternativa igualmente rica em sensações. Isto remete a Kant e as suas idéias de que só temos a experiência do mundo porque temos um corpo para senti-lo, de modo que se existe o paladar é porque temos boca para senti-lo, e se vemos cor, é porque os olhos é que a percebem. O limiar entre a vida e a morte, entre o corpo e o não-corpo, entre o humano e o super-humano é muito mais vasto.
Do mais inovador que vejo hoje a arte mais ligada à vida (ou à morte)é a chamada bio-arte, ou arte genética, e até arte transgênica. Dos trabalhos mais famosos de Eduardo Kac, um artista brasileiro atuante no exterior, é o coelho verde. Não, não aplicou o Garnier Nutrisse Rubi 666 no bicho, ele fez um "inbreeding" mesmo e conseguiu um coelho com pelagem verde. Ele vai a fundo na questão do corpo e a possibilidade de transformá-lo, de não aceitar o "pacote original". Ao invés de ilustrar ou representar essas mudanças, ele vai fundo na questão laboratorial dessa arte e tem conseguido gerar debates interessantíssimos e controversos como resultado. Até onde ele pode ir, onde são as barreiras éticas de manipulação genética como obra de arte e experimento?
Tem outro maluco brincando de vida e morte por aí. É o médico Gunther von Hagen, que inventou uma técnica nova de embalsamar cadáveres chamada "plastinação". O genial está no fato dele expôr esses corpos plastinadas em exposições em museus. Ele monta esses cadáveres em posições que lembram grandes obras de arte, variando e Velàzquez a David, e outras coisas inventadas. E usa também cadáveres de gorilas plastinados, cavalos, e outros animais além de, claro, muita gente morta. É um espetáculo grotesco mostrado em museus onde o grande público-alvo são criancinhas. Alguns chamam ele de Mengele da morte, outros acham ele simplesmente um médico genial que decidiu tirar a sua "arte" do laboratório e oferecer as suas descobertas e brincadeiras num grande show macabro. Eu pago o ingresso para ir ver os corpos, e você?
Do mais inovador que vejo hoje a arte mais ligada à vida (ou à morte)é a chamada bio-arte, ou arte genética, e até arte transgênica. Dos trabalhos mais famosos de Eduardo Kac, um artista brasileiro atuante no exterior, é o coelho verde. Não, não aplicou o Garnier Nutrisse Rubi 666 no bicho, ele fez um "inbreeding" mesmo e conseguiu um coelho com pelagem verde. Ele vai a fundo na questão do corpo e a possibilidade de transformá-lo, de não aceitar o "pacote original". Ao invés de ilustrar ou representar essas mudanças, ele vai fundo na questão laboratorial dessa arte e tem conseguido gerar debates interessantíssimos e controversos como resultado. Até onde ele pode ir, onde são as barreiras éticas de manipulação genética como obra de arte e experimento?
Tem outro maluco brincando de vida e morte por aí. É o médico Gunther von Hagen, que inventou uma técnica nova de embalsamar cadáveres chamada "plastinação". O genial está no fato dele expôr esses corpos plastinadas em exposições em museus. Ele monta esses cadáveres em posições que lembram grandes obras de arte, variando e Velàzquez a David, e outras coisas inventadas. E usa também cadáveres de gorilas plastinados, cavalos, e outros animais além de, claro, muita gente morta. É um espetáculo grotesco mostrado em museus onde o grande público-alvo são criancinhas. Alguns chamam ele de Mengele da morte, outros acham ele simplesmente um médico genial que decidiu tirar a sua "arte" do laboratório e oferecer as suas descobertas e brincadeiras num grande show macabro. Eu pago o ingresso para ir ver os corpos, e você?
24.3.04
Arte contemporânea se faz em equipe
Embora a arte contemporânea seja inteiramente centrada no indivíduo sem fazer parte de vanguardas ou movimentos, os artistas jovens hoje estão se organizando massiçamente em grupos. No Rio de Janeiro temos o Grupo Rés-do-Chão, o Chelpa Ferro, o Imaginário Periférico, o Figura e hoje abre uma exposição do grupo Meio no Castelinho do Flamengo (Rio).
Esses grupos não se unem necessariamente por ideologia ou pela semelhança do trabalho dos seus integrantes. Alguns grupos apenas se unem para cada artista expor o seu trabalho individualmente dentro de uma coletiva do grupo, outros se unem para fazer performances, e outros ainda são grupos maleáveis como o Figura que tem uma proposta fixa, mas cujos integrantes mudam a cada mostra. Como participo de algins grupos, posso dizer que quanto mais gente com trabalho bom, fica mais fácil realizar uma exposição ou performance em determinado lugar, por uma razão bem prática: os custos são todos divididos, e cada artista se beneficia do público do outro. No fim, todo mundo sai ganhando.
Alguns grupos conseguem atingir um patamar ideológico forte como o Rés-do-Chão, que já até foi convidado para "performar" em Nova Iorque, e têm um mentor à sua frente decidindo o direcionamento dos trabalhos e decidindo quem participa ou não. Mas a maioria dos grupos é des-centrado, ou seja, não tem um ou outro artista que determina a direção dos trabalhos pois isso fica a cargo de cada artista. O grupo decide sim onde vai mostrar e como vai agir.
