"A comunicação por telefone celular tornou-se quase impossível entre 9h e o meio-dia devido à enorme quantidade de pessoas que buscavam contato com parentes ou amigos que utilizavam as linhas férreas atingidas. Membros das equipes de socorro contaram, impressionados, que celulares de várias vítimas tocaram quando seus corpos eram removidos para um necrotério improvisado num pavilhão de exposições."
Imagem horripilante.
Se o celular é um instrumento que uma hora pode salvar a vida de alguém, em outro momento pode também ser o anúncio de uma morte premeditada. Aquela musiquinha polifônica e alegre se torna um elo entre os mortos e os vivos.
Essa imagem é de uma poesia mórbida e incrível, mesmo em meio ao terror. E notem a ironia entre esse necrotério improvisado ser dentro de um pavilhão de "exposições", transformando toda a cena em obra de arte acidental.
Esse tipo de evento cataclísmico na nossa civilização vive muito além do nosso imaginário. É um tipo de realismo que somos incapazes de imaginar, e impossível de recriar com a mesma magnitude. O máximo que conseguimos imaginar são simulações do evento, do fato, alimentado pelas imagens no telejornal. Os efeitos especiais de "Nova Iorque Sitiada" ou do "Inferno da Torre" são simulações infantis comparados às cenas verídicas do WTC, por exemplo. Acredito que não temos estrutura mental suficiente para entender um evento deste tipo, não entendemos a bomba de Hiroshima, não entendemos WTC, e não entendemos Madrid. POrtanto não conseguimos reproduzir esta intensidade na nossa arte.
Se formos olhar a arte da guerra, podemos dizer que Pollock explodiu nos seus quadros junto com a bomba H. Mas na arte contemporânea não existiu um fenômeno, a cabeça de um gênio que conseguiu traduzir a angústia dos nossos tempos e trazê-la ao nosso entendimento.
Esta obra de arte acidental, ironia do destino, conseguiu.
THE POLIPHONIC POETRY OF TERROR
In the Brazilian news today, on the Madrid bombings:
"Cell phone communication became almost impossible between 9 a.m. and noon on Thursday due to large number of people trying to contact their relatives or friends who were possibly in the trains struck by the bombings. Members of the Rescue team told, in awe, that cell phones owned by several victims rang while their bodies were being removed to a makeshift morgue in the city's sprawling exposition center".
What a horrific image.
If at one moment a cell phone could be an instrument to save somebody's life, at another moment its ringing can be the announcement of a premeditated death. Those happy polyphonic ring tones suddenly become a link between the living and the dead. Their last breath.
This image is one of morbid and incredible poetry in the midst of terror and rubble. Note the irony of the makeshift morgue being made inside an "exposition center" making the whole scene become an accidental art exhibit.
Thihs kind of cataclysmic event in our civilization is well beyond the power of imagination. It's a kind of realism that we cannot fathom and much less recreate with the magnitude of effect. The most we can do, with our limitations is to simulate situations and imagine what the bombings were like with the help of the TV shots. Special effects such as in "NY under siege" and "Tower Inferno" are childish musings on reality if compared to the live WTC images. I don't think we have the necessary mental structure to understand the H bomb, WTC, or Madrid. Therefore, it is impossible to interpret these events and translate them into art, so as to help comprehend these events. Whatever is created will always de less than reality.
If we look at the art of war, we can say that Pollock exploded in his paintings along with the Hiroshima bombings. But in contemporary I cannot think of a phenomenon, or a genius, who was able to translate the anguish and grievances of contemporary time so that we may bring these events to a level of comprehension.
This accidental and deathly installation, with the cell phones ringing from inside the body bags, is the first such "arrangement" that tells it all. By destiny or irony. Or both.