24.5.04

Redundâncias e Coincidências (ii) - Michelangelo e a aula de anatomia

Li na Época desta semana uma matéria muito intrigante, O Código Michelangelo sobre um médico que encontrou inúmeras referências à anatomia "escondidas" nas composições dos afrescos da Capela Sistina, de Michelangelo.


"A semelhança entre o corte do crânio e a cena da Criação do Mundo já tinha sido estudada, mas não a linguagem do olhar dos anjos..."

A ligação da arte com a medicina sempre foi muito estreita. Um médico e um artista têm em comum uma acuidade de observação e de pensamento abstrato, pois da mesma forma em que um médico precisa saber visualizar a estrutura de células invisíveis a olho nu, um artista precisa de um olhar atento para traduzir o que vê e o que imagina em termos plásticos. É sabido que os grandes pintores da renascença dissecavam corpos afim de saber desenhar a figura humana com mais precisão, mais anatomicamente. O interessante desse estudo é que este médico, e outros antes dele, encontraram similaridades não só em como os corpos eram desenhados, mas em como algumas estruturas ósseas e orgânicas refletem na composição de um afresco de Michelangelo, com bastante precisão.


No afresco A Criação de Eva, ocultam-se um segmento da árvore brônquica (no detalhe) e a peça anatômica do pulmão esquerdo, fielmente reproduzida no manto.

Trecho do artigo:

..."Ao dissecar um cadáver e deparar com um corte de arco aórtico idêntico ao que vira na Sistina - inclusive com as artérias coronárias esquerda e direita -, imaginou que Michelangelo houvesse usado a peça anatômica como evocação figurativa. Afinal, os renascentistas eram fascinados pela anatomia humana e brincavam com as formas. Gilson concluiu a especialização em cirurgia de cabeça e pescoço. Nesse ínterim, colecionou livros sobre Michelangelo. Em 1990, leu um artigo sobre a descoberta do médico americano Frank Meshberger. Ele demonstrava que, na cena central da Sistina, a famosa A Criação de Adão, o manto de Deus representava um corte sagital do crânio e o cérebro nele contido. No hospital em que trabalha, em Campinas, Gilson passou a usar o afresco para ilustrar suas aulas de cirurgia. Em 2001, o médico leu outro artigo, do nefrologista americano Garabed Eknoyan, o qual demonstrava que Michelangelo pintara um fígado no manto de Deus no painel A Criação de Eva....

Leia mais em O Código Michelangelo

3 comments:

  1. Anonymous8:57 am

    Realmente muito interessante. Meio "O Pêndulo de Focault", ou seja, uma tentativa desenfreada de provar uma grande conspiração com códigos escondidos através da cultura.

    Este tipo de similaridade acontece a toda hora e não só na arte. O que dizer das escavadeiras que lembram imensos insetos? Dos viadutos e ruas urbanas, grandes artérias com hemáceas rodando pra lá e pra cá? O que dizer da semelhança do nosso próprio planeta e uma pequena célula?

    Tudo é filtrado pela realidade primata ( primária? ) à qual estamos submetidos. Um ser feito de pedra, que viesse de plutão, nos veria como uma interessante cadeia de carbono...mas...com muita água ao redor. Para seres que não tivessem audição, nossa voz seria uma interessante mímica facial. Para aqueles que não soubessem filtrar a luz e codificá-la nos mesmos tons que os nossos, as próprias telas citadas, seriam, de repente um outro código mais complexo, ou então, papel para embrulhar peixe.

    Este mesmo peixe não entende como alguém consegue respirar fora d´água e não ser um golfinho. Esse último, com um cérebro muito mais desenvolvido que o nosso, deve ficar irritado em ter que simular piruetas afetadas para comer um peixe ou outro.

    Enfim, interpretações e interpelações entre significados e significantes, entre códigos e cantigas.

    Se Michellangelo sabia o qu estava fazendo? Claro que sim. O passado era muito moderno. Nós é que paramos no tempo.

    Ressalva: essa linha do blog: arteXVida...está perfeita.

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  2. ah, mmrl, mas aí é que está, a cultura é toda feita de símbolos, mensagens subliminares e conceitos "escondidos". A arte abstrata meio que implodiu a cultura nesse sentido, mas por outro lado nos deu uma consciência estrutural das imagens sem os adornos. é similar a essa arquitetura funcionalista que não tem adorno nenhum, só se estrutura. e isso, em si, é beleza também e cria novos símbolos....

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  3. Anonymous12:14 pm

    Houve a época em que pintores eram verdadeiros anatomistas além de matemáticos, e tiveram de desenvolver toda a técnica; criatividade, tentativa e trabalho braçal estavam juntos em uma obra. Acho que eram tempos de mais valor para o artista. Sei que é conservador, mas estes tempos de arte extremamente subjetiva, permite muita obra displicente com aura de prima. Quanto ao assunto do texto, acho que querem transformar coincidência em fato. Naldinho, Singrando.
    PS: não entendi, tenho de me cadstrar no blogger para me identificar no comentário?

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