Outro aspecto importante é que um grupo é mais eficiente ao abrir novos horizontes para tipos de mostras diferentes. Não necessariamente o artista tem que expôr em um lugar convencionado para receber arte como uma galeria ou um museu. Não necessariamente a carreira de um artista depende somente da venda de seu trabalho, pois o que realmente valoriza o trabalho é a atitude do artista em relação à arte, do que propriamente o seu trabalho ali, congelado dentro de uma sala branca. Para aqueles que só importam em fazer de sua arte apenas uma mercadoria, é menos mico ser funcionário público.
Esses grupos não se unem necessariamente por ideologia ou pela semelhança do trabalho dos seus integrantes. Alguns grupos apenas se unem para cada artista expor o seu trabalho individualmente dentro de uma coletiva do grupo, outros se unem para fazer performances, e outros ainda são grupos maleáveis como o Figura que tem uma proposta fixa, mas cujos integrantes mudam a cada mostra. Como participo de algins grupos, posso dizer que quanto mais gente com trabalho bom, fica mais fácil realizar uma exposição ou performance em determinado lugar, por uma razão bem prática: os custos são todos divididos, e cada artista se beneficia do público do outro. No fim, todo mundo sai ganhando.
Alguns grupos conseguem atingir um patamar ideológico forte como o Rés-do-Chão, que já até foi convidado para "performar" em Nova Iorque, e têm um mentor à sua frente decidindo o direcionamento dos trabalhos e decidindo quem participa ou não. Mas a maioria dos grupos é des-centrado, ou seja, não tem um ou outro artista que determina a direção dos trabalhos pois isso fica a cargo de cada artista. O grupo decide sim onde vai mostrar e como vai agir.
Outro aspecto importante é que um grupo é mais eficiente ao abrir novos horizontes para tipos de mostras diferentes. Não necessariamente o artista tem que expôr em um lugar convencionado para receber arte como uma galeria ou um museu. Não necessariamente a carreira de um artista depende somente da venda de seu trabalho, pois o que realmente valoriza o trabalho é a atitude do artista em relação à arte, do que propriamente o seu trabalho ali, congelado dentro de uma sala branca. Para aqueles que só importam em fazer de sua arte apenas uma mercadoria, é menos mico ser funcionário público.
22.3.04
18.3.04
15.3.04
12.3.04
A poesia polifônica do terror
"A comunicação por telefone celular tornou-se quase impossível entre 9h e o meio-dia devido à enorme quantidade de pessoas que buscavam contato com parentes ou amigos que utilizavam as linhas férreas atingidas. Membros das equipes de socorro contaram, impressionados, que celulares de várias vítimas tocaram quando seus corpos eram removidos para um necrotério improvisado num pavilhão de exposições."
Imagem horripilante.
Se o celular é um instrumento que uma hora pode salvar a vida de alguém, em outro momento pode também ser o anúncio de uma morte premeditada. Aquela musiquinha polifônica e alegre se torna um elo entre os mortos e os vivos.
Essa imagem é de uma poesia mórbida e incrível, mesmo em meio ao terror. E notem a ironia entre esse necrotério improvisado ser dentro de um pavilhão de "exposições", transformando toda a cena em obra de arte acidental.
Esse tipo de evento cataclísmico na nossa civilização vive muito além do nosso imaginário. É um tipo de realismo que somos incapazes de imaginar, e impossível de recriar com a mesma magnitude. O máximo que conseguimos imaginar são simulações do evento, do fato, alimentado pelas imagens no telejornal. Os efeitos especiais de "Nova Iorque Sitiada" ou do "Inferno da Torre" são simulações infantis comparados às cenas verídicas do WTC, por exemplo. Acredito que não temos estrutura mental suficiente para entender um evento deste tipo, não entendemos a bomba de Hiroshima, não entendemos WTC, e não entendemos Madrid. POrtanto não conseguimos reproduzir esta intensidade na nossa arte.
Se formos olhar a arte da guerra, podemos dizer que Pollock explodiu nos seus quadros junto com a bomba H. Mas na arte contemporânea não existiu um fenômeno, a cabeça de um gênio que conseguiu traduzir a angústia dos nossos tempos e trazê-la ao nosso entendimento.
Esta obra de arte acidental, ironia do destino, conseguiu.
THE POLIPHONIC POETRY OF TERROR
In the Brazilian news today, on the Madrid bombings:
"Cell phone communication became almost impossible between 9 a.m. and noon on Thursday due to large number of people trying to contact their relatives or friends who were possibly in the trains struck by the bombings. Members of the Rescue team told, in awe, that cell phones owned by several victims rang while their bodies were being removed to a makeshift morgue in the city's sprawling exposition center".
What a horrific image.
If at one moment a cell phone could be an instrument to save somebody's life, at another moment its ringing can be the announcement of a premeditated death. Those happy polyphonic ring tones suddenly become a link between the living and the dead. Their last breath.
