Não consigo me controlar. Todos os dias encontro novos clichês.
13. Tentar definir a arte contemporânea
Artistas novatos gastam o tempo precioso de produção e pesquisa tentando entender como introduzir o look contemporâneo à própria pseudo-obra. Reflexão que é bom, nada.
14. Achar que a questão pessoal é uma questão universal
Nunca vi uma quantidade tão grande de artistas fazerem fotos da própria mãe nua no banheiro, fotografar-se cagando, ou vídeo-arte de gente faxinando a própria casa. Ou mostrar o peitinho numa foto ruim. Ok, todo mundo já viu a mãe nua, todo mundo caga, e todo mundo limpa a casa, mas só faz sentido se tiver um sentido universal por trás, além da própria ação mundana.
15. Deslumbramento com os gringos e com o exterior
Eu acho a arte brasileira tão boa, que às vezes fico perplexa com certas atitudes que vejo por aqui. Outro dia assisti a uma palestra do crítico inglês Guy Brett que conhece muito bem nossa arte contemporânea desde HO e Lygia Clark até Cildo, Waltercio, etc... No final da palestra, na seção de perguntas e respostas, as perguntas começavam sempre com um "estou muito emocionada de saber que o sr. gosta de arte brasileira....", e ao invés de fazer uma pergunta, ficam discursando durante 2 minutos intermináveis, e antes do cara ter tempo pra reagir, dão o disclaimer "não sei se isso é uma pergunta, mas...". Conclusão, a sessão de p&r nunca rende por causa deles malas emotivos com necessidade de exteriorizar suas emoções como se estivessem numa sessão de terapia em grupo.
16. Muito Bacana!
Tem coisa mais comum e medíocre do que chamar o trabalho de um artista de "bacana"? Isso é quase pior do que dizer para um artista que o trabalho dele é interessante. Talvez isso aconteça porque ninguém entende nada mesmo então diz qualquer coisa.
17. Neologismos
O único neologista que eu respeito na arte brasileira é o Hélio Oiticica. É claro que todo mundo pode dar uma de HO ou Guimarães Rosa, mas é que está demais. Canso de receber convites com nomes de exposições como "Super(im)posições", "transcinemas", "eksperimento", etc... Pode até fazer sentido pra obra do artista, mas e tão pretensioso....
18. Favela Chic
Me disseram outro dia que há ainda no Brasil um resquício dos tempos da ditadura nas nossas artes. Tudo o que é espontâneo e popular é uma expressão de resistência e de liberdade em relação ao sistema e tudo o que é sistemático e metódico ou vinculado a uma tradição é associado à repressão. Detalhe: saímos da ditadura há 20 anos, mas a arte, não.
19. Papagaios e Tucanos
Me irritam os gringos que vêm aqui achando que vão nos encontrar pintando papagaios, goiabas e coqueiros nos parques da cidade.
20. Uso incansável da espátula
A espátula é algo fantástico para se misturar tinta com o solvente, mas quando o quadro é só feito de espatuladas, é de matar.
21. Aversão ao computador
Sete entre 10 pessoas-artistas para quem mostro meu trabalho de net-art me dizem, antes de olhar o trabalho, que não entendem nada de computador e que mal sabem passar e-mail. E depois me olham como se fosse um animal estranho.
22. Sujinhos e cabeludinhos
Tomo banho todo dia. Gosto de me cuidar e de me vestir com certo estilo. Gosto de não ser baranga. Conheço uma penca de artistas que se cuidam, mas a turma de sujinhos e cabeludinhos enchem o saco por achar que o artista tem que ter um certo ar de "desprendimento". Na Escola de Belas Artes essa questão parece ser especialmente importante, pois uma amiga minha sofreu rechaço de um professor por ter pintado as unhas. No meu mundo, sujeira é porcaria e não excentricidade.