30.3.04

O pós-contemporâneo

Lendo no Fotosite, artigo sobre Arthur Omar, um artista brasileiro multimídia, que define um pouco os novos rumos da arte comtemporânea:

"Não trabalho sobre a desconstrução da linguagem fotográfica, isso é muito "contemporâneo" e acho que estamos entrando numa era pós-contemporânea. O contemporâneo está muito ligado a uma desconstrução, negação, ausência.(...), hoje acho que vivemos um outro momento da tecnologia e das comunicações. Meu trabalho é uma tentativa de contribuir para a reconstrução do objeto e das significações. "

Nos últimos posts iniciei uma discussão sobre a morte na arte, mas acredito que não é mais a destruição ou a morte que a definem como um todo, ao contrário do que se tem visto por aí. As notícias no telejornal já dão conta da destruição e do excesso de realidade. Eu particularmente sou partidária de uma nova vertente "construtiva" na arte, pois acredito que assim a arte passa a ter mais amplitude para discutir novas questões para um novo entendimento de um mundo que muda muito rapidamente. Gosto particularmente do termo "pós-contemporâneo", pois nos liberta um pouco do conceitualismo e do minimalismo dos anos 60 e 70 que criou um vocabulário visual e uma visualidade muito forte até hoje. (Pra não dizer que Hélio Oiticica ainda vive entre nós artistas brasileiros como uma grande sombra irredutível).

Arthur Omar continua: "O figurativismo, o retrato, a paisagem, podem adquirir hoje um sentido radicalmente outro, principalmente quando certa estética contemporânea se torna um novo clichê."

Acho que a "certa estética contemporânea" a que Omar se refere é a dominação dessa vertente pós-minimal-conceitual que nos assombra. Tudo muito limpinho, sofisticado, bem emoldurado, o desenho é quase arquitetônico, pouca expressividade, muita poética pretensa e pouco conteúdo real, muito ilustrativa, e pouco interpretativa. Sinto falta de ver a mão do artista. Não falta verve, mas de certa forma é uma presença bastante quieta e cerebral. Pouco coração. Mas talvez esses sejam os tempos.

E isso só o tempo nos ajuda a entender.