This image is one of morbid and incredible poetry in the midst of terror and rubble. Note the irony of the makeshift morgue being made inside an "exposition center" making the whole scene become an accidental art exhibit.
Thihs kind of cataclysmic event in our civilization is well beyond the power of imagination. It's a kind of realism that we cannot fathom and much less recreate with the magnitude of effect. The most we can do, with our limitations is to simulate situations and imagine what the bombings were like with the help of the TV shots. Special effects such as in "NY under siege" and "Tower Inferno" are childish musings on reality if compared to the live WTC images. I don't think we have the necessary mental structure to understand the H bomb, WTC, or Madrid. Therefore, it is impossible to interpret these events and translate them into art, so as to help comprehend these events. Whatever is created will always de less than reality.
If we look at the art of war, we can say that Pollock exploded in his paintings along with the Hiroshima bombings. But in contemporary I cannot think of a phenomenon, or a genius, who was able to translate the anguish and grievances of contemporary time so that we may bring these events to a level of comprehension.
This accidental and deathly installation, with the cell phones ringing from inside the body bags, is the first such "arrangement" that tells it all. By destiny or irony. Or both.
Imagem horripilante.
Se o celular é um instrumento que uma hora pode salvar a vida de alguém, em outro momento pode também ser o anúncio de uma morte premeditada. Aquela musiquinha polifônica e alegre se torna um elo entre os mortos e os vivos.
Essa imagem é de uma poesia mórbida e incrível, mesmo em meio ao terror. E notem a ironia entre esse necrotério improvisado ser dentro de um pavilhão de "exposições", transformando toda a cena em obra de arte acidental.
Esse tipo de evento cataclísmico na nossa civilização vive muito além do nosso imaginário. É um tipo de realismo que somos incapazes de imaginar, e impossível de recriar com a mesma magnitude. O máximo que conseguimos imaginar são simulações do evento, do fato, alimentado pelas imagens no telejornal. Os efeitos especiais de "Nova Iorque Sitiada" ou do "Inferno da Torre" são simulações infantis comparados às cenas verídicas do WTC, por exemplo. Acredito que não temos estrutura mental suficiente para entender um evento deste tipo, não entendemos a bomba de Hiroshima, não entendemos WTC, e não entendemos Madrid. POrtanto não conseguimos reproduzir esta intensidade na nossa arte.
Se formos olhar a arte da guerra, podemos dizer que Pollock explodiu nos seus quadros junto com a bomba H. Mas na arte contemporânea não existiu um fenômeno, a cabeça de um gênio que conseguiu traduzir a angústia dos nossos tempos e trazê-la ao nosso entendimento.
Esta obra de arte acidental, ironia do destino, conseguiu.
THE POLIPHONIC POETRY OF TERROR
In the Brazilian news today, on the Madrid bombings:
"Cell phone communication became almost impossible between 9 a.m. and noon on Thursday due to large number of people trying to contact their relatives or friends who were possibly in the trains struck by the bombings. Members of the Rescue team told, in awe, that cell phones owned by several victims rang while their bodies were being removed to a makeshift morgue in the city's sprawling exposition center".
What a horrific image.
If at one moment a cell phone could be an instrument to save somebody's life, at another moment its ringing can be the announcement of a premeditated death. Those happy polyphonic ring tones suddenly become a link between the living and the dead. Their last breath.
This image is one of morbid and incredible poetry in the midst of terror and rubble. Note the irony of the makeshift morgue being made inside an "exposition center" making the whole scene become an accidental art exhibit.
Thihs kind of cataclysmic event in our civilization is well beyond the power of imagination. It's a kind of realism that we cannot fathom and much less recreate with the magnitude of effect. The most we can do, with our limitations is to simulate situations and imagine what the bombings were like with the help of the TV shots. Special effects such as in "NY under siege" and "Tower Inferno" are childish musings on reality if compared to the live WTC images. I don't think we have the necessary mental structure to understand the H bomb, WTC, or Madrid. Therefore, it is impossible to interpret these events and translate them into art, so as to help comprehend these events. Whatever is created will always de less than reality.
If we look at the art of war, we can say that Pollock exploded in his paintings along with the Hiroshima bombings. But in contemporary I cannot think of a phenomenon, or a genius, who was able to translate the anguish and grievances of contemporary time so that we may bring these events to a level of comprehension.
This accidental and deathly installation, with the cell phones ringing from inside the body bags, is the first such "arrangement" that tells it all. By destiny or irony. Or both.
11 is always a bad day...
Página de caderno feita em 11/09 de 2001...lembrando a tragédia de ontem.
Sketchbook page from Sep. 11 2001...reminds of yesterday's tragedy.
Sketchbook page from Sep. 11 2001...reminds of yesterday's tragedy.
10.3.04
9.3.04
8.3.04
5.3.04
Sketchbooks impressionantes
Vejam os sketchbooks do Quinta-Feira. São impressionantes. E o site também dá show.
Amazing Sketchbooks
Check out these sketchbooks by Quinta-Feira. They're worth every page, and the site is cool too.
