31.3.04

Espaços do Tédio

No Village Voice, um artigo sobre um fotógrafo que retrata consultórios de psicanalistas, em exposição em NY. O autor do artigo diz que é um trabalho interessante pois nos dá uma visão de espaços que não são frequentados pela maioria das pessoas. Esses consultórios geralmente exibem objetos de arte e antiguidades, assim como Freud tinha dentro do seu consultório em Viena. Talvez esses objetos sirvam para evocar memórias e percepções sem que o paciente faça um grande esforço. Esses consultórios na verdade são espaços muito pessoais. A qualidade da foto em si parece de importância secundária.

Me chamou a atenção porque tenho uma série de trabalhos fotográficos chamada "Espaços do Tédio". São espaços urbanos impessoais e neutralizantes como salas de espera de consultório, repartições públicas, saguões de hotel, consultórios médicos e veterinários, foyer de universidades, estações de metrô, vagões de trem, museus, praças de alimentação de shopping, salas de reunião, etc. São espaços onde a ação é limitada apenas à espera, que é um convite ao tédio. O resultado final indica que seja um estudo tipológico dessa não-arquitetura que mesmo com elementos físicos recorrentes (iluminação fuorescente, carpetes cinzentos) dificilmente é uma tipologia interessante. Mas é atual. A maioria deles reside em meu fotolog.

Lendo os textos do meu amigo LLL sobre a Escola Urbana na literatura, aquela escola a que os romances de Chico Buarque pertencem com personagens urbanos e anônimos que vagam pelas cidades sem rumo definido e que vivem atormentados por um passado amorfo. Será que estaria eu fazendo uma "Escola Urbana" na arte contemporânea? Não seria esse mais um clichê, um maneirismo atual?