23.4.04

Sobre a necessidade da razão na arte

Um amigo meu leu os meus Clichês sobre arte contemporânea e me achou muito racional. Outras pessoas olham para minha arte e acham que ela vem do cérebro, e pouco das entranhas ou do coração.

Me pergunto se isso é um problema, se o excesso de razão é um problema para o artista já que ele lida mais com a emoção. Mas acho esse negócio de emoção meio esotérico, meio clichê. Meio como achar que um artista não tem sentido de vida prática, não tem lógica no cérebro, já que ele é pura emoção. Acho que nos sub- ou super-estimam nesse aspecto. Um sapateiro e um açougueiro podem ter mais em comum do que 2 pintores.

Mas para mim arte é razão. A arte é um ato consciente, um ato essencialmente homo sapiens, não tem como dissociar a arte da razão, mesmo que ela atinja o lado subjetivo das coisas. Arte é emoção também, mas para saber atingir a emoção nos outros, o artista precisa saber como fazê-lo objetivamente. Para isso tem história, experiência, cultura, para dar ao artista subsídio para recriar em tinta, ferro, argila, luz ou pixel, o que só o coração ou as entranhas podem sentir.

As pessoas esperam que o artista lhes mostre o inexplicável, o intangível, aquela qualidade sublime que um simples mortal não saberia expressar. Eu gosto de arte com opinião, porque é só com opinião que ela vale a pena. Se não tiver opinião vira ilustração ou cópia, invariavelmente.

Escrever sobre arte é razão pura. O outro extremo seria a criação visual pura, sem texto, sem explicação, daquele tipo "uma imagem vale por mil palavras". Mas tem certas questões em que as palavras são mais eficientes, mais completas, e principalmente, mais baratas.

Este é um dilema para qualquer artista, de qualquer arte: como encontrar o equilíbrio entre a razão e o coração?