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4.3.04
Como olhar uma exposição de arte
Há tempos não vou a uma exposição de arte contemporânea e saio com uma impressão positivado que está sendo feito nas artes nos dias de hoje. A exposição no MAM do Rio de Janeiro, que mostra as obras recentemente adquiridas pela coleção Gilberto Chateaubriand me proporcionou isso. E fiquei feliz.
A minha tendência é sempre atacar as obras com o meu cinismo e incredulidade. Mas isso acontece porque as vezes não me dou a chance para realmente ver um trabalho como ele é, mas como ele seria segundo as minhas pré-concepções. Esse é um exercício que recomendo a todos, de distanciar a sua não-crença.
Com a minha não-crença suspensa momentaneamente, passeei pelas galerias do MAM por mais ou menos 2 horas, realmente tomando o tempo de olhar cada trabalho. Antes de começar estabeleci duas condições: só ia ler a legenda da obra somente se realmente gostasse do trabalho, e ia me permitir "entrar na onda" do artista o máximo possível e assim olhar todos os trabalhos com plena atenção.
Isso porque tenho mania de ler a legenda antes de ver a obra, o que faz parecer que o nome ou renome do artista seja mais importante para mim do que a obra em si. Isso me poupa pensamentos do tipo, "só é bom porque foi fulano que fez", ou, "é uma merda porque tudo o que o cara faz é uma merda". Se leio a legenda depois de ver a obra, fico grata de conhecer um novo artista que nunca ouvi falar, ou de confirmar a reputação de um outro mais conhecido. Quando se trata de uma artista que eu já conheça, posso enfim traçar um paralelo entre outras obras do cara e assim entender um pouco mais sobre a trajetória do artista. E isso me faz discorrer sobre a evolução de uma obra, da evolução do processo criativo de um artista, e acho isso precioso.
A segunda condição é algo em que acredito e procuro exercer porque no dia em que uma obra minha for parar num museu, gostaria que as pessoas dedicassem a mesma dose de respeito à minha obra que eu dedico à dos outros. E assim, também, afasto a minha irrelevante opinião e começo a acionar um tipo de pensamento crítico mais afastado, menos poluído pelas minhas crenças, e mais embasado nos fatos da própria obra. Isto é uma maneira de não projetar na obra as minhas idéias e memórias ultra-pessoais, de não projetar em cima da obra a minha formação artística. Sim, é uma forma de olhar arte de forma mais técnica, mas como sou artista também, faço questão de não ter o olhar de um mero espectador, quero olhar a obra além do valor de uso da obra e vê-la num contexto mais amplo. Mas isto não impede que eu não me surpreenda de primeira. O primeiro olhar é sempre o mais fresco, e a primeira impressão ou o fator surpresa, como dizia Clement Greenberg, é o que aciona o olhar para as camadas de significado mais profundas de um determinado trabalho.
Postas em prática, perambulei pelos trabalhos com um prazer imenso, porque me permiti gostar de quase tudo. Eh claro que um distanciamento crítico me fez ver algumas coisas ruins, como por exemplo, alguns desenhos que são mais representativos do que interpretativos, ou alguns trabalhos de fotografia que achei insossos e gratuitos, do tipo que até minha avozinha saberia fazer melhor.
HOW TO LOOK AT AN ART EXHIBIT
It's been a while since I've been to a contemporary art exhibit and left with a positive impression of the work currently being done in Brazil. The exhibit in the Museu de Arte Moderna in RIo de Janeiro on the recent acquisitions made by the Gilberto Chateaubriand collection gave me that feeling. And that made me happy.
My tendency is to always attack works of art with my cynicism and disbelief. But that usually happens when I don't give a given work a single chance to really look at it, or better, to see it as it should be seen. This is an exercise I recommend to all, to suspend your disbelief.
With my disbelief in temporary suspension, I let myself go during the 2 hours that I spent perusing the gallery, taking all the time in the world to look at each work. Before I began I set 2 conditions: I was only going to read the captions of I really enjoyed the work, and if I really enjoyed the work I was going to let the artist guide my experience and thus pay attention to every detail presented to me.
That's because I usually read the captions before I look at a work of art, and that awful habit influences how that particular work affects me. Not reading captions spares a lot of thoughts like "this is good because Joe Shmo did it", or "this sucks because I hate this artist." If I read the caption after seeing the work, I give myself the chance to be surprised to meet a new artist previously unheard of, or glad to see that another artists is doing really good work. When I already know that artist's work, I can then begin to trace a trajectory and compare it with other works by the same artist. And that makes think about the different strategies different artists are taking, how his/her creative process evolves, and I think that's precious.
