Trabalho como assistente de um pintor carioca muito bom, o Carlos Zilio. O meu trabalho é escanear todas as pinturas e desenhos do arquivo dele, e já devo ter escaneado e tratado mais de 1000 imagens dele no último ano. Com isso aprendo o que significa realmente "construir" uma carreira na arte, como desenvolver um trabalho tanto no sentido plástico tanto quanto no sentido teórico e histórico. Porque a arte faz parte da história do pensamento, e é desta forma que a arte se torna imortal, sobrevivendo às civilizações e às guerras. É por isso que arte não é artesanato, nem vice-versa. A arte é uma grande responsabilidade. São estes vestígios que nos fazem compreender como o homem viveu deste o início dos tempos, e como ele viverá no futuro. Acredito que a arte tenha poder visionário.
Sou tarada por sketchbooks. Um quadro de Velázquez pode ser a experiência mais impressionante, mas me interessa mais ver o rascunho do Las Meninas, pois quero ver e sentir aquele lápis escorregando sobre o papel como se fosse uma extensão da mente. Outro dia, o Zilio me mostrou os sketchbooks dele. Incrível. O pensamento dele se torna explícito, porque são rascunhos e rabiscos feitos sem nenhuma pretensão, com a maior honestidade. Sketchbooks geralmente não têm público, são para uso pessoal e secreto do artista. É o espaço onde o artista pode ser mais sincero, mais propenso a erros, e, portanto, mais humano. Junto com os sketchbooks descobri as correspondências dele com o Iberê Camargo. Tem coisa mais deliciosa do que ler a correspondência entre 2 grandes artistas? Me faz lembrar as cartas de Clarice Lispector a Lúcio Cardoso. Ela está ali, inteira, sem as amarras da composição, sem a edição e o polimento.
Eu vivo para isso.
I work as a studio assistant for a great Brazilian painter, Carlos Zilio. My job consists of scanning all his paintings and drawings and creating a "catalogue raisonné". Even though the work is quite banal, I am learning a lot about how to really build a career as an artist, how to developmy work from an aesthetic as well as a theoretical and historical standpoint. This is based on the belief that art belongs to the history of thinking and not merely the the history of pretty things. This is what makes art immortal and visionary.
I am crazy about sketchbooks, of any kind, size, from anywhere and anytime. A velázquez painting can be the most impressive experience in the world, but I am more taken by a rough sketch of Las Meninas done on a napkin. In a sketch i can feel the hand of the artist nervously sliding that charcoal on the page in such immediacy that I can touch the mind of the artist.
The other day Zilio showed his sketchbooks, which he completely overlooks. They're incredible. I can see how his mind works just by the scribbles -- they're so honest, so direct. Sketchbooks usually don't have the spectator in mind because they are not meant to be read or handled by none other than the artist himself. It's his tool, it's where he keeps his secrets, and his mistakes. Along with sketchbooks, there were letters exchanged between him and Iberê Camargo, a really famous painter in Brazil, already deceased. Is there anything more delicious than revel at every line written between 2 great artists?
This is what I live for.
(Snooping on other's notes.)