2.5.04

Batendo o pé

Não gosto de sectarismos tanto quanto não gosto de imitadores e plagiadores. Não gosto também de quem espera que artistas jovens pintem como os impressionistas porque isso é o que consideram arte. Achar que a única pintura que existe foi a impressionista é um desejo secreto de que o tempo não mude e não avance ou simplesmente não querer enfrentar o medo que se sente quando não se entende nada.
Gosto menos ainda dos teóricos-over que tentam racionalizar qualquer tentativa que um artista tem de expressar a sua visão.

Escrevo sobre o que observo com olhos mais ou menos tendenciosos.

Quando foi a última vez que você ficou mais de 1 minuto diante de um quadro?

E aí você vai a uma exposição para ver se os seus olhos ainda têm a capacidade de pensar em apenas olhar uma forma. Procura o estranho ou o familiar?

O que vejo é um sistema de arte reduzido, perverso, e esquizofrênico que ora age como uma meritocracia ora como oligarquia.

Galeristas esnobes, artistas medíocres mas bons-de-papo, outros artistas maravilhosos mas que não sabem se vender. É um jogo de interesse mútuo em que o valor da novidade ou de mercado é o que dá as cartas. Numa exposição, os custos de mídia são infinitamente superiores ao custo de produção das obras. É uma inversão de valores onde o relato é maior do que o fato.

A arte vive de seu passado, mas opera de acordo com o seu futuro. Todos queremos que a arte nos elucide o incompreensível e o intangível, mas ao ver algo novo, ora temos uma reação de repulsa, se não temos o aparato para entender a próxima revolução, ora nos libertamos porque encontramos algo novo. Arte é isso, o encontro com a invenção e com o não-usual, o não-esperado. Todo o resto é imitação.

Pouco me importa se este "novo" de que falo seja em forma de meias de nylon enroladas na cabeça ou uma singela pinturinha despretensiosa. O que nos resta nessa sociedade tecnocrata é encontrar as brechas no sistema para o espírito e o inesperado, como se fôssemos hackers ou bugs que paralisam o firewall por alguns instantes, para depois as coisas retomarem o seu fluxo "normal" (o que quer que seja ).