The second condition, suspending my disbelief, is something that I try to practice to the utmost, because I wish that, when my own work makes it to the museum, that people will be as generous to my work, as I to theirs. And thus, I also put away my irrelevant opinion and begin to activate some critical thinking away from the muddle of my thoughts, and based on the facts presented by a given work. This is a way of putting aside my own projections and personal memories, and not try to change the work as if I were the author. Yes, it's a more technical and objective way of looking at art, but since I am an artist, and just a common spectator, I need to look at art beyond its use value and see it in a wider context. But this doesn't mean that I can't be surprised or be thrilled by a work of art. The first look is usually the freshest, and the "surprise factor", which Clement Greenberg talks a lot about, is what activates the eye and the mind to look into the additional layers of meaning in an artwork.
Letting my eye de naturally drawn and suspending my disbelief made me look at the show with great pleasure, as it made me enjoy almost every work of art there. Of course, some critical distance made me notice some drawings which were more representational than necessary, and I couldn't help noticing that some photography work was pretty pathetic, of the kind that even my blind 90-year old granny could have done better.
A minha tendência é sempre atacar as obras com o meu cinismo e incredulidade. Mas isso acontece porque as vezes não me dou a chance para realmente ver um trabalho como ele é, mas como ele seria segundo as minhas pré-concepções. Esse é um exercício que recomendo a todos, de distanciar a sua não-crença.
Com a minha não-crença suspensa momentaneamente, passeei pelas galerias do MAM por mais ou menos 2 horas, realmente tomando o tempo de olhar cada trabalho. Antes de começar estabeleci duas condições: só ia ler a legenda da obra somente se realmente gostasse do trabalho, e ia me permitir "entrar na onda" do artista o máximo possível e assim olhar todos os trabalhos com plena atenção.
Isso porque tenho mania de ler a legenda antes de ver a obra, o que faz parecer que o nome ou renome do artista seja mais importante para mim do que a obra em si. Isso me poupa pensamentos do tipo, "só é bom porque foi fulano que fez", ou, "é uma merda porque tudo o que o cara faz é uma merda". Se leio a legenda depois de ver a obra, fico grata de conhecer um novo artista que nunca ouvi falar, ou de confirmar a reputação de um outro mais conhecido. Quando se trata de uma artista que eu já conheça, posso enfim traçar um paralelo entre outras obras do cara e assim entender um pouco mais sobre a trajetória do artista. E isso me faz discorrer sobre a evolução de uma obra, da evolução do processo criativo de um artista, e acho isso precioso.
A segunda condição é algo em que acredito e procuro exercer porque no dia em que uma obra minha for parar num museu, gostaria que as pessoas dedicassem a mesma dose de respeito à minha obra que eu dedico à dos outros. E assim, também, afasto a minha irrelevante opinião e começo a acionar um tipo de pensamento crítico mais afastado, menos poluído pelas minhas crenças, e mais embasado nos fatos da própria obra. Isto é uma maneira de não projetar na obra as minhas idéias e memórias ultra-pessoais, de não projetar em cima da obra a minha formação artística. Sim, é uma forma de olhar arte de forma mais técnica, mas como sou artista também, faço questão de não ter o olhar de um mero espectador, quero olhar a obra além do valor de uso da obra e vê-la num contexto mais amplo. Mas isto não impede que eu não me surpreenda de primeira. O primeiro olhar é sempre o mais fresco, e a primeira impressão ou o fator surpresa, como dizia Clement Greenberg, é o que aciona o olhar para as camadas de significado mais profundas de um determinado trabalho.
Postas em prática, perambulei pelos trabalhos com um prazer imenso, porque me permiti gostar de quase tudo. Eh claro que um distanciamento crítico me fez ver algumas coisas ruins, como por exemplo, alguns desenhos que são mais representativos do que interpretativos, ou alguns trabalhos de fotografia que achei insossos e gratuitos, do tipo que até minha avozinha saberia fazer melhor.
HOW TO LOOK AT AN ART EXHIBIT
It's been a while since I've been to a contemporary art exhibit and left with a positive impression of the work currently being done in Brazil. The exhibit in the Museu de Arte Moderna in RIo de Janeiro on the recent acquisitions made by the Gilberto Chateaubriand collection gave me that feeling. And that made me happy.
My tendency is to always attack works of art with my cynicism and disbelief. But that usually happens when I don't give a given work a single chance to really look at it, or better, to see it as it should be seen. This is an exercise I recommend to all, to suspend your disbelief.
With my disbelief in temporary suspension, I let myself go during the 2 hours that I spent perusing the gallery, taking all the time in the world to look at each work. Before I began I set 2 conditions: I was only going to read the captions of I really enjoyed the work, and if I really enjoyed the work I was going to let the artist guide my experience and thus pay attention to every detail presented to me.
That's because I usually read the captions before I look at a work of art, and that awful habit influences how that particular work affects me. Not reading captions spares a lot of thoughts like "this is good because Joe Shmo did it", or "this sucks because I hate this artist." If I read the caption after seeing the work, I give myself the chance to be surprised to meet a new artist previously unheard of, or glad to see that another artists is doing really good work. When I already know that artist's work, I can then begin to trace a trajectory and compare it with other works by the same artist. And that makes think about the different strategies different artists are taking, how his/her creative process evolves, and I think that's precious.
