Há tempos não vou a uma exposição de arte contemporânea e saio com uma impressão positivado que está sendo feito nas artes nos dias de hoje. A exposição no MAM do Rio de Janeiro, que mostra as obras recentemente adquiridas pela coleção Gilberto Chateaubriand me proporcionou isso. E fiquei feliz.
A minha tendência é sempre atacar as obras com o meu cinismo e incredulidade. Mas isso acontece porque as vezes não me dou a chance para realmente ver um trabalho como ele é, mas como ele seria segundo as minhas pré-concepções. Esse é um exercício que recomendo a todos, de distanciar a sua não-crença.
Com a minha não-crença suspensa momentaneamente, passeei pelas galerias do MAM por mais ou menos 2 horas, realmente tomando o tempo de olhar cada trabalho. Antes de começar estabeleci duas condições: só ia ler a legenda da obra somente se realmente gostasse do trabalho, e ia me permitir "entrar na onda" do artista o máximo possível e assim olhar todos os trabalhos com plena atenção.
Isso porque tenho mania de ler a legenda antes de ver a obra, o que faz parecer que o nome ou renome do artista seja mais importante para mim do que a obra em si. Isso me poupa pensamentos do tipo, "só é bom porque foi fulano que fez", ou, "é uma merda porque tudo o que o cara faz é uma merda". Se leio a legenda depois de ver a obra, fico grata de conhecer um novo artista que nunca ouvi falar, ou de confirmar a reputação de um outro mais conhecido. Quando se trata de uma artista que eu já conheça, posso enfim traçar um paralelo entre outras obras do cara e assim entender um pouco mais sobre a trajetória do artista. E isso me faz discorrer sobre a evolução de uma obra, da evolução do processo criativo de um artista, e acho isso precioso.
A segunda condição é algo em que acredito e procuro exercer porque no dia em que uma obra minha for parar num museu, gostaria que as pessoas dedicassem a mesma dose de respeito à minha obra que eu dedico à dos outros. E assim, também, afasto a minha irrelevante opinião e começo a acionar um tipo de pensamento crítico mais afastado, menos poluído pelas minhas crenças, e mais embasado nos fatos da própria obra. Isto é uma maneira de não projetar na obra as minhas idéias e memórias ultra-pessoais, de não projetar em cima da obra a minha formação artística. Sim, é uma forma de olhar arte de forma mais técnica, mas como sou artista também, faço questão de não ter o olhar de um mero espectador, quero olhar a obra além do valor de uso da obra e vê-la num contexto mais amplo. Mas isto não impede que eu não me surpreenda de primeira. O primeiro olhar é sempre o mais fresco, e a primeira impressão ou o fator surpresa, como dizia Clement Greenberg, é o que aciona o olhar para as camadas de significado mais profundas de um determinado trabalho.
Postas em prática, perambulei pelos trabalhos com um prazer imenso, porque me permiti gostar de quase tudo. Eh claro que um distanciamento crítico me fez ver algumas coisas ruins, como por exemplo, alguns desenhos que são mais representativos do que interpretativos, ou alguns trabalhos de fotografia que achei insossos e gratuitos, do tipo que até minha avozinha saberia fazer melhor.
HOW TO LOOK AT AN ART EXHIBIT
It's been a while since I've been to a contemporary art exhibit and left with a positive impression of the work currently being done in Brazil. The exhibit in the Museu de Arte Moderna in RIo de Janeiro on the recent acquisitions made by the Gilberto Chateaubriand collection gave me that feeling. And that made me happy.
My tendency is to always attack works of art with my cynicism and disbelief. But that usually happens when I don't give a given work a single chance to really look at it, or better, to see it as it should be seen. This is an exercise I recommend to all, to suspend your disbelief.
With my disbelief in temporary suspension, I let myself go during the 2 hours that I spent perusing the gallery, taking all the time in the world to look at each work. Before I began I set 2 conditions: I was only going to read the captions of I really enjoyed the work, and if I really enjoyed the work I was going to let the artist guide my experience and thus pay attention to every detail presented to me.
That's because I usually read the captions before I look at a work of art, and that awful habit influences how that particular work affects me. Not reading captions spares a lot of thoughts like "this is good because Joe Shmo did it", or "this sucks because I hate this artist." If I read the caption after seeing the work, I give myself the chance to be surprised to meet a new artist previously unheard of, or glad to see that another artists is doing really good work. When I already know that artist's work, I can then begin to trace a trajectory and compare it with other works by the same artist. And that makes think about the different strategies different artists are taking, how his/her creative process evolves, and I think that's precious.
The second condition, suspending my disbelief, is something that I try to practice to the utmost, because I wish that, when my own work makes it to the museum, that people will be as generous to my work, as I to theirs. And thus, I also put away my irrelevant opinion and begin to activate some critical thinking away from the muddle of my thoughts, and based on the facts presented by a given work. This is a way of putting aside my own projections and personal memories, and not try to change the work as if I were the author. Yes, it's a more technical and objective way of looking at art, but since I am an artist, and just a common spectator, I need to look at art beyond its use value and see it in a wider context. But this doesn't mean that I can't be surprised or be thrilled by a work of art. The first look is usually the freshest, and the "surprise factor", which Clement Greenberg talks a lot about, is what activates the eye and the mind to look into the additional layers of meaning in an artwork.
Letting my eye de naturally drawn and suspending my disbelief made me look at the show with great pleasure, as it made me enjoy almost every work of art there. Of course, some critical distance made me notice some drawings which were more representational than necessary, and I couldn't help noticing that some photography work was pretty pathetic, of the kind that even my blind 90-year old granny could have done better.