6.5.04

Lygia Pape

A arte brasileira acaba de perder uma grande estrela. Nascida em 1929, em Nova Friburgo, Lygia Pape faleceu no dia 4 de maio, às 18:30, justamente durante o eclipse lunar.

Me identificava com ela embora nunca tenha conhecido-a pessoalmente. Existe um livrinho maravilhoso que consiste de 60 páginas com uma longa entrevista com ela onde narra a história de sua carreira desde o concretismo até seu papel na formação do movimento neo-concreto e por todas as fases (e eram muitas!) que passou até os dias de hoje. E como era uma mulher muito inteligene e perspicaz, a entrevista é uma delícia de leitura.

Lygia nunca fez concessões com seu trabalho. Concretizava suas visões que ora podiam ser em pintura ora em instalações, vídeos, objetos. Enfim, fez de tudo um pouco além de ser exímia programadora visual, que aliás era a forma como ganhava a vida, dado que a rejeição ao seu trabalho artístico não lhe permitiu muita penetração no mercado de artes. (Pra quem não sabe, é dela a autoria da identidade visual de todos os biscoitos Piraquê, uma forma de trazer o neo-concreto para o nosso cotidiano...)

Foi só quando Mário Pedrosa a descobriu que todos começaram a levá-la a sério. Também pudera, enquanto todos os homens de sua geração exibiam obras pertencentes a uma trajetória linear e concisa, Lygia atirava para todos os lados, e logo, não conseguia-se ler a sua obra de forma contínua. Poucos viram, de início, que se tratava de uma artista multi-disciplinar que transcendia todos os meios em que se metia. E isso para um meio dominado por homens, tanto os artistas quanto os críticos, era sinônimo de diletância ou de loucura.

Quem não se lembra da instalação "Carandiru" de 2002, em que construiu uma cascata de água vermelha representando o sangue dos 111 prisioneiros derramando no antigo presídio dentro do Centro de Artes Hélio Oiticica? E os balés neo-concretos, em que formas de dança geométricas se coordenavam com sons de música experimental? E as "Ttéias", sublimes esculturas feitas com fios de ouro? Pois é, essa era Lygia, sempre uma nova revelação, e sempre uma surpresa. Por fim, Lygia também fazia livros como o "Livro da Criação" sem texto ou palavra, só imagens ou recortes.

Lygia Pape's work represents the permanent desire, often realized, of constant transformation," said Rio de Janeiro gallery owner Jean Boghici, who represented the artist. Leia o artigo todo.

Amén.