The second condition, suspending my disbelief, is something that I try to practice to the utmost, because I wish that, when my own work makes it to the museum, that people will be as generous to my work, as I to theirs. And thus, I also put away my irrelevant opinion and begin to activate some critical thinking away from the muddle of my thoughts, and based on the facts presented by a given work. This is a way of putting aside my own projections and personal memories, and not try to change the work as if I were the author. Yes, it's a more technical and objective way of looking at art, but since I am an artist, and just a common spectator, I need to look at art beyond its use value and see it in a wider context. But this doesn't mean that I can't be surprised or be thrilled by a work of art. The first look is usually the freshest, and the "surprise factor", which Clement Greenberg talks a lot about, is what activates the eye and the mind to look into the additional layers of meaning in an artwork.
Letting my eye de naturally drawn and suspending my disbelief made me look at the show with great pleasure, as it made me enjoy almost every work of art there. Of course, some critical distance made me notice some drawings which were more representational than necessary, and I couldn't help noticing that some photography work was pretty pathetic, of the kind that even my blind 90-year old granny could have done better.
3.3.04
O Messias que nunca virá
Há anúncios constantes da chegada iminente do Messias, e você sabe perfeitamente que ele não virá.
Ainda assim, a cada vez, é bom ouvir anunciar a sua chegada...
The Messiah that will never come
There are constant announcements of the arrival of the Messiah, but you know pretty damn well he will never show up. Yet, at each time, it's great to hear the announcements about his arrival...
2.3.04
Sketchbook Freak
Trabalho como assistente de um pintor carioca muito bom, o Carlos Zilio. O meu trabalho é escanear todas as pinturas e desenhos do arquivo dele, e já devo ter escaneado e tratado mais de 1000 imagens dele no último ano. Com isso aprendo o que significa realmente "construir" uma carreira na arte, como desenvolver um trabalho tanto no sentido plástico tanto quanto no sentido teórico e histórico. Porque a arte faz parte da história do pensamento, e é desta forma que a arte se torna imortal, sobrevivendo às civilizações e às guerras. É por isso que arte não é artesanato, nem vice-versa. A arte é uma grande responsabilidade. São estes vestígios que nos fazem compreender como o homem viveu deste o início dos tempos, e como ele viverá no futuro. Acredito que a arte tenha poder visionário.
Sou tarada por sketchbooks. Um quadro de Velázquez pode ser a experiência mais impressionante, mas me interessa mais ver o rascunho do Las Meninas, pois quero ver e sentir aquele lápis escorregando sobre o papel como se fosse uma extensão da mente. Outro dia, o Zilio me mostrou os sketchbooks dele. Incrível. O pensamento dele se torna explícito, porque são rascunhos e rabiscos feitos sem nenhuma pretensão, com a maior honestidade. Sketchbooks geralmente não têm público, são para uso pessoal e secreto do artista. É o espaço onde o artista pode ser mais sincero, mais propenso a erros, e, portanto, mais humano. Junto com os sketchbooks descobri as correspondências dele com o Iberê Camargo. Tem coisa mais deliciosa do que ler a correspondência entre 2 grandes artistas? Me faz lembrar as cartas de Clarice Lispector a Lúcio Cardoso. Ela está ali, inteira, sem as amarras da composição, sem a edição e o polimento.
Eu vivo para isso.
I work as a studio assistant for a great Brazilian painter, Carlos Zilio. My job consists of scanning all his paintings and drawings and creating a "catalogue raisonné". Even though the work is quite banal, I am learning a lot about how to really build a career as an artist, how to developmy work from an aesthetic as well as a theoretical and historical standpoint. This is based on the belief that art belongs to the history of thinking and not merely the the history of pretty things. This is what makes art immortal and visionary.
I am crazy about sketchbooks, of any kind, size, from anywhere and anytime. A velázquez painting can be the most impressive experience in the world, but I am more taken by a rough sketch of Las Meninas done on a napkin. In a sketch i can feel the hand of the artist nervously sliding that charcoal on the page in such immediacy that I can touch the mind of the artist.
The other day Zilio showed his sketchbooks, which he completely overlooks. They're incredible. I can see how his mind works just by the scribbles -- they're so honest, so direct. Sketchbooks usually don't have the spectator in mind because they are not meant to be read or handled by none other than the artist himself. It's his tool, it's where he keeps his secrets, and his mistakes. Along with sketchbooks, there were letters exchanged between him and Iberê Camargo, a really famous painter in Brazil, already deceased. Is there anything more delicious than revel at every line written between 2 great artists?
This is what I live for.
(Snooping on other's notes.)
Sou tarada por sketchbooks. Um quadro de Velázquez pode ser a experiência mais impressionante, mas me interessa mais ver o rascunho do Las Meninas, pois quero ver e sentir aquele lápis escorregando sobre o papel como se fosse uma extensão da mente. Outro dia, o Zilio me mostrou os sketchbooks dele. Incrível. O pensamento dele se torna explícito, porque são rascunhos e rabiscos feitos sem nenhuma pretensão, com a maior honestidade. Sketchbooks geralmente não têm público, são para uso pessoal e secreto do artista. É o espaço onde o artista pode ser mais sincero, mais propenso a erros, e, portanto, mais humano. Junto com os sketchbooks descobri as correspondências dele com o Iberê Camargo. Tem coisa mais deliciosa do que ler a correspondência entre 2 grandes artistas? Me faz lembrar as cartas de Clarice Lispector a Lúcio Cardoso. Ela está ali, inteira, sem as amarras da composição, sem a edição e o polimento.
