11.5.04

Nem uma folha-de-parreira resolve

Até nos dias de hoje, em pleno terceiro milênio, artistas sofrem com todo tipo de censura.

A notícia recente na BBC, A Northern Ireland council has been accused of censorship after full frontal nude drawings were left out of an art exhibition sobre a censura de desenhos que exibiam desenhos de nus frontais não é coisa de hoje. A artista britânica Alison Lambert iria expor 8 desenhos grandes de corpos humanos, e acabou somente deixando os nus não-frontais, tendo que substituir os 4 nus frontais com outros desenhos mais antigos.

Pra começar, os desenhos foram censurados na Irlanda do Norte, que , como se sabe, é ultra-católico. O que a Higher Bridges Gallery alega é que as obras não são consideradas de conteúdo apropriado para crianças. O Vaticano, no período da Renascença, mandava que pintassem folhas de parreira em cima das genitálias de todos os Adãos e Evas, Davis, e assim, pintores medíocres pegavam um pincelzinho e saíam por Roma inteira pintando folhas de parreira para esconder "as vergonhas"que não tinham nada a ver com o estilo do quadro ou afresco. Podia ser Giotto, Michelangelo, Da Vinci, Botticelli, tanto faz. Era pra esconder e pronto e hoje, centenas de restauradores são contratados para apagá-las e restaurar as obras a seu "estado" original.

Mas esse caso da Irlanda do Norte é pior porque simplesmente vetaram as obras sem negociar uma folha-de-parreira sequer. E isso em plena era tecnológica em que qualquer criança ou adolescente assiste a Britney Spears e Madonna na televisão praticamente semi-nuas, sem falar nas pronografias vistas pela Internet e outras "interferências" da mídia. É mais do que hipócrita impôr uma sanção dessas a qualquer artista, muito menos impôr uma sanção destas ao público.



Podemos alegar que a Higher Bridges Gallery tem direito de expor o que quiser e selecionar os artistas que lhe derem vontade. O que ela não pode fazer é, uma vez que aceite expôr obras de um artista, chegar nos 45 minutos do 2o. tempo e vetar trabalhos alegando uma questão moralista à revelia do artista, pois a galeria aparentemente devolveu as 4 obras "censuradas" pouco antes da abertura, não deixando à artista a opção de não participar. Resultado, consumou-se a censura e teve que repensar toda a mostra com outros desenhos que pouco tinham a ver com a intenção da mostra. No meu país, isso chama-se rompimento de contrato passível de processo.

A ironia é que a mesma exposição, completa com os nus frontais (que, diga-se de passagem não têm nada de pornográficos), teria sido muito bem aceita, por crianças inclusive, na Inglaterra. A artista alega que os desenhos mostram a fragilidade humana, e acredito nela. E são lindos.

É aquela velha guerra santa insolúvel....

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