7.4.04

Sobre a Moral na Arte (I)

O meu anigo escritor ALexandre Cruz Almeida, do blogLiberal Libertário Libertino está postando uma série de artigos sobre o que é arte hoje em dia. O post de hoje começa assim:

Clinton Boisvert, estudante de arte de 25 anos, espalhou 37 caixas de papelão pelas estações de metrô de Nova Iorque com a palavra FEAR (medo) escrita sobre cada uma delas. O pânico foi tamanho que o metrô foi fechado por várias horas e Boisvert acabou preso.

Isso é arte?


A minha primeira resposta é: sim. Só pelo fato dele propor o projeto enquanto arte já legitima a obra como tal. Depois de Marcel Duchamp, e já fazem quase 100 anos do mictório no museu, fica muito complicado, historicamente, tentar definir o que é arte ou não é. Tudo o que é proposto como arte é arte e ponto final. Só que Duchamp era um homem de idéias complexas e as suas descobertas não eram de fácil assimilação. Uma vez que um elemento (considerado pela maioria) "não-artístico" penetra no sistema de arte, a função desse elemento não tem um fim em si, mas tem um significado em relação à sua antítese, que, nesse caso, seria o elemento considerado "artístico". Em suma, quando existe um elemento estranho no meio da familiaridade, ele revela muito mais sobre familiaridade do que sobre estranheza. deu pra entender?

O Alexandre questiona se podemos ou devemos considerar como arte a instalação do americano confundida com bombas terroristas. Independente do que pensamos ou achamos, ela é uma obra de arte. Isso é definitivo pois foi intencionada como tal. LLL também quer saber se a instalação do americano, por ter causado uma comoção policial deve ser também considerada um ato criminal. Essa é uma discussão muito mais interessante pois aí esbarramos num caldo delicioso de questões morais, políticas, éticas e legais e principalmente na questão da censura e do bom-senso.

Sou da opinião que a instalação do cara não é um crime. Não matou ninguém, não feriu o direito constitucional de ninguém, só foi, talvez, inoportuno por causa de uma conjuntura macropolítica circunstancial depois de 11/9. No fundo, ele está no seu direito de "liberdade de expressão", tão caro aos ianques. Não acredito que o artista tenha feito isso na inocência, acho que ele sabia que aquilo ia revelar a paranóia já latente dos nova-iorquinos, acho que ele só foi ingênuo em não imaginar que os americanos, surtados e histéricos como eles são, fariam disso um caso policial. Realmente, ele foi infeliz, podia ter posto um "disclaimer" em algum lugar da caixa explicando que aquilo era uma instalação de arte, pelo menos iria ter um respaldo legal melhor. Mas se tivesse feito isso, iria ter o mesmo efeito?

(continua amanhã...)