Eu vivo para isso.
I work as a studio assistant for a great Brazilian painter, Carlos Zilio. My job consists of scanning all his paintings and drawings and creating a "catalogue raisonné". Even though the work is quite banal, I am learning a lot about how to really build a career as an artist, how to developmy work from an aesthetic as well as a theoretical and historical standpoint. This is based on the belief that art belongs to the history of thinking and not merely the the history of pretty things. This is what makes art immortal and visionary.
I am crazy about sketchbooks, of any kind, size, from anywhere and anytime. A velázquez painting can be the most impressive experience in the world, but I am more taken by a rough sketch of Las Meninas done on a napkin. In a sketch i can feel the hand of the artist nervously sliding that charcoal on the page in such immediacy that I can touch the mind of the artist.
The other day Zilio showed his sketchbooks, which he completely overlooks. They're incredible. I can see how his mind works just by the scribbles -- they're so honest, so direct. Sketchbooks usually don't have the spectator in mind because they are not meant to be read or handled by none other than the artist himself. It's his tool, it's where he keeps his secrets, and his mistakes. Along with sketchbooks, there were letters exchanged between him and Iberê Camargo, a really famous painter in Brazil, already deceased. Is there anything more delicious than revel at every line written between 2 great artists?
This is what I live for.
(Snooping on other's notes.)
1.3.04
O dilema dos idiomas The language dilemma
Mesmo que a Internet seja universal e globalizada, sempre caio na armadilha da dúvida de que idioma usar. Se escrevo o blog somente em português, me limito aos usuários brasileiros e portugueses. Se escrevo somente em inglês, abro o leque para quase o mundo inteiro, mas talvez perca os usuários que não são fluentes em inglês, caso de muitos brasileiros.
E aí, o que fazer?
Even though the internet is universal and globalized, I always find myself in a trap of which language to use. If I write in Portuguese only, I will be limited to all Portuguese-speaking users in Brazil and Portugal. If I only use English, I have the attention of most users around the world, but may lose those Brazilian users not fluent in English.
So what do I do?
E aí, o que fazer?
Even though the internet is universal and globalized, I always find myself in a trap of which language to use. If I write in Portuguese only, I will be limited to all Portuguese-speaking users in Brazil and Portugal. If I only use English, I have the attention of most users around the world, but may lose those Brazilian users not fluent in English.
So what do I do?
A necessidade de escrever e falar, ou não.
Dei graças a deus quando descobri o Fotolog. Sendo uma artista visual, sempre me incomodou o fato do blog ser um meio em que as pessoas escrevem mais do que mostram, onde as idéias são descritas mais do que ilustradas. Abrir o meu fotolog, o Loba Má pois ali eu não preciso dizer nada, apenas postar as imagens que me interessam, ou que fabrico, na maior parte, e deixar rolar.
No Loba Má, posto geralmente projetos em andamento, como o Tedium Rooms, ou Espaços do Tédio, que são construções fotográficas de lugares impessoais e inóspitos da vida urbana, com o objetivo de fazer um levantamento da tipologia de espaços arquitetônicos como salas de reunião em escritórios pré-fabricados, salas de espera, portarias de prédios, praças de alimentação em shoppings, etc., que são espaços onde tipicamente o tempo fica parado, e o sentimento de tédio e paralisia no tempo é devastador.
Eu considero estes espaços a antítese do espírito criador, a antítese do que é sentir-se vivo. Por outro lado, são nessas pausas entre os acontecimentos da vida cotidiana e rotineira, que tenho tempo para desenhar no meu sketchbook, hábito e vício que venho cultivando como um ritual desde antes de entrar na faculdade de arte, há mais de 10 anos. Isso se deve ao fato de eu ser artista e sobreviver de outra ocupação que não a arte, pois como se sabe é dificílimo viver de arte como iniciante na profissão. É no espaço entre a minha vida pseudo-corporativa e a minha doce esquizofrenia que reside a inspiração.
Dizem muitas vezes que um artista deve se concentrar no que faz melhor e não se atrever a invadir o espaço em outras artes em que tem apenas um talento comum com o risco de quebrar a cara. Isso cai bem para Chico Buarque que é excelente poeta, mas péssimo romancista, Gilberto Gil que é excelente músico, mas político medíocre, e Caetano Veloso que é exímio compositor, mas de chorar na hora em que abre a boca para falar. Mas nem por isso deixam de fazer o que querem e de expandir seus horizontes, mesmo que a gente tenha que pagar caro por isso. O que me interessa profundamente é o processo criativo.
Mas isso não me desanima. Vou em frente. Escrevendo o que me dá vontade. Desenhando o que me dá vontade. Mas sempre com consciência do que estou fazendo, e para onde estou indo...
ON THE NEED OF WRITING, OR NOT
I was very happy to discover Fotolog. As a visual artist I was also bothered by the fact that blogging was something you did with words, not with images, where ideas are more descriptive than illustrated. So i opened my own fotolog, Loba Má, where I didn't need to say a thing, all I had to was post images. Brilliant!
At Loba Má (which means Bad Wolverine, but that's a long story), I usually post posto ongoing projects like the Tedium Rooms which are photographic constructions of impersonal places and spaces in cities, and one of the goals is to do a kind of inventory of the tedium typology inside any city in the world. Pre-fab offices, food plazas, waiting rooms are a few of the places that I've snapped during "tedium moments" which occur when there is nothing one can do but wait for something to happen. This is when time lies still and this is when we have to observe what's around. And whatever's around looks like a deserted landscape.
I consider these spaces the opposite of the creative spirit, the antithesis of what it feelsl like to be alive. On the other hand, it's during these pauses between events, in these commas in time that I have to time to sketch or think about my art, and that usually occurs when split personality needs to be at some meeting.
It's in the space between my pseudo-corporate life and my sweet schizophrenia where my inspiration resides.
No Loba Má, posto geralmente projetos em andamento, como o Tedium Rooms, ou Espaços do Tédio, que são construções fotográficas de lugares impessoais e inóspitos da vida urbana, com o objetivo de fazer um levantamento da tipologia de espaços arquitetônicos como salas de reunião em escritórios pré-fabricados, salas de espera, portarias de prédios, praças de alimentação em shoppings, etc., que são espaços onde tipicamente o tempo fica parado, e o sentimento de tédio e paralisia no tempo é devastador.
Eu considero estes espaços a antítese do espírito criador, a antítese do que é sentir-se vivo. Por outro lado, são nessas pausas entre os acontecimentos da vida cotidiana e rotineira, que tenho tempo para desenhar no meu sketchbook, hábito e vício que venho cultivando como um ritual desde antes de entrar na faculdade de arte, há mais de 10 anos. Isso se deve ao fato de eu ser artista e sobreviver de outra ocupação que não a arte, pois como se sabe é dificílimo viver de arte como iniciante na profissão. É no espaço entre a minha vida pseudo-corporativa e a minha doce esquizofrenia que reside a inspiração.
Dizem muitas vezes que um artista deve se concentrar no que faz melhor e não se atrever a invadir o espaço em outras artes em que tem apenas um talento comum com o risco de quebrar a cara. Isso cai bem para Chico Buarque que é excelente poeta, mas péssimo romancista, Gilberto Gil que é excelente músico, mas político medíocre, e Caetano Veloso que é exímio compositor, mas de chorar na hora em que abre a boca para falar. Mas nem por isso deixam de fazer o que querem e de expandir seus horizontes, mesmo que a gente tenha que pagar caro por isso. O que me interessa profundamente é o processo criativo.
Mas isso não me desanima. Vou em frente. Escrevendo o que me dá vontade. Desenhando o que me dá vontade. Mas sempre com consciência do que estou fazendo, e para onde estou indo...
ON THE NEED OF WRITING, OR NOT
I was very happy to discover Fotolog. As a visual artist I was also bothered by the fact that blogging was something you did with words, not with images, where ideas are more descriptive than illustrated. So i opened my own fotolog, Loba Má, where I didn't need to say a thing, all I had to was post images. Brilliant!
At Loba Má (which means Bad Wolverine, but that's a long story), I usually post posto ongoing projects like the Tedium Rooms which are photographic constructions of impersonal places and spaces in cities, and one of the goals is to do a kind of inventory of the tedium typology inside any city in the world. Pre-fab offices, food plazas, waiting rooms are a few of the places that I've snapped during "tedium moments" which occur when there is nothing one can do but wait for something to happen. This is when time lies still and this is when we have to observe what's around. And whatever's around looks like a deserted landscape.
I consider these spaces the opposite of the creative spirit, the antithesis of what it feelsl like to be alive. On the other hand, it's during these pauses between events, in these commas in time that I have to time to sketch or think about my art, and that usually occurs when split personality needs to be at some meeting.
It's in the space between my pseudo-corporate life and my sweet schizophrenia where my inspiration resides.
The Book of Hours
Na Idade Média, as senhoras nobres mantinham pequenos diários de preces chamados de Livros de Horas. Nas cortes reais, estes pequenos livros eram feitos de iluminuras incríveis, com cenas da vida comum, das estações, ou das cenas da Paixão.
Há 10 anos venho mantendo os meus livros de horas, com desenhos, textos, observações, pensamentos, manchas de tinta, e às vezes, nothing at all.
Neste blog, postarei as minhas "horas" de acordo com o vento, com as estações e segundo minhas preces...
Há 10 anos venho mantendo os meus livros de horas, com desenhos, textos, observações, pensamentos, manchas de tinta, e às vezes, nothing at all.
Neste blog, postarei as minhas "horas" de acordo com o vento, com as estações e segundo minhas preces...
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